Terapia na orientação não-diretiva


A relação terapêutica, na perspectiva da orientação não-diretiva, acontece numa prática onde a própria pessoa em atendimento orienta o caminho da terapia, ao invés do terapeuta. Não tem como foco apenas as dificuldades que a pessoa esteja atravessando, mas tomar contato com a pessoa como um todo.

Quando uma pessoa comunica suas questões e dilemas, ela oferece uma oportunidade de revelar sobre si mesma, suas dores, vivências e percepções, possibilitando tomar um contato mais ampliado sobre suas experiências. Cada dificuldade que uma pessoa traz corresponde a uma expressão de um traço existencial dela.

Quando classificamos suas questões em conceitos como "ansiedade", "estresse" ou "depressão", limitamos o contato com a experiência existencial da pessoa a uma classificação sobre sua experiência. Mais importante que isso é se aproximar da experiência própria de cada indivíduo, criando condições para que perceba seus dilemas a partir de si mesmo.

"A apresentação da dificuldade se torna uma oportunidade para o indivíduo revelar-se um pouco mais a si mesmo, entrando num processo de conhecer-se melhor."
(Franz Victor Rudio, em 'Orientação não-diretiva')

Quando possibilitamos condições favoráveis para o indivíduo perceber e lidar com os obstáculos que está atravessando, que impedem o fluir de sua vida, incentivamos a sua autopercepção e sua autonomia, habilitando que o próprio indivíduo se perceba e avalie suas questões, ao invés do terapeuta.

Não há como ajudar uma pessoa apenas classificando ela em definições clínicas, agindo assim estaremos rejeitando a pessoa enquanto um ser complexo em processo, em constante transformação. Todas as dificuldades que uma pessoa vivencia acontecem em sua experiência de vida, em sua relação consigo mesma ou com os outros.

Conforme a pessoa é escutada em seus modos de ser, sem julgamentos, ela passa a se perceber de maneira autêntica, se comunicando consigo mesma, desenvolvendo uma compreensão mais ampla sobre si. Isso é muito mais terapêutico do que qualquer classificação, pois permite que se perceba e estabeleça contato com sua existência, com seus modos de ser, sentir, agir e reagir às diferentes situações.

Quando não nos percebemos, nos comunicamos mal internamente, pois não nos damos conta do que estamos a sentir e do modo como somos afetados por nossas experiências, por consequência disso a nossa comunicação com os outros também fica prejudicada.

Uma boa comunicação consigo mesmo consiste num processo que envolve perceber e compreender nossas experiências sentidas, sejam elas amor ou ódio, alegria ou tristeza, satisfação ou raiva, surpresa ou decepção. Assim podemos comunicar nossas experiências do modo como sentimos ao terapeuta e à outras pessoas, de maneira autêntica.

Para que isso se torne possível, é necessário um relacionamento terapêutico permissivo, de modo que a pessoa possa se mostrar como realmente é, e como gostaria de se tornar, comunicando o que realmente sente, sem necessidade de esconder-se em "máscaras" ou "fachadas", para parecer algo que não é.

Com essa abertura por parte do terapeuta, a pessoa passa a se avaliar por si mesma, do modo como realmente sente, e não do modo como é vista pelos olhares dos outros, tornando-se cada vez mais confiante consigo mesma e desenvolvendo sua maturidade psíquica.

"O terapeuta não diretivo é de fato um acompanhante, um companheiro de jornada. Deve criar condições favoráveis para o cliente descobrir o caminho e percorrê-lo por si. Mas, realmente, o terapeuta só descobre a caminhada à medida que o cliente o faz, pois, durante a entrevista, a sua única referência é o processo que se desenvolve no quadro interior do cliente."
(Franz Victor Rudio, em 'Orientação não-diretiva')

O terapeuta não diretivo entende que não é a outra pessoa, que não está no lugar do outro. Por isso, está interessado em deixar a pessoa viver sua experiência, a fim de aprender por si mesma, fazendo suas descobertas, seguindo o seu próprio ritmo e caminho, encontrando as soluções que lhe pareçam mais adequadas, de acordo com suas próprias avaliações.



Referência:
RUDIO, Franz Victor. Orientação Não-Diretiva. Petrópolis: Vozes, 2003.
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