Diferentes interpretações de cada um


Adquirimos e desenvolvemos diferentes maneiras de interpretar o que vivenciamos, de acordo com nossa história de vida e experiências. Utilizamos essas interpretações como um guia para nossa compreensão de mundo e para as escolhas que fazemos.

Essas diferentes maneiras de interpretar nossas experiências vão, com o tempo, se tornando uma espécie de lente particular, que intermeia nossa relação com as outras pessoas, com os objetos, situações e lugares que frequentamos.

Nem sempre escolhemos conscientemente os motivos para fazer o que fazemos ou pensar como pensamos, pois muitas vezes repetimos os modos de ser das pessoas que convivemos. Vamos agindo tal como aprendemos ou como observamos outras pessoas agir, sem perceber bem o motivo que nos levou a fazer. Nos tornamos algo que não entendemos bem, pois reproduzimos modos de ser, agir e sentir que observamos de outras pessoas.

Quando encontramos pessoas com modos de ser ou agir diferentes dos nossos, o conflito é inevitável. Ele acontece justamente pelo contato com o diferente. Por vezes criticamos o outro, tentamos ajustá-lo aos nossos modos, pois não é fácil compreender o outro como outra pessoa, com hábitos e valores próprios, diferentes dos nossos.

Nossos modos de ser nem sempre estão em sintonia com os modos de ser de outras pessoas e isso não é ruim, representa que cada um tem seu valor e singularidade. A maneira como lidamos com as contradições pode colaborar para nosso desenvolvimento pessoal, pois por meio dos conflitos podemos conhecer outros pontos de vista, ampliando nossa experiência e percepção de mundo.

Se negamos a contradição e evitamos o contato com pessoas que pensam e agem diferente de nós, evitamos a possibilidade de se conceber outras maneiras de ser, nos fechando em nossas próprias certezas ao invés de nos abrir para o novo, diferente ou desconhecido.

Compreender outra pessoa é como fazer uma viagem para um lugar desconhecido, a ser desbravado. Para isso precisamos colocar em dúvida nossas certezas e nos distanciar um pouco de nós mesmos, do que aprendemos e do que acreditamos.

O outro é outro, habita outro corpo e possui diferentes experiências. Não há como ter uma consciência do outro na experiência dele, para isso teríamos que ser o outro e viver suas experiências, o que é impossível. O que temos são apenas interpretações do outro, partindo do que nós conhecemos dele e do que nós temos por experiência.

Observamos o outro sempre partindo de nossa interpretação do outro, associamos o que o outro diz com o que entendemos sobre o que ele diz, de modo que dificilmente alcançamos a compreendê-lo como realmente é, ou seja, como outro ser, diferente de nós, do que somos ou do que pensamos.

"Todo homem toma os limites de seu próprio campo de visão como os limites do mundo."
(Arthur Schopenhauer)

As possibilidades que temos para compreender o que está além de nós são tantas quanto as que temos por conhecimento e experiência. O limite de compreensão do outro são as nossas próprias experiências de vida, não há como compreender mais o outro do que o que temos consciência.

Para nos aproximar do outro como ele é, ou como ele se mostra, precisamos sair um pouco de nós mesmos, nos distanciar de nossos valores e preconceitos, para tentar observar o outro como realmente é, como outro ser.

“Não se tem ouvido para aquilo a que não se tem acesso a partir da experiência.”
(Friedrich Nietzsche)

Cada pessoa interpreta o que escuta e vê partindo de si mesma, sua interpretação de um fato ou de uma situação se torna uma verdade para si. Quando conversamos com outra pessoa colocamos em palavras o que pensamos ou o que sentimos sobre algo de acordo com as nossas interpretações.

Quando vemos ou escutamos algo, tiramos uma opinião de acordo com a nossa percepção, nossas experiências de vida, nossos valores culturais, nossos afetos ou desafetos, inclusive como estamos nos sentindo no momento.


Por Bruno Carrasco.
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