Michel Foucault (1926-1980) foi um filósofo francês estudou sobre as relações de poder, a relação entre o saber e o poder, a história da loucura, a sexualidade, entre outros temas, desenvolvendo um olhar crítico sobre a modernidade, refletindo prioritariamente sobre o modo como se constituem os distintos processos de subjetivação.
Entre suas principais obras estão 'As Palavras e as Coisas', 'A Arqueologia do Saber', 'Vigiar e Punir' e 'História da Sexualidade', onde utilizou métodos arqueológicos e genealógicos, constatando as transformações dos discursos que produzem saberes e engendram poderes, e como eles foram usados como controle social por meio das instituições sociais.
Além de filósofo e escritor, foi também ativista político, se envolvendo em campanhas anti-racistas, contra violações aos direitos humanos e em favor da reforma penal. Ele foi um grande crítico das instituições sociais, em especial à psiquiatria, à medicina, às prisões, entendendo que há uma complexa relação entre poder e saber que promove o controle de corpos e a produção de subjetividades.
Foucault costuma ser considerado filósofo pós-moderno ou pós-estruturalista por distintos comentadores, ele até aceitou essa categorização inicialmente, mas depois se distanciou da abordagem estruturalista, se colocando contrário a qualquer abordagem formal ou categorização. Suas concepções sobre o saber, o poder e o sujeito romperam com as concepções modernas.
"Não me pergunte quem sou e não me peça para permanecer o mesmo."
(Michel Foucault)
Ele constatou uma semelhança nos modos de tratamento dado aos grupos de indivíduos como os loucos, os prisioneiros, soldados e crianças estudantes, que ele chamou de instituições disciplinares. Segundo Foucault, eles têm em comum o fato de manterem seus membros em confinamento de instalações construídas e organizadas em modelos semelhantes (asilos, presídios, quartéis, escolas), inspirados no modelo monástico.
Na maioria das suas obras ele se direcionou para problemas concretos, como a loucura, a prisão e a clínica psiquiátrica, num contexto geográfico e histórico específico: a França, a Europa e o Ocidente, durante a passagem do Renascimento para a Idade Moderna. Segundo ele, é preciso estudar as diversas transformações históricas em relação, para que se possa compreender melhor o que temos hoje por saber, poder, indivíduo, instituição, etc.
"A história, segundo Foucault nos cerca e nos delimita; ela não diz o que somos, mas do que estamos nos diferenciando; ela não estabelece nossa identidade, mas a dissipa em proveito do outro que somos. Em resumo, a história é o que nos separa de nós mesmos."
(Gilles Deleuze, em 'A vida como obra de arte')
Foucault constata uma série de relações de poder entre a instituição e o indivíduo, que produz uma forma de subjetivação. Além disso, esse poder envolve a constituição de saberes, sendo também fundado por eles, estabelecendo uma relação de 'saber-poder'.
Com isso, ele passa a entender que a lei é uma verdade 'construída' segundo as relações entre poder e saber. Assim, o poder necessita de uma delimitação formal, para ser justificado, de modo que sua norma seja introjetada como uma verdade a priori e universal. Disto se desenvolvem as regras do direito, por meio da produção, transmissão e oficialização de 'verdades'.
Nos séculos XVIII e XIX, o ser humano passa de sujeito do conhecimento para se tornar também um objeto de conhecimento, tomado por estudo e pela gestão de corpos, de modo que as relações de poder permeiam toda a sociedade. Portanto, a análise das relações de poder não deve ser centrada no estudo dos seus mecanismos gerais e seus efeitos constantes, mas pelos 'elementos periféricos', para entender como funcionam os processos contínuos e ininterruptos que sujeitam corpos, dirigem gestos, regem os comportamentos.
Por Bruno Carrasco.
"Creio que aquilo que se deve ter como referência não é o grande modelo da língua e dos signos, mas sim da guerra e da batalha. A historicidade que nos domina e nos determina é belicosa e não linguística. Relação de poder, não relação de sentido. A história não tem "sentido", o que não quer dizer que seja absurda ou incoerente. Ao contrário, é inteligível e deve poder ser analisada em seus menores detalhes, mas segundo a inteligibilidade das lutas, das estratégias, das táticas."De modo geral, Foucault foi um filósofo que se caracterizou por estudar diversos temas sempre em relação uns com os outros, inclusive com a história e os espaços. Sua obra é de grande importância para entendermos melhor nossos modos de ser e de se relacionar atualmente, além de ter influenciado filósofos e pensadores de peso, como Gilles Deleuze, Judith Butler, Roberto Machado, entre tantos outros.
(Michel Foucault, em 'Microfísica do Poder')
Por Bruno Carrasco.