Conhecemos o mundo e as coisas por meio de ideias, teorias e crenças que intermeiam nossa relação com o mundo. Coexistem diversas formas de conhecimento, neste texto veremos algumas delas: o senso comum, o conhecimento científico, o teológico, o filosófico e o artístico.
"A ciência não é o único caminho de acesso ao conhecimento e à verdade."
(Lakatos e Marconi)
Senso Comum
Toda pessoa desenvolve, em sua história de vida, suas ideias sobre o mundo, sobre as coisas e sobre si mesma, partindo da relação que estabelece com as outras pessoas. Nem sempre essas ideias são refletidas, avaliadas ou questionadas. Essas concepções partem de um "senso comum", que é aprendido na convivência com os outros.
Entendemos o mundo e atribuímos explicações ao que no acontece com base nas interpretações e nos juízos de valor que aprendemos com outras pessoas, assim vamos constituindo nosso conhecimento por meio deste senso comum, sem muito questionar seus fundamentos, onde os entendimentos são compartilhados e convencionados entre as pessoas de um grupo social.
O senso comum é uma forma de entender o mundo e as coisas que resulta da experiência de vida individual e coletiva, composto pelos hábitos, costumes, tradições e rituais. Podemos perceber elementos do saber comum nos "ditos" e nos provérbios populares, inclusive nas opiniões de um grupo de pessoas sobre os fatos e situações.
Aprendemos o senso comum por meio da relação com as outras pessoas, essa aprendizagem se torna um regulador de nosso entendimento e de nossa ação. Para a ciência e a filosofia, os argumentos do senso comum são, em grande parte, superficiais e falíveis, e o fato de serem aceitos socialmente não garante que sejam verdadeiros.
Por partir da experiência e das relações com os outros, esta forma de conhecimento de mundo não possui um método. Trata-se de um conhecimento que surge nas relações cotidianas, sendo assim casual, espontâneo e fragmentado, dependendo de juízos pessoais e coletivos a respeito das coisas, com grande envolvimento das emoções e dos valores de quem observa.
Corresponde a crenças sem nenhum critério ou rigor, de forma ametódica e ao acaso, envolvido pelas emoções e restrito por sua experiência vivenciada, elaborando conclusões geralmente carregadas de preconceitos e estereótipos. Os provérbios e os ditados populares são exemplos do conhecimento do senso comum, aquelas frases curtas que sintetizam sabedorias passadas de pessoas a pessoas. Alguns deles possuem rimas para facilitar sua memorização e repetição, e estão presentes em muitas culturas.
"O senso-comum possui um olhar e uma escuta próprios, resistentes a tudo aquilo que o coloca em questão."
(Martin Heidegger)
Conhecimento Teológico
O conhecimento teológico se constitui pela aceitação das explicações por meio da fé, diante do conhecimento revelado. Aquele que manifesta o saber é o revelador, que revela aos homens o mistério divino. Jesus Cristo é um exemplo de transmissor deste conhecimento.
O conhecimento revelado e aceito pela fé constitui essa forma de conhecimento, enquanto um conjunto de verdades que não foram alcançadas por meio da razão, do estudo ou da experiência, mas pela aceitação da revelação e da autoridade divina.
Estes conhecimentos são adquiridos por meio de Livros Sagrados e aceitos pelas pessoas que possuem fé na revelação, entendendo essas verdades reveladas muitas vezes como a única forma de conhecimento válido sobre o mundo, sobre as pessoas, sobre as coisas e as relações.
Por terem sido reveladas, essas verdades são consideradas infalíveis e indiscutíveis. Trata-se de um conhecimento que oferece respostas sobre a origem, o significado, a finalidade e o destino da vida, por meio da obra de um criador divino.
Suas evidências não são verificáveis, pois demandam a atitude de fé para a aceitação. A adesão das pessoas a tais verdades implica num ato de fé, onde o mundo passa a ser interpretado como decorrente de um criador divino, cujas evidências não são postas em dúvida ou questionamento.
