A Filosofia oferece uma prática de questionamento sobre o mundo e as coisas, os modos de ser e sobre nós mesmos, com perguntas do tipo: por que as coisas são como são, ou como nos parecem ser? O que leva as pessoas a fazerem o que fazem e como fazem? Será que o que percebo é realmente o que me parece?
Além de questionamento, a filosofia é também uma ação, pois quando nos questionamos percebemos novas possibilidades de entender o mundo, os seres, as coisas e a nós mesmos, assim passamos a agir de maneira diferenciada. O ato de filosofar implica em refletir sobre as coisas do modo como nos aparecem, para repensar sobre elas e encontrar novas perspectivas.
A história da filosofia costuma ser dividida em quatro grandes períodos: a Filosofia Antiga (séc. VII a.C. à V d.C.), a Filosofia Medieval (séc. V à XV), a Filosofia Moderna (séc. XVI à XVIII) e a Filosofia Contemporânea (séc. XIX à atual). Esses períodos possuem um caráter didático, e se referem a produção filosófica ocidental, sobretudo da Europa.
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Filosofia Antiga
Período: do surgimento das primeiras cidades na Grécia Antiga até a queda do Império Romano, aproximadamente entre o século VII a.C. ao século V d.C.
Contexto histórico:
- Antiguidade Clássica;
- Surgimento das Pólis (cidades-estado);
- Sociedades escravistas;
- Politeísmo;
- Democracia em Atenas (Grécia);
- Início da filosofia nas cidades gregas;
- República de Roma;
- Nascimento de Jesus Cristo;
- Invasões Bárbaras.
Correntes de pensamento:
- Mitologia: histórias sobre a origem do mundo, dos valores e da moralidade;
- Pré-Socráticos: estudo da natureza (physis), suas mudanças e transformações;
- Sofistas: relações humanas e políticas, discurso, relatividade e argumentação;
- Socrático: questões éticas, valores morais, dialética, dúvida e maiêutica;
- Platônico: mundo sensível X mundo das ideias, busca de verdades essenciais;
- Aristotélico: metafísica, lógica, ato e potência, teoria das quatro causas;
- Estoicismo: filosofia ética que busca viver conforme a razão universal;
- Epicurismo: busca de prazeres moderados como meio de evitar as dores;
- Ceticismo: coloca em dúvida todas as teorias, questionamento generalizado;
- Cinismo: desprezo pelos valores da sociedade, viver conforme a natureza;
- Ecletismo: entende que a verdade não se limita a apenas um sistema filosófico.
Características:
- Tentativa de compreender a realidade sem o uso das histórias míticas;
- A Filosofia Antiga é caracterizada por uma diversidade de concepções;
- No início da filosofia não há uma primazia da razão, mas das experiências;
- Experiências sensoriais, reflexões e da geometria como estudo da natureza;
- Diversidades de concepções sobre o mundo, os seres e as transformações;
- Início do uso da razão e da lógica como meio de entender a realidade;
- Conceitualização da filosofia como atividade racional para alcançar verdades;
- Separação do mundo real e do mundo ideal, sendo o ideal como verdadeiro;
- Desvalorização das experiências sensoriais e da percepção individual.
Alguns dos principais filósofos:
- Tales de Mileto (624-546 a.C.)
- Pitágoras de Samos (580-500 a.C.)
- Heráclito de Éfeso (535-475 a.C.)
- Anaxágoras (500-428 a.C.)
- Protágoras de Abdera (480-410 a.C.)
- Sócrates (469-399 a.C.)
- Demócrito de Abdera (460-360 a.C.)
- Platão (427-347 a.C.)
- Aristóteles (384-322 a.C.)
- Pirro de Elis (360-270 a.C.)
- Epicuro de Samos (341-270 a.C.)
- Zenão de Cítio (336-264 a.C.)
Filosofia Medieval
Período: da queda do Império Romano no ocidente até a queda de Constantinopla, aproximadamente entre o século V ao século XV.
Contexto histórico:
- Ascensão do catolicismo e da Igreja Católica no ocidente;
- A crença na fé passa a ser tida como o caminho para a verdade;
- O cristianismo vai se propagando a muitos povos e regiões;
- Feudalismo: organização social dividida em rei, clero, nobreza e servos.
