O modo como entendemos o ser humano não é o mesmo de tempos atrás, diferentes entendimentos surgiram e se transformaram até chegar na concepção que hoje temos. Neste texto veremos brevemente algumas das diversas compreensões sobre o ser humano no decorrer da história ocidental.
Por volta dos séculos VII e VI a.C., na Grécia Antiga, os primeiros filósofos gregos não se questionavam muito sobre o conceito de pessoa humana, os chamados filósofos pré-socráticos se interessavam mais pela origem do universo e transformação das coisas e dos seres.
A partir do século V a.C., com Sócrates e Platão, se inicia o entendimento do ser humano como um ser racional, que se diferencia dos animais por sua característica por sua possibilidade do pensamento abstrato. Aristóteles, por volta do século III a.C., descreveu a pessoa como um “animal político”, que se difere dos outros animais por sua racionalidade e por sua vivência em sociedade.
Os filósofos gregos desenvolveram um entendimento sobre o ser humano como um ser ideal e universal, deixando de lado as características individuais, singulares ou concretas. Depois deles temos as elaborações dos primeiros teólogos cristãos, com base no platonismo e no neoplatonismo.
No início da Idade Média, os teólogos cristãos descreveram a pessoa como hipostasis e prosopopon. A hipostasis significa algo que está mais no fundo, como que um alicerce, essa palavra foi traduzida depois pelo termo essentia, que significa "essência", as características metafísicas de cada ser humano. Já o termo prosopopon, seria como que uma "máscara", que esconde a verdadeira essência de cada pessoa.
Por volta do século XI, os pensadores cristãos entendiam que a racionalidade é algo espiritual e só pode fazer parte da alma. E a alma não pode vir da matéria por sua característica imaterial, portanto não possui relação com as condições biológicas de cada um, podendo ser estabelecida unicamente por Deus, a vida passa a ser vista como algo sagrado.
Já no século XVII, com René Descartes (1596-1650), se inicia um novo conceito de pessoa, entendendo esta como o sujeito do conhecimento, um ser que existe porque pensa, de acordo com sua frase, “penso, logo existo”. Volta-se, portanto, a valorizar a razão não somente como característica, mas como fundamento do ser humano.
No século XVIII, Immanuel Kant, propôs uma definição de pessoa em termos éticos, com base na autonomia, onde cada pessoa é ao mesmo tempo legislador e súdito de si. A prática ética corresponde ao controle que a razão estabelece sobre as emoções.
No século XX, o conceito de pessoa foi repensado por alguns autores, na tentativa de recuperar a singularidade, a concretude e a complexidade de cada ser humano.
As filosofias da existência e a fenomenologia elaboraram uma definição da pessoa como uma existência em processo, um “vir-a-ser”, que nega a concepção metafísica de que a “essência” seja a denominadora da existência. Passa a entender que o ser humano se constrói na relação com o mundo, e não com base em algo anterior a esta relação.
As filosofias da existência e a fenomenologia elaboraram uma definição da pessoa como uma existência em processo, um “vir-a-ser”, que nega a concepção metafísica de que a “essência” seja a denominadora da existência. Passa a entender que o ser humano se constrói na relação com o mundo, e não com base em algo anterior a esta relação.
Deste modo, o ser humano passa a ser entendido como uma existência concreta, temporal e singular, sempre em processo e que desdobra sempre em novas possibilidades.
Referência:
BETIOLI, Antonio. Bioética: a ética da vida. 2ed. São Paulo: LTr, 2015.
Por Bruno Carrasco.
Referência:
BETIOLI, Antonio. Bioética: a ética da vida. 2ed. São Paulo: LTr, 2015.
Por Bruno Carrasco.