Suas evidências não são verificáveis, pois demandam a atitude de fé para a aceitação. A adesão das pessoas a tais verdades implica num ato de fé, onde o mundo passa a ser interpretado como decorrente de um criador divino, cujas evidências não são postas em dúvida ou questionamento.
Conhecimento Científico
O conhecimento científico é uma forma de conhecimento metódico, sistemático, organizado, verificável, objetivo e generalizado. A preocupação do cientista está na descoberta das regularidades contidas em determinados fatos, por isso suas descobertas são generalizadas e expressas pelo meio de leis e teorias.
Segundo o filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.) só conhecemos uma coisa de maneira absoluta quando sabemos qual a causa que a produz e o motivo de sua produção. Para o filósofo e político inglês Francis Bacon (1561-1626), conhecer verdadeiramente, é conhecer pelas causas.
A ciência é, portanto, o conjunto sistemático de proposições rigorosamente demonstradas, constantes e gerais, seus conhecimentos são apoiados na demonstração e na experimentação, de modo que são aceitos apenas os fatos comprovados por meio do método experimental.
Características do conhecimento científico:
- Explicativo: explica os motivos de suas certezas por meio de argumentos indutivos ou dedutivos;
- Generalista: busca conhecer o que há de mais universal e válido para todos as situações da mesma espécie;
- Metódico e sistemático: entende que os seres e os fatos estão ligados entre si por relações específicas e busca explicar esse encadeamento por meio de leis e princípios;
- Objetivo: evita o entendimento por meio da experiência subjetiva, buscando uma neutralidade de entendimento perante os objetos estudados.
A ciência, tal como conhecemos hoje, é relativamente recente, pois somente na Idade Moderna o conhecimento adquiriu um caráter científico tal como utilizamos na atualidade. Porém, desde o início da história humanidade encontramos traços rudimentares de conhecimentos e técnicas que aos poucos foram se tornando mais metódicas.
A revolução científica aconteceu entre os séculos XVI e XVII, com Copérnico, Bacon, Galileu, Descartes, entre outros. O filósofo e matemático francês René Descartes (1596-1650) estabeleceu condições para que possamos obter um conhecimento seguro da realidade. Tudo aquilo que se mostrasse incerto teria que ser analisado a partir do elemento verdadeiro revelado ao final do processo.
Conhecimento Filosófico
O conhecimento filosófico difere do científico tanto em seu objeto de investigação quanto em seu método. O objeto de estudo das ciências são os dados próximos e imediatos, perceptíveis pelos órgãos dos sentidos ou com auxílio de instrumentos específicos, a filosofia nem sempre toma como objeto de estudo objetos perceptíveis pelos sentidos, seus questionamentos muitas vezes ultrapassam as experiências sensíveis.
Tal como a ciência, seu procedimento parte de dados materiais e sensíveis, porém estes dados são levados para além do sensível, possibilitando uma reflexão sobre as coisas percebidas de maneira mais ampla, não apenas objetiva e mensurável, mas de seus pressupostos, suposições e aparições.
A tarefa fundamental da filosofia é a reflexão. Em nossa vida adquirimos conhecimentos de diversas maneiras, a filosofia busca refletir sobre todas elas, colocando em questão e problematizando cada um deles. Filosofar é interrogar os fatos e os problemas que envolvem o ser humano em sua vida concreta, inserido num contexto histórico e geográfico.
Algumas questões da filosofia são, por exemplo: Qual o sentido da vida? Existe algo absoluto? O ser humano será dominado pela técnica? As máquinas poderão substituir as pessoas? O progresso tecnológico é benéfico para a humanidade? Quais os valores de nossa sociedade? O que é o bem?
Algumas questões da filosofia são, por exemplo: Qual o sentido da vida? Existe algo absoluto? O ser humano será dominado pela técnica? As máquinas poderão substituir as pessoas? O progresso tecnológico é benéfico para a humanidade? Quais os valores de nossa sociedade? O que é o bem?
A filosofia não oferece soluções definitivas para a grande parte de suas questões, mas possibilita que as pessoas venham a refletir melhor e perceber mais profundamente os temas aos quais se dedicam, possibilitando reavaliar nossos valores e o modo como entendemos e levamos a vida.