- Hierarquia: divisão social e econômica de forma hierarquizada
- Período de guerras, conflitos, fome e epidemias;
- Cruzadas: movimentos militares de inspiração cristã para a terra santa;
- Inquisição: grupo de cristãos para combater todo tipo de heresia;
- Cavaleiros nobres que lutavam em defesa da Igreja e seus ideais;
- Surgimento da Burguesia com o início do desenvolvimento comercial;
Correntes de pensamento:
- Neoplatonismo: síntese da filosofia de Platão com elementos místicos;
- Cristianismo: crença num único e Deus, a Bíblia é a fonte de verdade;
- Patrística: ideais dos padres da Igreja Católica que defendem o cristianismo;
- Escolástica: sistematização do cristianismo pela interpretação de Aristóteles;
- Nominalismo: as essências não existem em si mesmas, são apenas convenções;
- Conceitualismo: os universais são conceitos que existem somente no espírito;
- Realismo moderado: realidades singulares se aproximam da abstração universal;
- Escolástica tomista: busca da harmonia entre o aristotelismo e o cristianismo.
Características:
- Influências da Filosofia Clássica (Platão e Aristóteles);
- Tentativa de estabelecer união entre a razão e a fé;
- Crença numa única verdade, sendo a fé do catolicismo;
- O conhecimento filosófico não pode contrariar os preceitos da Igreja;
- Crença num único criador do mundo e na imortalidade da alma;
- Concepção racional das verdades a partir da fé religiosa;
- Supremacia do espírito sobre o corpo, desprezo do corpo;
- Aquele que deixa o corpo governar a alma é tido como pecador;
- A liberdade era vista como harmonia das ações com a vontade de Deus;
- É preciso crer para compreender, por conta do peso da fé sobre a razão;
- A filosofia se mantêm confinada apenas nos mosteiros.
Alguns dos principais filósofos:
- Santo Ambrósio (340-397)
- Santo Agostinho (354-430)
- Avicena (980-1037)
- Pedro Abelardo (1079-1142)
- Santo Anselmo (1033-1109)
- Averróis (1126-1198)
- São Tomás de Aquino (1225-1274)
- Alberto Magno (1196-1280)
- Rogério Bacon (1214-1294)
- Guilherme de Ockham (1285-1347)
- João Duns Escoto (1266-1308)
Filosofia Moderna
Período: da queda de Constantinopla até a Revolução Francesa, aproximadamente entre o século XVI ao século XVIII.
Contexto histórico:
- Antropocentrismo: o homem passa a ser visto como o centro do universo;
- Renascimento Cultural: retorno à sabedoria clássica dos gregos;
- Reforma Protestante: protesto contra diversos pontos da doutrina Católica;
- Surgimento da imprensa: criação de um veículo de comunicação coletivo;
- Absolutismo: teoria política onde uma pessoa detém o poder absoluto;
- Desenvolvimento do comércio: ampliação das relações comerciais;
- Grandes Navegações: encontro do novo mundo, o continente americano;
- Produções Artísticas: tendo como referência às artes greco-romanas.
Correntes de pensamento:
- Dualismo: entende o ser humano dividido entre pensamento e corpo;
- Idealismo: prioriza o ser pensante e o pensamento em oposição à matéria;
- Racionalismo: a razão como princípio e único meio de alcançar as verdades;
- Cartesianismo: busca da verdade pela evidência, análise, síntese e enumeração;
- Humanismo: valorização do ser humano como um ser “naturalmente bom”;
- Empirismo: o conhecimento parte da experiência sensorial, e não pela razão;
- Iluminismo: razão como caminho para a liberdade e felicidade, contrário à fé;
- Liberalismo: defesa da liberdade individual e econômica;
- Criticismo: questionamento sobre os limites de nossos conhecimentos;
- Positivismo: crença no conhecimento científico como única fonte da verdade.
Características:
- Valorização da razão e de seu uso como meio de alcançar as verdades;
- Teoria heliocêntrica: a Terra não é mais o centro do universo;
- Busca pela ordem, controle e previsão dos conhecimentos adquiridos;
Criação de um método científico rigoroso por meio de medições; - Entendimento que mente e corpo são substâncias diferentes e separadas;
- Busca por valores e saberes absolutos, universais e generalistas;
- Propostas totalizantes, que abrangem todas as áreas do conhecimento;
- Explicação mecânica e matemática do universo e dos seres;
- Crença da neutralidade do observador ao observar os fatos;
- Olhar objetivo, evitando e suprimindo a intuição e a subjetividade;
- Surgimento do sujeito do conhecimento.
