O filósofo e psiquiatra alemão Karl Jaspers abandonou o método tradicional pelo fenomenológico, que se traduz nesta constância jaspersiana de superar o rompimento sujeito-objeto, que impede a compreensão do homem a nível psicológico.
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Sua Psicologia das Concepções do Mundo superou a distinção sano-enfermo. As manifestações psicológicas já não são reduzidas somente as suas causas e sim compreendidas por participação afetiva, que considerou como reveladora de modos essenciais, onde uma existência recebe, projeta e transforma o mundo. A construção do mundo que encontramos no neurótico ou no psicótico pode ser descrito nele tanto como sano ou enfermo, só pode ser sobre a base de sua visão do mundo e não da nossa.
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Para uma Psico(pato)logia Fenomenológica, tanto o homem sano como o enfermo pertencem ao mesmo mundo, ainda que alienado o homem desde um modelo perceptivo e comportamental, onde a diferença não tem mais o significado de uma dis - função, e sim simplesmente é a função de uma certa estruturação presencial: é um certo modo de intencionar um mundo, um certo modo de ser - no - mundo e de projetar, contudo, um mundo. As formas psicóticas não se reduzem a meros sintomas nem síndromes (psicopatologia clássica) e sim ameaças inseparáveis a toda existência humana. Evita-se assim impor à existência, uma estrutura teórica que lhe é alheia, para deixar que ela mesma se manifeste, se faça fenômeno. O que aparece já não serão carências ou excessos e sim modos de ser, próprios de um certo modo da existência estruturar-se. Já não se privilegia um mundo (sano) sobre outro (enfermo), mas se consideram os modos específicos de constituir-se os mundos das diversas formas de alienação mental.
Fonte:
“Corpo e Existência”, Maria Lucrecia Rovaletti.