Hoje vi uma frase "não se desespere, tudo tem uma razão", achei curioso como representa um pensamento racionalista, como se o fato das coisas terem uma razão nos evite o desespero. Oras, pensar que "tudo tem uma razão", como um meio de não nos desesperarmos, por acaso nos faz sentir mais tranquilos, calmos ou confortáveis?
No meu ver, acreditar nisso não difere muito de uma crença, quando usada como meio de se sentir seguro em meio ao caos que é o mundo. Parece-nos difícil aceitar que as coisas não tem razão em si, que o céu não tem razão, que a chuva não tem razão, que o trânsito não tem razão, mas somos nós que damos razão as coisas.
Mas, antes de darmos razão, há uma captação das coisas por meio dos sentidos. Primeiramente a gente percebe uma coisa (observa, sente ou toca), para somente depois nomear e classificar ela. Não há como nomear o que não percebemos, ou o que está fora do alcance de nossa percepção, como escreveu Nietzsche "não se tem ouvido para aquilo que não se tem acesso a partir da experiência."
Mas, antes de darmos razão, há uma captação das coisas por meio dos sentidos. Primeiramente a gente percebe uma coisa (observa, sente ou toca), para somente depois nomear e classificar ela. Não há como nomear o que não percebemos, ou o que está fora do alcance de nossa percepção, como escreveu Nietzsche "não se tem ouvido para aquilo que não se tem acesso a partir da experiência."
Eu trocaria a frase do início por "se desespere, nada tem uma razão, mas você pode dar a razão que quiser para as coisas", visto que a razão que aprendemos é histórica e geográfica, ou seja, ela muda de acordo com o tempo e o espaço, não é a mesma razão que os gregos antigos usavam, nem a que se tinha no Tibete na década de 1920, por exemplo.
Talvez por isso as abordagens em psicoterapia mais científicas e focadas no comportamento também falham. Elas partem do pressuposto de que o comportamento é regido pela cognição, porém antes da cognição há a captação sensorial. O modo como percebemos as coisas depende de nossa relação com elas, da cultura onde estamos inseridos, de nossas experiências subjetivas, além de uma série de fatores que uma análise comportamental ignora.
As classificações e racionalizações que fazemos depois podem, inclusive, ir contra nós. Quando classificamos, passamos a interpretar as coisas por meio das classificações que fizemos sobre elas, assim podemos deixar de perceber o novo que aparece em outro momento, pois passamos a valorizar mais a razão do que a experiência, mais a classificação do que os sentidos.
Ao invés de olharmos para a coisa com olhar novo, curioso, disposto a ver o que está aparecendo, preferimos nos ater em nossas seguranças das classificações prévias, ficamos lá em nossa "zona de conforto racional". E é aí que está o risco, de deixar de perceber o que está debaixo de nosso nariz, citando Nietzsche novamente, para finalizar, "as convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras."
Por Bruno Carrasco.