Alguns dos principais filósofos:
- Nicolau Maquiavel (1469-1527)
- Michel de Montaigne (1533-1592)
- Francis Bacon (1561-1626)
- Galileu Galilei (1564-1642)
- René Descartes (1596-1650)
- Blaise Pascal (1623-1662)
- John Locke (1632-1704)
- Baruch Espinoza (1632-1677)
- Isaac Newton (1643-1727)
- David Hume (1711-1776)
- Jean-Jacques Rousseau (1712-1778)
- Immanuel Kant (1724-1804)
- George W. F. Hegel (1770-1831)
Filosofia Contemporânea
Período: da Revolução Francesa até os dias de hoje. Aproximadamente entre o século XIX aos tempos atuais.
Contexto:
- Revolução Francesa: ideais de liberdade, igualdade e fraternidade;
- Revolução Industrial: trabalho assalariado com o uso de máquinas.
- Independências das Américas: os países da América deixam de ser colônias;
- Capitalismo: liberdade de comércio, exploração do trabalho humano;
- Inovações Tecnológicas: locomotiva elétrica, motor gasolina, avião, telefone, etc.
- Romantismo: movimento cultural e artístico que valoriza a subjetividade;
- Guerras Mundiais: experiência da primeira e segunda guerras mundiais;
- Nazismo, Fascismo, Socialismo: diferentes ideologias político-econômicas;
- Conflitos ideológicos: conflitos entre tendências ideológicas direita e esquerda;
- Filosofia e arte pós-moderna: questionamentos e críticas sobre a modernidade;
- Revolução na Informática: desenvolvimento das ciências da informação.
Correntes de pensamento:
- Marxismo: análise socioeconômica por meio das relações de classe e história;
- Existencialismo: estudo sobre a existência humana, liberdade e singularidades;
- Fenomenologia: método de conhecimento por meio da análise dos fenômenos;
- Anarquismo, Socialismo, Comunismo: ideais políticos contrários ao capitalismo;
- Filosofia Analítica: análise da linguagem, do sentido das palavras e expressões;
- Pragmatismo: avaliação dos fenômenos apenas por seus aspectos utilitários;
- Estruturalismo: entendimento da realidade a partir de um sistema elementar;
- Escola de Frankfurt: teoria crítica sobre a sociedade com influências de K. Marx;
- Arqueogenealogia: análise dos saberes e dos discursos sobre a “verdade”;
- Desconstrucionismo: questionamento das “verdades” do pensamento ocidental.
Características:
- Não há mais valores absolutos nem uma única verdade absoluta;
- Compreensão da pluralidade cultural e respeito às diferenças;
- Valorização da experiência pessoal de cada um;
- Rejeição de uma concepção única da realidade, a realidade é múltipla;
- Não aceita o uso de poder por meio de uma suposta “razão”;
- Coexistem diferentes interpretações sobre a realidade e os fenômenos;
- Descrença na ciência para resolver os problemas da humanidade;
- Percepção que não há como confiar apenas na razão;
- Tecnologias como melhorias ou como desumanização;
- Desenvolvimento das Ciências Humanas e Sociais;
- A falta de referências e a crise da subjetividade privada.
Alguns dos principais filósofos:
- Arthur Schopenhauer (1788-1860)
- Sören Kierkegaard (1813-1855)
- Karl Marx (1818-1883)
- Friedrich Nietzsche (1844-1900)
- Ludwig Wittgenstein (1889-1951)
- Martin Heiddeger (1889-1976)
- Theodor Adorno (1903-1969)
- Jean-Paul Sartre (1905-1980)
- Gilles Deleuze (1925-1995)
- Michel Foucault (1926-1984)
- Jacques Derrida (1930-2004)
- Noam Chomsky (1928-)
- Jürgen Habermas (1929-)
Por Bruno Carrasco, terapeuta, professor e pesquisador, graduado em Psicologia, licenciado em Filosofia e Pedagogia, pós-graduado em Ensino de Filosofia, Psicoterapia Fenomenológico Existencial e Aconselhamento Filosófico. Nos últimos anos se dedica a pesquisar sobre filosofia da diferença e psicologia crítica.