Michel Foucault (1926-1984) foi um filósofo francês que se dedicou principalmente ao estudo do sujeito, em especial sobre como se torna sujeito, o que transforma a pessoa, e os elementos que envolvem a existência de uma pessoa.
Sua filosofia é dividida em períodos, que envolvem temas dos quais ele mais se dedicou, entre eles o saber, o poder e a sexualidade. Ele foi um grande estudioso de filosofia e psicologia, tendo lido Karl Marx, Friedrich Nietzsche, Edmund Husserl, Martin Heidegger, Louis Althusser, Georges Canguilhem, Pierre Hadot, Sigmund Freud, Gaston Bachelard, Jacques Lacan, entre outros.
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"Onde há poder, há resistência".
(em 'História da Sexualidade: A Vontade de Saber')
"Não me pergunte quem sou e não me peça para permanecer o mesmo."
"O homem é uma invenção recente, e talvez seu fim esteja próximo."
(em 'As palavras e as coisas')
"O novo não está no que é dito, mas no acontecimento de sua volta."
(em 'A ordem do discurso')
"As 'luzes' que descobriram as liberdades inventaram também as disciplinas."
(em 'Vigiar e punir')
"Nunca a psicologia poderá dizer a verdade sobre a loucura, já que é esta que detém a verdade da psicologia."
(em 'Doença mental e psicologia')
"Nas civilizações sem barcos, a espionagem substitui a aventura e a polícia substitui os piratas."
(em 'Estética: Literatura e Pintura, Música e Cinema')
"Foi numa época relativamente recente que o Ocidente concedeu à loucura um status de doença mental."
(em 'Doença mental e psicologia')
"A 'psicologia' é somente uma fina película na superfície do mundo ético no qual o homem moderno busca sua verdade — e a perde."
(em 'Doença mental e psicologia')
"O principal interesse na vida e no trabalho é tornar-se alguém que você não era no início. Se você soubesse quando começou um livro, o que você diria no final, você acha que teria coragem de escrevê-lo? (...) O jogo vale a pena na medida em que não sabemos qual será o fim."
(em entrevista de 1982)
"A partir da ideia que o indivíduo não nos é dado, acho que há apenas uma consequência prática: temos que criar a nós mesmos como uma obra de arte."
(em 'Sobre a Genealogia da Ética: uma visão do trabalho em andamento', pp. 41-70, Em: ESCOBAR, C. H..(org.), O Dossier, últimas entrevistas, Taurus, Rio de Janeiro, 1984)
"Devemos não somente nos defender, mas também nos afirmar, e nos afirmar não somente enquanto identidades, mas enquanto força criativa."
"Não poderia a vida de todos se transformar em uma obra de arte? Por que deveria uma lâmpada ou uma casa ser um objeto de arte, e não a nossa vida?"
"Todo sistema de educação é uma maneira política de manter ou de modificar a apropriação dos discursos, com os saberes e os poderes que eles trazem consigo."
"Tomando uma cronologia relativamente curta e um recorte geográfico restrito — a cultura européia desde o século XVI — pode-se estar seguro de que o homem é aí uma invenção recente."
(em 'As palavras e as coisas')
"A disciplina aumenta as forças do corpo (em termos econômicos de utilidade) e diminui essas mesmas forças (em termos políticos de obediência)."
(em 'Vigiar e punir')
"Entre todas as outras formas de ilusão, a loucura traça um dos caminhos da dúvida mais frequentados pelo século XVI. Nunca se tem certeza de não estar sonhando, nunca existe uma certeza de não ser louco."
(em 'História da Loucura na Idade Clássica')
"O que não é regulado para a geração ou por ela transfigurado não possui eira, nem beira, nem lei. Nem verbo também. É ao mesmo tempo expulso, negado e reduzido ao silêncio."
(em 'História da Sexualidade I - a vontade de saber')
"O que faz com que o poder se mantenha e que seja aceito é simplesmente que ele não pesa só como uma força que diz não, mas que de fato ele permeia, produz coisas, induz ao prazer, forma saber, produz discurso."
