O período helenístico se inicia com a conquista da Grécia pelos macedônios, em 322 a.C., juntamente com a expansão militar do império iniciada por Alexandre Magno, até a anexação da península grega e suas ilhas por Roma, em 146 a.C.
Neste período houve um processo de interação entre a cultura grega clássica e a cultura dos povos orientais conquistados. As escolas platônica (Academia) e aristotélica (Liceu) continuaram em plena atividade, por discípulos de Platão e Aristóteles, porém mesclando-se com diversas tradições culturais.
A antiga liberdade política do cidadão grego foi limitada por conta do domínio macedônico, gerando um declínio da participação do cidadão nos destinos da pólis. Por conta disso, as preocupações coletivas cederam lugar às preocupações pessoais, a reflexão política enfraqueceu e a vida privada passou a tomar o centro das questões filosóficas.
As principais correntes filosóficas desse período passam a tratar sobre a intimidade, a vida pessoal e interior do ser humano. Com isso são propostos diversos modelos de conduta ética e pessoal, no sentido de “filosofias de vida” ou "artes do bem viver".
Uma das principais preocupações dos filósofos passou a ser proporcionar algum tipo de paz de espírito ou felicidade interior para as pessoas desorientadas, em meio às adversidades da época e inseguras para com a vida social.
Epicurismo
O epicurismo foi uma corrente filosófica fundada por Epicuro (341-271 a.C.), que defendia que o prazer é o princípio e o fim de uma vida feliz. Este filósofo, distinguia dois grupos de prazeres:
- Prazeres mais duradouros: que encantam o espírito, como a boa conversação, a contemplação das artes, a audição da música etc.
- Prazeres mais imediatos: muitos dos quais são movidos pela explosão das paixões e que, ao final, podem resultar em dor e sofrimento.
Segundo esta filosofia, para que possamos desfrutar os grandes prazeres do intelecto, precisamos aprender a dominar os prazeres exagerados da paixão, como os medos, os apegos, a cobiça, a inveja. Para isso, os epicuristas buscavam a ataraxia, estado de ausência da dor, quietude, serenidade e imperturbabilidade da alma.
Estoicismo
Fundado por Zenão de Cício (336-263 a.C.), o estoicismo foi a corrente filosófica mais influente durante o helenismo. Os estoicos entendiam que não existe, para o ser humano, nenhum outro lugar para ir ou fugir, além do próprio mundo em que vivemos. Somos deste mundo e, ao morrer, nos dissolvemos neste mundo.
Segundo o estoicismo, não temos como alterar a ordem universal do mundo, mas podemos compreendê-la e viver de acordo com ela. Deste modo, nos propõe a viver de acordo com a compreensão da ordem cósmica, como o caminho para a felicidade. Feliz era aquele que vivia segundo sua própria natureza, a qual, por sua vez, se integra com a natureza do universo.
Os estoicos defendiam uma atitude de austeridade física e moral com base nas virtudes, como a resistência ante o sofrimento, a coragem diante do perigo e a indiferença para com as riquezas materiais. Buscava-se um estado ideal de serenidade para lidar com as alternâncias da existência, embasado na aceitação e compreensão dos "princípios universais" que regem toda a vida.
Segundo os estoicos, tudo o que existe e acontece tem um objetivo e uma razão de ser, pois faz parte de uma inteligência universal. Também acreditavam que tudo o que acontece era necessário, ou seja, não poderia ser diferente do modo como acontecia, pois todos os eventos estão predeterminados.
Algumas coisas que acontecem dependem de nós e outras que não dependem de nós. Segundo eles, é impossível ser feliz se acreditamos que felicidade é ter tudo o que desejamos, pois se não conseguíssemos alcançar um desejo já nos tornaríamos infelizes. Cada pessoa pode construir sua felicidade, desejando apenas aquilo que podemos ter, e que nos faz verdadeiramente feliz.
Ceticismo
Fundado a partir das ideias de Pirro de Élida (365-275 a.C.), o ceticismo é uma vertente de filosofia que defende a ideia de que tudo é incerto, e que nenhum conhecimento é seguro, e qualquer argumento pode ser contestado.
Seus seguidores propunham que as pessoas adotassem a suspensão do juízo (epoché, em grego), isto é, a abstenção de fazer qualquer julgamento, já que a busca de uma verdade plena é inútil. Aceitando que as coisas se podem conhecer apenas suas aparências e desfrutando o imediato captado pelos sentidos, as pessoas viveriam felizes e em paz.
Essa vertente defende a impossibilidade do conhecimento e da obtenção da verdade absoluta.
Cinismo
Representado por Diógenes de Sinope (413-327 a.C.), o Cinismo acreditava que o ser humano deveria buscar conhecer a si mesmo e desprezar todos os bens materiais. Ele questionava os valores e as convenções sociais de maneira radical, buscando levar uma vida estritamente conforme os princípios que considerava corretos.
Há muitas histórias curiosas sobre Diógenes. Uma delas conta que certa vez, Alexandre Magno foi visitá-lo. De pé, Alexandre perguntou-lhe se havia algo que ele, como imperador, poderia fazer em seu benefício. Diógenes respondeu prontamente: "Sim, podes sair da frente do meu sol". Diz a lenda que Alexandre, impressionado com o desprezo do filósofo pelos bens materiais, teria comentado: "Se eu não fosse Alexandre, queria ser Diógenes".
Por Bruno Carrasco, terapeuta, professor e pesquisador, graduado em Psicologia, licenciado em Filosofia e Pedagogia, pós-graduado em Ensino de Filosofia, Psicoterapia Fenomenológico Existencial e Aconselhamento Filosófico. Nos últimos anos se dedica a pesquisar sobre filosofia da diferença e psicologia crítica.
Referências
ARANHA; MARTINS. Filosofando: Introdução à Filosofia. São Paulo: Moderna, 2009.
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000.
COTRIM; FERNANDES. Fundamentos da Filosofia. São Paulo: Saraiva, 2013.
JAPIASSÚ, MARCONDES. Dicionário Básico de Filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.