A Ordem do Discurso (L'Ordre du discours) é um livro que reproduz a aula inaugural ministrada por Michel Foucault ao assumir a cátedra vacante no Collège de France, em 1970.
Este livro pode ser considerado em relação a outras obras da década de 1960, como História da loucura, As Palavras e as coisas, A Arqueologia do saber, centradas predominantemente na análise das condições de possibilidade das ciências humanas.
O discurso está na ordem das leis, que há muito tempo se cuida de sua aparição.
Suponho que em toda sociedade a produção do discurso é ao mesmo tempo controlada, selecionada, organizada e redistribuída por certo número de procedimentos que têm por função conjurar seus poderes e perigos, dominar seu acontecimento aleatório, esquivar sua pesada e terrível materialidade.
O discurso não é simplesmente aquilo que traduz as lutas ou os sistemas de dominação, mas aquilo por que, pelo que se luta, o poder do qual nos queremos apoderar.
Existe em nossa sociedade outro princípio de exclusão. Desde a alta Idade Média, o louco é aquele cujo discurso não pode circular como o dos outros; pode ser que sua palavra seja considerada nula e não seja acolhida, não tendo verdade nem importância, não podendo testemunhar na justiça, não podendo autenticar um ato ou um contrato.
O discurso verdadeiro, era o discurso pronunciado por quem de direito e conforme o ritual requerido, era o discurso que pronunciava a justiça e atribuia a cada qual sua parte.
Aparição de novas formas de vontade de verdade. Creio que essa vontade de verdade assim apoiada sobre um suporte e uma distribuição institucional tende a exercer sobre os outros discursos - uma espécie de pressão e como que um poder de coerção.
Uma mesma e única obra literária pode dar lugar, simultaneamente, a tipos de discurso bem diferentes.
O novo não está no que é dito, mas no acontecimento de sua volta.
Uma disciplina não é a soma de tudo o que pode ser dito de verdadeiro sobre alguma coisa; não é nem mesmo o conjunto de tudo o que pode ser aceito, a propósito de um mesmo dado, em virtude de um princípio de coerência ou de sistematicidade. Qualquer disciplina, é feita tanto de erros como de acertos.
A disciplina é um princípio de controle da produção do discurso.
A doutrina questiona os enunciados a partir dos sentidos que falam, na medida em que a doutrina vale sempre como o sinal, a manifestação e o instrumento de uma pertença prévia; a doutrina liga os indivíduos a certos tipos de enunciação e lhes proíbe, consequentemente, todos os outros.
A doutrina realiza uma dupla sujeição: dos sujeitos que falam aos discursos e dos discursos ao grupo, ao menos virtual, dos indivíduos que falam.
Todo sistema de educação é uma maneira política de manter ou de modificar a apropriação dos discursos, com os saberes e os poderes que eles trazem consigo.
O discurso nada mais é do que a reverberação de uma verdade nascendo diante de seus próprios olhos; e, quando tudo pode, enfim, tomar a forma de discurso, quando tudo pode ser dito e o discurso pode ser dito a propósito de tudo, isso se dá porque todas as coisas, tendo manifestado e intercambiado seu sentido, podem voltar à interioridade silenciosa da consciência de si.
O discurso nada mais é do que um jogo, da escritura, no primeiro caso, de leitura, no segundo, de troca, no terceiro, e essa troca, essa leitura e essa escritura jamais põem em jogo senão os signos. O discurso se anula, assim, em sua realidade inscrevendo-se na ordem do significante.
Fonte:
FOUCAULT, Michel. A ORDEM DO DISCURSO. São Paulo: Loyola, 1996.