O que é Existencialismo?


Bathing Man, Edvard Munch (1918)

Existencialismo é uma vertente filosófica que busca compreender a existência humana partindo da própria existência, em seus aspectos concreto, afetivo, histórico e singular, valorizando a liberdade de ser e as singularidades de cada indivíduo.

A palavra "existir" vem do latim 'exsistĕre', que significa ser, estar, manifestar-se, aparecer, emergir, representa o movimento de estar junto às coisas do mundo. O existencialismo entende que a existência vem antes da essência, ou seja, não há uma essência que determine o modo como cada pessoa irá se tornar, mas cada um se constitui por meio de sua experiência no mundo.

Entende que toda pessoa é livre para fazer escolhas, e estamos escolhendo a todo momento. Essa condição nos gera angústia existencial, pois cada escolha irá refletir na pessoa que vamos nos tornar. A angústia é uma consequência da liberdade, dessa ampla possibilidade de escolher e nos tornar responsáveis pelas escolhas que fazemos.

O existencialismo se diferencia da filosofia racionalista, da metafísica e do positivismo científico, pois não valoriza apenas a razão, não busca compreender elementos inconscientes e não pretende alcançar uma verdade única e objetiva sobre os modos de ser. Acredita que atribuímos diferentes significados às nossas experiências, e que não somos apenas seres racionais, mas também afetivos.

Um dos principais representantes do existencialismo foi o filósofo francês Jean-Paul Sartre (1905-1980), que sintetizou os principais conceitos desta vertente filosófica. Outros filósofos também importantes são Sören Kierkegaard (1813-1855) e Friedrich Nietzsche (1844-1900), considerados pré-existencialistas, e Martin Heidegger (1889-1976), que apesar de não se denominar existencialista influenciou consideravelmente essa filosofia.


Alguns princípios do existencialismo:

  • Não há uma essência que nos defina;
  • Todos somos livres para fazer escolhas;
  • Somos responsáveis por nossas escolhas;
  • Estamos em constante transformação;
  • Cada pessoa é um ser único e singular;
  • Coexistem diversos modos de ser e existir;
  • Experimentamos a vida a partir dos afetos.


Início


A reflexão sobre a existência gera questionamentos desde a Grécia Antiga, porém essas questões se desenvolveram mais intensamente durante os séculos XIX e XX, tendo como principais representantes os filósofos Kierkegaard, Nietzsche, Sartre e Heidegger e os escritores Dostoiévsky, Tolstói, Oscar Wilde, Hermann Hesse, Fernando Pessoa, entre outros. Cada um deles desenvolvendo suas próprias reflexões sobre a existência humana.

O filósofo dinamarquês Sören Kierkegaard (1813-1855) percebeu que a existência humana é muito mais complexa do que teorias e abstrações sobre ela, acreditando ser impossível um sistema racional explicar e dar conta da totalidade do ser humano, pois o ser humano é muito mais do que qualquer teoria sobre ele.

Segundo Kierkegaard, não há como classificar uma pessoa em sistemas explicativos, pois eles acabam a reduzir sua descrição, deixando de lado diversos aspectos que fazem parte da pessoa. Classificar é rotular, de certo modo desconsidera a singularidade de cada ser. Para ele, o significado da existência não está em teorias e abstrações, mas na própria existência.


Singularidade


O existencialismo é um conjunto de reflexões filosóficas e literárias sobre a existência humana, em seu aspecto concreto e singular. Concreto, no sentido de se opor a teorias abstratas e idealizações, e singular por valorizar a pessoa em seu modo de ser particular.

Seus principais valores são a liberdade de escolha, o reconhecimento das emoções e o respeito às diferenças. A liberdade de escolhas refere-se ao fato de que todos somos livres para fazer escolhas a todo momento, e o respeito às diferenças é a compreensão da liberdade do outro em fazer suas próprias escolhas.

