O livro 'O Existencialismo', escrito pelo filósofo francês Paul Foulquié (1893-1983), oferece uma ótima introdução à filosofia existencialista, comentando sobre as diferenças entre o essencialismo e o existencialismo, e entre o existencialismo ateu e cristão.
Além disso, também oferece uma breve apresentação sobre as diferentes vertentes de alguns de seus principais expoentes: Jean-Paul Sartre, Martin Heidegger, Gabriel Marcel e Sören Kierkegaard.
Além disso, também oferece uma breve apresentação sobre as diferentes vertentes de alguns de seus principais expoentes: Jean-Paul Sartre, Martin Heidegger, Gabriel Marcel e Sören Kierkegaard.
Alguns fragmentos do livro:
Para definir o existencialismo partiremos do próprio termo. Este neologismo procede do substantivo “existência”, de onde se derivou recentemente o adjetivo “existencial”, juntando-se-lhe o sufixo ismo.
O existencialismo surge, pois, como uma teoria que afirma o primado ou a prioridade da existência. Mas em relação a que afirma este primado ou prioridade? Em relação à essência.
Os existencialistas preferem, à exposição de teses organizadas em sistema, uma expressão indireta do pensamento: ficções apresentadas sob a forma de romance ou de drama; diários íntimos e escritos similares que conservam um eco de vida pessoal…
Como indica a própria palavra, o existencialismo caracteriza-se sobretudo pela tendência de colocar o acento na existência. O existencialista desinteressa-se das essências, dos possíveis, das noções abstratas: situa-se nas antípodas do espírito matemático; seu interesse dirige-se ao que existe, ou melhor, à existência daquilo que existe.
O existencialismo consiste, primeiro, em voltar ao autêntico real.
Nós atribuímos a existência às coisas, mas na realidade, sem nós, elas não existem.
No vocabulário existencialista, ao contrário, “existir” não constitui sinônimo de ser. As pedras são, mas não existem fora do ato mental, o único capaz de fazê-las existir. Com efeito, a existência não é um estado, mas um ato, a própria passagem da possibilidade à realidade; como indica se é (ex) para se estabelecer (sistere) ao nível do que antes era apenas possível.
O verdadeiro devir e a verdadeira existência supõem a liberdade. Portanto, a existência é privilégio do homem.
Para J. P. Sartre, como para Jaspers e para Heidegger, só existe autenticamente aquele que “se escolhe” livremente, que se faz por si mesmo, que é a sua própria obra.
Para existir, devemos - discernindo no novo ser, resultante de nossas escolhas anteriores, os possíveis que ele contém - optar incessantemente por aquele em que nos queremos converter. Seria impossível fixar-se na existência como numa posição definitiva. A existência é constante transcendência, isto é, ultrapassamento daquilo que somos; só existimos pela livre dealização de um mais-ser.
Somente no homem, já afirmamos, a existência precede a essência. Por quê? Porque só ele, no mundo de nossa experiência, é livre. Todos os demais seres são predeterminados. Na semente preexiste tudo que a converterá, em certas condições de solo e clima, numa árvore ou numa planta de tal espécie, de tal tamanho e de tal forma; aquilo que a árvore há de ser, a sua essência, antecede o surgimento da árvore à existência. Em seguida, todas as modificações que sofrerá no curso de sua vida sob a influência das estações, desde o ascenso da seiva até a queda das folhas, são previsíveis, pois tudo se desenrola segundo um mecanismo necessário. Em dada circunstância, o homem, ao contrário, pode escolher entre muitas hipóteses: e, só depois de sua escolha sabe-se o que de fato ele escolheu, no que esta escolha o transformou, qual a sua essência.
(...) eu sou bonito ou feio, filho de proletário ou de ilustre ascendência, chove ou faz calor… diante destes fatos sou impotente. Mas sou senhor de minha atitude à respeito destas maneiras de ser, independentes de mim: posso orgulhar-me ou envergonhar-me delas, aceitá-las ou insurgir-me contra elas. Eu não as escolho, mas escolho a forma como as considero, ou, no dizer dos existencialistas, eu as assumo.
O existencialista (...) não admite qualquer norma: cabe a cada qual fazer as suas regras. Em parte alguma está escrito o que ele deve ser: compete-lhe inventá-lo.
Rejeitando como vãs construções do espírito todo o mundo ideal, os existencialistas chegam a esta dolorosa contradição de precisarem escolher sem qualquer princípio de escolha, sem nenhum padrão que lhes permita julgar se escolheram bem ou mal.
Eis o fundamento da angústia existencialista. Não se trata tanto do temor de um determinado perigo como do vivo sentimento de quem foi lançado nesta situação sem o querer, compelido a opções cujas totais consequências não percebe e não saberia justificar: é um sentimento doloroso, mas nobre, pois nos remete à existência autêntica.
(...) como dizia Husserl, a consciência é a consciência de algo; ela é condicionada pela aparição da coisa; o seu ser não tem mais consciência do que o do fenômeno que lhe deve a existência.
Referências:
FOULQUIÉ, Paul. O Existencialismo. Tradução: J. Guinsburg. 3ª ed. São Paulo: DIFEL, 1975.