Filósofos Pluralistas


Os primeiros pensadores do ocidente foram chamados de filósofos da natureza, pois se assombravam com a natureza, e tinham como intuito conhecê-la e compreendê-la. Esses filósofos viveram entre os séculos VII e V a.C., na Grécia Antiga, e buscavam entender o princípio ou origem da natureza.

Eles já não se satisfaziam com as explicações míticas para explicar os fenômenos da natureza, e se dedicavam a observação desta para tentar  compreender partindo de suas manifestações. Alguns destes filósofos entendiam a natureza como una, como se houvesse um elemento comum em toda a natureza, e outros concebiam a natureza como múltipla.

Tales de Mileto, (640-548 a.C.), considerado o primeiro filósofo da Grécia Antiga, acreditava que a água seria o princípio de tudo, pois estava presente em todas as coisas, inclusive na constituição dos seres, distribuída em diferentes quantidades e estados. Alguns seres teriam menor quantidade de água, e outros teriam água em diferentes estados.

Anaxímenes (588-524 a.C.) entendia que o princípio das coisas que existem era o ar, pois dele todas as coisas surgem e nele as coisas se dissolvem. Anaximandro (610-547 a.C.) acreditava que a matéria primordial era indeterminada e ilimitada. Outros filósofos deste períodos tinham como elemento primordial o fogo, a terra, entre outros.

A maioria destes filósofos buscavam um único elemento para descrever toda a natureza, porém, o filósofo Empédocles (493-433 a.C.) acreditava que a natureza e os seres eram compostos pela junção de quatro elementos: terra, a água, o fogo e o ar, sendo formadas por diferentes combinações destes elementos. Para ele as causas do movimento e da mudança eram a força da atração e da repulsão.

"Dupla é a formação das coisas mortais e dupla a sua destruição; pois uma é gerada e destruída pela junção de todas as coisas, a outra é criada e desaparece, quando uma vez mais as coisas se separam. E estas coisas nunca param de mudar continuamente, ora convergindo num todo graças ao Amor, ora separando-se de novo por ação do ódio da Discórdia. Assim, tal como elas aprenderam a tornar-se numa só a partir de muitas, e de novo, quando uma se separa, geram muitas, assim elas nascem e a sua vida não é estável; mas, na medida em que jamais cessam o seu contínuo intercâmbio, assim existem sempre imutáveis no ciclo."
(Empédocles, Fragmento 348. Em: KIRK, G.S.; RAVEN, J.E.; SCHOFIELD, M. Os filósofos pré-socráticos. 6 ed. Lisboa: Fundação Caouste Gulbenkian, 1994.)

Leucipo (470-370 a.C.) foi mestre de Demócrito (460-370 a.C.), eles desenvolveram uma teoria chamada atomismo, segundo eles para haver a mudança e transformação da natureza é preciso partir de algo de permanente e imutável, segundo eles esse elemento seria o átomo, termo que significa "indivisível". Esses átomos seriam pequenas partículas, que não poderiam ser percebidas pelos órgãos dos sentidos, responsáveis pela formação dos seres e de toda a natureza.

Cada coisa que deixasse de existir, sua composição se desfazia, mas seus átomos permaneciam. Deste modo, a aproximação e o distanciamento dos átomos explicariam as transformações da natureza. A concepção desses filósofos influenciou por muito tempo a ciência, sendo conhecidos como materialistas, pois partiam da matéria e se opunham aos filósofos idealistas, que priorizavam o mundo das ideias.

A escola pluralista em filosofia, representada por Empédocles, Anaxágoras, Leucipo e Demócrito, consistia na concepção de que não havia um princípio único que pudesse explicar a natureza, os seres e o universo, entendendo que há uma pluralidade de elementos que, ao se misturarem, formavam a multiplicidade das coisas existentes. Por conta dessa concepção, essa escola filosófica foi chamada de escola "pluralista".

"Não há nascimento para nenhuma das coisas mortais, como não há fim na morte funesta, mas somente composição e dissociação dos elementos compostos: nascimento não é mais do que um nome usado pelos homens."
(Empédocles)

O entendimento de que a natureza possui regras próprias, a compreensão que os seres humanos podem estudar essas regras e que o instrumento desse estudo é a razão e a percepção, são concepções que fazem parte do surgimento da filosofia no ocidente.

Outro autor que pode ser considerado pluralista, bem posterior aos anteriormente citados, foi Friedrich Nietzsche (1844-1900), onde em sua filosofia questionava os valores morais e as concepções de verdade e mentira, entendendo que haviam múltiplas forças envolvidas tanto na criação e no estabelecimento de valores, como também na manutenção de uma ideia de verdade.

"O pluralismo Nietzschiano é uma determinação primordial da realidade, sem dúvida tem comunicações, convergências e confrontações, sem as quais cada perspectiva ficaria fechada em si mesma e se erigiria automaticamente em absoluta, mas ela faz com que a unidade de sobrevoo apareça como uma ficção perniciosa, pois "tudo compreender" seria suprimir todas as relações de perspectiva, seria nada compreender, desconhecer a essência do conhecer. Não existe conhecimento a não ser interpretativo, e não existe interpretação a não ser no plural."
(Jean Granier, em 'Nietzsche', 2009)

Pluralismo é, portanto, uma tendência filosófica que compreende a existência de uma multiplicidade de seres, individuais e autônomos, e que considera o real como múltiplo, irredutível a uma substância ou princípio único.


Por Bruno Carrasco.
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