Enquanto reflexão filosófica não pretende explicar o ser humano ou classificar as pessoas buscando o que elas têm de igual às outras, mas compreender cada ser em sua singularidade, valorizando seus modos de ser.


A existência precede a essência


Um dos princípios do existencialismo pode ser resumido na frase de Jean-Paul Sartre (1905-1980), ”a existência precede a essência”, ou seja, não somos definidos por uma essência prévia. Cada pessoa primeiramente existe, surge no mundo, faz escolhas, para somente depois desenvolver a sua essência. Essa concepção contraria a ideia de essência como algo que vem antes do ser.

Para Sartre, a existência vem antes da essência, pois é construída por meio das escolhas que cada um faz em sua vida. Não existe uma essência que vai definir previamente o que cada pessoa vai se tornar, somos livres para fazer escolhas e nos tornaremos o reflexo das escolhas que fizermos.

Há uma grande diferença entre as coisas e os seres. As coisas são feitas para um fim, elas possuem uma essência, ou seja, um celular é fabricado pensando qual será sua função. Já o ser humano não, ele surge no mundo e escolhe o que vai fazer de sua vida por meio de suas experiências, não há como saber o que cada pessoa irá se tornar antes dela existir.


Estamos em constante transformação


Nós não somos algo pronto, estático, mas estamos sempre em transformação. Somos resultado das condições que estamos inseridos, mas também escolhemos nossa vida. Somos seres relacionais, estamos nos relacionando com outras pessoas, objetos e espaços a todo momento.

Cada pessoa se constrói por meio das relações que estabelece com as outras, não como um ajuste (no sentido de “adaptação ao meio”), nem como uma fatalidade (no sentido de “eu nasci assim e serei sempre assim”), mas como uma inter-relação.


Contradições e conflitos


O fato de nos relacionar com outras pessoas implica em lidar com conflitos. Como somos diferentes e possuímos distintos valores e concepções, o relacionamento inevitavelmente nos gera conflitos, que são possibilidades de compreender melhor a nós mesmos e os outros.

Experimentamos diversas contradições diariamente, entre elas ser quem somos e tentar ser quem desejamos ser, ou ser quem desejamos ser e conviver com pessoas que não querem que sejamos como desejamos ser. Estamos sempre entre o que já fomos e o que desejamos ser.


Liberdade para fazer escolhas


Somos livres para fazer escolhas, e por sermos livres somos também responsáveis pelas escolhas que fazemos. Isso não significa que o mundo não interfira em nossas escolhas, mas nós sempre podemos escolher o que fazer com o que o mundo fez de nós.

Somos resultado e criadores de nossos modos de ser. Quando fazemos escolhas deixamos de lado algumas possibilidades para abrir espaço a novas experiências. Estamos sempre nos inventando e nos reinventando.

Os modos de ser, o que valorizamos e o que desprezamos, não estão aí para serem seguidos, somos nós que escolhemos seguir, e podemos também não seguir ou criar novos modos. Não estamos no mundo para nos ajustar a ele, podemos escolher o que valorizamos em nossa existência.

Cada escolha que fazemos nos leva a um caminho e nos traz novas possibilidades de ser, de nos relacionar com os outros e com o mundo. Não há como saber a consequência de cada escolha antes de fazê-la. Existir é arriscado e inseguro, nosso futuro é incerto, e por mais que a gente se previna, não há como ter certeza de como será.

Escolher a todo instante é angustiante, pois cada escolha que fizermos vai refletir no que vamos nos tornar. Estamos sempre nos construindo e nos reconstruindo, ajustando nossos projetos de ser com as condições e circunstâncias onde estamos inseridos.


Filosofia de ação!


O existencialismo é uma filosofia de ação, que coloca cada pessoa como responsável por se fazer a si mesma, que reflete sobre temas como: a liberdade, as incertezas, a angústia, a finitude, a morte, a solidão, o sentido da vida, a transcendência, entre outros.



Por Bruno Carrasco.