(em 'A microfísica do poder')
"A disciplina é um princípio de controle da produção do discurso. Ela lhe fixa os limites pelo jogo de uma identidade que tem a forma de uma reatualização permanente das regras."
"Existem momentos na vida onde a questão de saber se se pode pensar diferentemente do que se pensa, e perceber diferentemente do que se vê, é indispensável para continuar a olhar ou a refletir."
"Meu papel é mostrar que as pessoas são muito mais livres do que pensam ser, que elas têm por verdadeiros, por evidentes, alguns temas que foram fabricados num momento particular da história, que esta suposta evidência pode ser criticada e destruída."
"O problema não é mudar a 'consciência' das pessoas, ou o que elas têm na cabeça, mas o regime político, econômico, institucional de produção da verdade."
(em 'A microfísica do poder')
"Vivemos em uma sociedade que em grande parte marcha 'ao compasso da verdade' – ou seja, que produz e faz circular discursos que funcionam como verdade, que passam por tal e que detêm, por esse motivo, poderes específicos."
(em 'Microfísica do poder')
"A psicopatologia do século XIX (e talvez ainda a nossa) acredita situar-se e tomar suas medidas com referência num homo natura ou num homem normal considerado como um dado anterior a toda experiência da doença. Na verdade, esse homem normal é uma criação."
(em 'História da loucura na Idade Clássica')
"Sem dúvida, entre formas de razão e formas da loucura, grandes são as semelhanças. E inquietantes: como distinguir, numa ação prudente, se ela foi cometida por um louco, e como distinguir, na mais insensata das loucuras, se ela pertence a um homem normalmente prudente e comedido?"
(em 'História da Loucura na Idade Clássica')
"Desde a alta Idade Média, o louco é aquele cujo discurso não pode circular como o dos outros; pode ser que sua palavra seja considerada nula e não seja acolhida, não tendo verdade nem importância, não podendo testemunhar na justiça, não podendo autenticar um ato ou um contrato."
(em 'A ordem do discurso')
"Trata-se dos procedimentos disciplinares que são praticados em instituições como hospitais, escolas, fábricas e prisões, garantindo uma vigilância e normatização da sociedade autorizada e legitimada pelo saber. Não são estabelecidos por meio de leis, mas pela concordância dos sujeitos para com os discursos de ‘verdade’."
(em 'A microfísica do poder')
"Alívio e profundo apaziguamento, o de pensar que o homem é só uma invenção recente, uma figura que não tem nem dois séculos, uma simples prega em nosso saber e que desaparecerá tão logo este encontre uma forma nova."
(em 'As palavras e as coisas')
"É preciso cessar de sempre descrever os efeitos do poder em termos negativos: ele ‘exclui’, ‘reprime’, ‘recalca’, ‘censura’, ‘discrimina’, ‘mascara’, ‘esconde’. Na verdade, o poder produz: produz o real; produz os domínios de objetos e os rituais de verdade."
(em 'Vigiar e Punir')
"O diploma serve apenas para constituir uma espécie de valor mercantil do saber. Isto permite também que os não possuidores de diplomas acreditem não ter direito de saber ou não serem capazes de saber. Todas as pessoas que adquirem um diploma sabem que ele nada lhes serve, não tem conteúdo, é vazio. Em contrapartida, os que não têm diploma dão-lhes um sentido pleno. Acho que o diploma foi feito precisamente para os que não o têm."
"Pensamos em todo caso que o corpo tem apenas as leis de sua fisiologia, e que ele escapa à história. Novo erro; ele é formado por uma série de regimes que o constróem; ele é destroçado por ritmos de trabalho, repouso e festa; ele é intoxicado por venenos - alimentos ou valores, hábitos alimentares e leis morais simultaneamente; ele cria resistências."
