Estamos acostumados a pensar que devemos sempre evitar nosso sofrimento emocional, pois sofrer é "ruim". Nossa cultura se esforça todo tempo para promover, cada vez mais, meios para não sofrer, controlar a ansiedade e evitar a dor.
Porém, na concepção existencialista, o sofrimento é uma condição da existência humana, tal como a alegria ou o amor. O sofrimento é um sentimento que atravessamos em alguns momentos de nossa vida, e o que temos a fazer é perceber e lidar com ele, ao invés de tentarmos evitar.
Porém, na concepção existencialista, o sofrimento é uma condição da existência humana, tal como a alegria ou o amor. O sofrimento é um sentimento que atravessamos em alguns momentos de nossa vida, e o que temos a fazer é perceber e lidar com ele, ao invés de tentarmos evitar.
Mas, por que não evitar o sofrimento? Se o mercado nos oferece uma porção de produtos para suprimir a dor: remédios, antidepressivos e ansiolíticos para não experimentar o sofrimento, técnicas e terapias para suprimir a tristeza, a ansiedade e a depressão...
A questão é que o sofrimento faz parte de nossa vida, todos nós num momento ou outro atravessamos dificuldades e sofremos. Na Grécia Antiga havia a "tragédia grega", um dos gêneros teatrais mais encenados na época, com histórias trágicas e dramáticas derivadas das paixões humanas, os gregos antigos levavam o sofrimento a sério.
Com o desenvolvimento do catolicismo, durante a Idade Média, o sofrimento passou a ser entendido como um caminho para o "reino dos céus", já na Idade Moderna, o sofrimento emocional passou a ser tido como mal, e a razão deveria controlar o corpo, e por meio da razão devemos suprimir a dor.
Hoje entendemos que nossa vida não é feita só de alegrias, pois atravessamos momentos e situações difíceis, inclusive muitas vezes por meio das dificuldades nos desenvolvemos e nos tornamos mais dispostos. Não há como sermos a pessoa que somos hoje, se não tivéssemos superado as dificuldades e os sofrimentos passados.
Toda situação difícil que confrontamos nos exige encontrar meios para lidar com ela, que nos fazem sair do conforto e de nossa estabilidade para resolvê-la, e isso nos possibilita alargar nossa existência e nossas possibilidades de ser no mundo.
O modo como somos hoje é resultado do que vivemos em nosso passado Se aprendemos a lidar com certas dificuldades é porque atravessamos certas dificuldades, foi justamente porque num dado momento sofremos, por vezes até muito, mas transformamos isso em algo melhor para nós mesmos.
Nietzsche foi um filósofo que comentou muito sobre o sofrimento humano, ele acredita que o sofrimento pode ser bom, pois nos possibilita desenvolver a nós mesmos. Porém, a questão não é sofrer e ficar somente sofrendo, mas questionar a si mesmo "-o que faço com este sofrimento?", e agir!
Todo sofrimento tem um sentido, tem relação com o modo como vivemos a nossa própria vida. Por isso, sofrimento precisa ser experimentado, ao invés de ser evitado. Se nos apressamos demais com nossa vida geramos ansiedade, se geramos muita expectativa sobre algo e não acontece como esperado, nos deprimimos.
Perceber o nosso sofrimento e lidar com ele nos possibilita uma expansão de nossa existência. Sofremos porque chegamos nos limites de nossa existência, chegamos no limite do que podemos suportar naquele momento, pois naquele momento não estávamos dispostos a lidar com tal questão.
Quando atravessamos o sofrimento, nos tornamos mais dispostos para lidar com novas situações. E quando evitamos, seja tomando um remédio para não sentir dor, ou tentando não pensar sobre nossas dores de existir, menos experiências teremos para lidar com futuros sofrimentos.
Por Bruno Carrasco.