Admirável Mundo Novo é o título do livro escrito em 1931 pelo inglês Aldous Huxley (1894-1963), uma distopia futurista que descreve uma sociedade organizada num sistema e castas, onde a vontade livre foi abolida pelo condicionamento e pelo controle biológico.
Nesta sociedade, a servidão é aceitável pelo uso de doses regulares de “soma”, uma droga lícita, que produz sensação de felicidade, evitando a dor, o desconforto ou a tristeza. Além disso, os modos de viver em coletividade são propagados durante o sono de cada indivíduo.
Os seres humanos são produzidos em série, com a genética controlada e selecionada, onde e cada um tem seu papel definido na sociedade. Os relacionamentos pessoais serão superficiais e o amor de uma pessoa por outra é banido.
A história se passa num futuro próximo, antecipando ideias sobre tecnologia reprodutiva, condicionamento e manipulação psicológica. Huxley descreve uma sociedade futura totalitária, onde os bebês seriam fabricados por meio de técnica científica, tendo como pilares as ideologias utilitaristas e pragmáticas.
Esse "Admirável Mundo Novo" é uma denúncia ao perigo que ameaça a humanidade, se a tempo não abrirmos os olhos para este "falso progresso". Sobre a falta de ética nos avanços científicos e tecnológicos.
Para alcançar a estabilidade social, as pessoas eram condicionadas a se segue felizes e satisfeitas com o que foi estabelecido para sua vida. Este novo sistema de condicionamento controla o comportamento indesejável pelo reforço do comportamento desejável, por meio de recompensas.
"O controle do comportamento indesejável por intermédio do castigo é menos eficaz, no fim das contas, do que o controle por meio de reforço do comportamento desejável mediante recompensas."Desde o nascimento as pessoas são condicionadas a ficarem longe dos livros. Dessa forma não havia questionamentos sobre o sistema ou conflitos entre as pessoas, evitando o perigo de lerem conteúdos que provocassem questionamentos sobre os deveres que lhes foram impostos.
(Aldous Huxley, em ‘Admirável Mundo Novo’, p.18)
"-Elas crescerão com o que os psicólogos chamavam de um ódio 'instintivo' aos livros."Assim, nada sairia do controle, as pessoas seguiriam passivas, servindo os ideais estabelecidos por um Estado Totalitário. O que importava era o conforto e a felicidade momentânea. Todos eram de todos, não haveria mais vínculos amorosos, pois as intimidades passaram a ser consideradas sufocantes.
(Aldous Huxley, em ‘Admirável Mundo Novo’, p.32)
A promiscuidade era incentivada, para que as pessoas pudessem "curtir o momento", sem sofrer. "Soma" é a droga psicotrópica liberada do futuro, indispensável para as pessoas se abstraírem completamente de suas emoções desconfortantes.
Apenas o personagem "selvagem", resgatado de uma reserva de pré-civilizados, percebe essa condição, pois olhando para eles de fora, tem condições de avaliar a situação dessas pessoas extremamente condicionadas não percebem. Ele se revolta e chega inclusive a tentar "libertá-los" do condicionamento, de uma sociedade hedonista, que busca constantemente o prazer imediato e a evitação da dor.
O mundo relatado pela obra é uma previsão de um futuro onde o domínio técnicas e do saber científico produzem uma sociedade controlada e desumanizada, no uso da ciência e da tecnologia sem reflexão ética sobre os valores que implicam estas transformações.
Será que este nosso novo mundo é assim tão admirável? A quem serve esta civilização que acredita ser funcional e moderna, mas que por meio das técnicas reprime e sacrifica o diferente, aqueles que não se ajustam na rotina de trabalho, consumo, trabalho? Qual o espaço da existência humana e suas excentricidades, numa sociedade contrlada pelas técnicas e controlada pelas máquinas? Como o indivíduo poderá reivindicar sua singularidade e caminhar com seus próprios pés?
"A nossa sociedade ocidental contemporânea, apesar do seu progresso material, intelectual e político, promove cada vez menos a saúde mental e contribui para minar a segurança interior, a felicidade, a razão e a capacidade de amar do indivíduo; tende a transformá-lo num autômato que paga o seu fracasso humano com o aumento das doenças mentais e com o desespero oculto sob um frenesim de trabalho e de pretenso prazer."
(Aldous Huxley, em 'Admirável Mundo Novo')
Por Bruno Carrasco.