A angústia no sentido existencial


A angústia é uma sensação muito intensa, que nos coloca diante de nossa própria existência, de nossa dificuldade de fazer escolhas, de nossas frustrações e dores de existir.

Apesar de ser vista por muitas pessoas como algo ruim ou doentio, é um sentimento que faz parte da condição humana, e que nos coloca realmente presentes diante do que estamos vivendo num dado momento.

Na concepção existencialista, a angústia não é um sentimento negativo, mas uma experiência valiosa que ocorre quando tomamos consciência de nossa liberdade de escolhas ou de nosso vazio existencial.

Em diversos momentos nos sentimos angustiados, seja perante o absurdo da existência, seja quando percebemos que não há como reviver o passado que já foi ou um futuro que ainda não chegou, ou quando nos percebemos como responsáveis pelas escolhas que fazemos em nossa vida, e que, mesmo não escolhendo já é estamos a escolher...

Se decidimos não fazer escolhas, transferimos a nossa decisão para outras pessoas, e não deixamos de ser responsáveis por delegar a outros a nossa escolha. Para o filósofo dinamarquês, Sören Kierkegaard, a angústia surge do fato de não escolhermos ou de deixar que outra pessoa escolha por nós a nossa própria vida.

Quando não fazemos escolhas em nossa vida, seguimos o caminho escolhido por outra(s) pessoa(s). O preço que pagamos é a negação da nossa própria existência ou de nossas possibilidades de escolher ela por conta própria.

A angústia é inevitável, seja quando nos deparamos numa situação desagradável e queremos mudar mas sentimos receio do novo, ou quando escolhemos mudar e não sabemos como lidar com a nova situação. De todo modo, a angústia é um importante momento para conhecer sobre nós mesmos, de uma maneira mais profunda, pois nos coloca diante do nosso problema de existir.

O fato de estarmos no mundo, nos relacionar com os outros, lidar com pessoas com valores diferentes dos nossos, com outros modos de entender e levar a vida, pode nos gerar uma sensação de angústia, seja por tentar ajustá-la aos nossos modos de ser ou por tentar evitar quando ela tenta nos ajustar aos seus modos.

As frustrações e decepções fazem parte de nossa vida, é atravessando situações difíceis que nos desenvolvemos pessoalmente. Se não encaramos as nossas dificuldades, diminuímos nossa capacidade de lidar com a vida.

Ver o tempo passar e perceber que não estamos realizando nossas possibilidades existenciais pode nos gerar angústia ou tédio. Se não lidamos com as angústias, elas podem se transformar em neuroses e bloquear o fluir da vida, nos fazendo sentir impedidos e travados.

De todos os modos, a angústia nos solicita uma ação, é defrontar com a realidade que está em nossa frente, com o que está acontecendo debaixo de nosso nariz, e não uma evitação ou fuga. Evitar uma situação não resolve ela e nos deixa menos dispostos para lidar com situações parecidas no futuro, a pessoa que evita sua angústia está evitando a si mesma.

Mas, isso nem sempre é fácil e pode parecer muito ameaçador. Colocar para fora o que estamos sentindo pode ser um meio de compreender melhor nossa angústia, seja escrevendo, fazendo arte ou terapia existencial, de modo a compreender melhor e permitir que o sentimento siga, ao invés de impedi-lo, para que nós também possamos seguir.


Por Bruno Carrasco.
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