Filosofar é um contínuo interrogar e questionar sobre si mesmo e a realidade. A filosofia não é e nunca será algo feito e acabado, mas uma busca constante de entendimentos, compreensões e interpretações.
Filosofar é um contínuo interrogar e questionar sobre si mesmo e a realidade. A filosofia não é e nunca será algo feito e acabado, mas uma busca constante de entendimentos, compreensões e interpretações.
O ato de filosofar possibilita um questionamento sobre os saberes e uma revisão sobre o que entendemos, colocando em dúvida nosso entendimento de mundo, das pessoas, das ideias e das coisas, para que possamos perceber e compreender de maneira mais aprofundada e ampla. Não há nada mais curioso e aberto do que se questionar sobre o que sabe, ou sobre o que se supõe saber.
"As perguntas em filosofia são mais essenciais que as respostas e cada resposta transforma-se numa nova pergunta."
(Karl Jaspers)
Conhecimento Artístico
A arte é uma forma de conhecimento de mundo intuitivo. O entendimento do mundo não acontece somente por meio de conceitos logicamente organizados, mas também pela intuição e pelas expressões artísticas, que oferecem um conhecimento imediato de forma concreta e individual, que não fala à linguagem da razão, mas ao sentimento e à imaginação.
O conhecimento artístico é, portanto, uma expressão privilegiada de entendimento intuitivo sobre o mundo, tanto para o artista que cria suas obras quanto para o apreciador que se entrega a elas para buscar ou atribuir possíveis sentidos e interpretações. Por meio da intuição o artista cria símbolos de sua experiência de mundo, das formas de vida e das emoções humanas.
O artista intui sobre os objetos ou eventos que lhe acontecem, capta um cenário mais amplo e profundo, sobre o que está além da aparência exterior do mundo. Todo artista percebe, por meio da capacidade seletiva e interpretativa de seus sentidos, formas que não podem ser nomeadas, que não podem ser reduzidas num discurso verbal explicativo, pois precisam ser sentidas ao invés de explicadas.
As obras de arte são objetos sensíveis que representam a experiência de vida intuída pelo artista. Essa apreensão do concreto, do imediato e do vivido, é transportada para a obra de arte que se torna outro objeto a ser assimilado intuitivamente pelo espectador. Quando apreciamos uma obra de arte, fazemos por meio de nossos sentidos, e por meio deles intuímos a vivência que o artista expressou numa captação sobre a experiência humana de vida.
A luz, a cor, a intensidade, o espaço e o volume são percebidos e usados para ampliar o horizonte de nossa experiência sensível, de modo que nossa apreensão de realidade pode ser alterada pela percepção de diferentes usos de cores ou sons, pela organização de um espaço, por uma textura ou uma forma dada a um material.
Trata-se de uma forma de conhecimento de mundo intuitivo que fala mais do sentimento do que da razão, que nos abre perspectivas para que possamos compreender múltiplas possibilidades sobre o mundo e sobre a vida. Ela altera o modo como percebemos a realidade ao apresentar novas percepções possíveis e imagináveis.
A imaginação criativa permite ao artista criar obras sobre o que não existe, ou o que não está aparente, onde o público as recebe preenchendo-as de sentido. Esse sentido será encontrado ou criado por meio do acolhimento da obra pela afetividade, ou seja, deixando que esta afete nossos sentimentos e sensações de mundo.
Por conta isso, o conhecimento que a experiência estética de uma obra nos oferece não se resume ao conhecimento de um objeto, uma pessoa ou uma paisagem, mas de todo um mundo de valores, que possibilita inclusive o conhecimento de nós mesmos e de nossas reações por meio da experiência estética.
Referências:
ARANHA, Maria Lúcia; MARTINS, Maria Helena. Filosofando: Introdução à Filosofia. São Paulo: Moderna, 2009.
COTRIM, G.; FERNANDES, M. Fundamentos da Filosofia. São Paulo: Saraiva, 2013.
OLIVA, Alberto. Filosofia da Ciência. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.
SEVERINO, Antonio J. Metodologia do Trabalho Científico. São Paulo: Cortez, 1996.
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