(em 'Microfísica do Poder')
"Não se vive em um espaço neutro e branco; não se vive, não se morre, não se ama no retângulo de uma folha de papel. Vive-se, morre-se, ama-se em um espaço quadriculado, recortado, matizado, com zonas claras e sombras, diferenças de níveis, degraus de escada, vãos, relevos, regiões duras e outras quebradiças, penetráveis, porosas. Há regiões de passagem, ruas trens metrôs; há regiões abertas de parada transitória, cafés, cinemas, prais, hotéis, e há regiões fechadas de repouso e da moradia."
(em 'O corpo utópico, as heterotopias')
"O intelectual me parece atualmente não ter o papel de dizer verdades, de dizer verdades proféticas para o porvir. Talvez o diagnosticador do presente (...) pode tentar fazer as pessoas entenderem o que está se passando, nos domínios precisos onde o intelectual é competente. Pelo pequeno gesto que consiste em deslocar o olhar, ele torna visível o que é visível, faz aparecer o que é próximo, tão imediato, tão intimamente ligado a nós que, por esta razão, nós não o vemos."
"A verdade é deste mundo; ela é produzida nele graças a múltiplas coerções e nele produz efeitos regulamentados de poder. Cada sociedade tem seu regime de verdade, sua 'política geral' de verdade: isto é, os tipos de discurso que ela acolhe e faz funcionar como verdadeiros; os mecanismos e as instâncias que permitem distinguir os enunciados verdadeiros dos falsos, a maneira como se sanciona uns e outros; as técnicas e os procedimentos que são valorizados para a obtenção da verdade; o estatuto daqueles que têm o encargo de dizer o que funciona como verdadeiro."
(em 'A microfísica do poder')
"O problema é ao mesmo tempo distinguir os acontecimentos, diferenciar as redes e os níveis a que pertencem e reconstituir os fios que os ligam e que fazem com que se engendrem, uns a partir dos outros. Daí a recusa das análises que se referem ao campo simbólico ou ao campo das estruturas significantes, e o recurso às análises que se fazem em termos de genealogia das relações de força, de desenvolvimentos estratégicos e de táticas."
(em 'Microfísica do Poder')
"Creio que aquilo que se deve ter como referência não é o grande modelo da língua e dos signos, mas sim da guerra e da batalha. A historicidade que nos domina e nos determina é belicosa e não linguística. Relação de poder, não relação de sentido. A história não tem "sentido", o que não quer dizer que seja absurda ou incoerente. Ao contrário, é inteligível e deve poder ser analisada em seus menores detalhes, mas segundo a inteligibilidade das lutas, das estratégias, das táticas."
(em 'Microfísica do Poder')
"O sofrimento físico, a dor do corpo não são mais os elementos constitutivos da pena. O castigo passou de uma arte das sensações insuportáveis a uma economia dos direitos suspensos. (...) Por efeito dessa nova retenção, um exército inteiro de técnicos veio substituir o carrasco, anatomista imediato do sofrimento: os guardas, os médicos, os capelães, os psiquiatras, os psicólogos, os educadores."
(em 'Vigiar e Punir')
"O poder disciplinar é com efeito um poder que, em vez de se apropriar e de retirar, tem como função maior 'adestrar'; ou sem dúvida adestrar para retirar e se apropriar ainda mais e melhor. Ele não amarra as forças para reduzi-las; procura ligá-las para multiplicá-las e utilizá-las num todo. Em vez de dobrar uniformemente e por massa tudo o que lhe está submetido, separa, analisa, diferencia, leva seus processos de decomposição até às singularidades necessárias e suficientes. 'Adestra' as multidões confusas, móveis, inúteis de corpos e forças para uma multiplicidade de elementos individuais — pequenas células separadas, autonomias orgânicas, identidades e continuidades genéticas, segmentos combinatórios. A disciplina 'fabrica' indivíduos; ela é a técnica específica de um poder que toma os indivíduos ao mesmo tempo como objetos e como instrumentos de seu exercício."
(em 'Vigiar e punir')