Pedagogia de Paulo Freire


Para o educador Paulo Freire, a educação é um ato político e tem intencionalidade, nunca é neutra. A ação educativa parte da realidade concreta, de como uma comunidade encara os fatos de sua realidade, com foco na visão de mundo de cada pessoa, para despertar a construção de uma outra relação com o conhecimento.

A relação de diálogo entre o conhecimento sabido e o trazido desperta no educando e no educador uma transformação prática da realidade. Não é a teoria ou os conceitos que educam, mas a ação concreta que vai gradativamente permitir a fala às pessoas que, historicamente, aprenderam apenas a ouvir e a obedecer.

Trata-se de uma pedagogia para a emancipação e autonomia de todos os envolvidos, desafiando e superando os limites pessoais com responsabilidade, para uma construção coletiva de saberes, onde arte e a cultura fazem parte do processo educativo.

O mundo pertence a todos, todos são sujeitos e cidadãos do mundo, participativos e responsáveis por ele. A história do mundo não é está pronta, mas está sendo escrita. A educação não pode ser repressora, deve haver um clima de aceitação incondicional, para que se possa quebrar medos e paradigmas anacrônicos, proporcionando um espaço de coletividade, com trocas sinceras e justas.

A ação dialógica visa desconstruir a visão de coisa (desumanização, submissão), para a construção de um processo de humanização e participação em conjunto, por meio do diálogo. A educação é um processo que acontece em todos os degraus, todos são importantes e tratando uns aos outros com respeito e igualdade, respeitando o tempo de cada um, valorizando cada ser humano em sua diversidade.

O primeiro momento é o de conhecer a comunidade, observar, escutar, refletir e estudar sobre as visões de mundo e de como se estabelecem as relações entre as pessoas, como as pessoas se inserem, como flui as relações de poder, etc.

É preciso fazer com que o conhecimento se torne uma prática, pois não basta saber, é preciso agir. A educação popular e crítica desmascara as relações de opressão, mostra o conflito para se fazer política - agir para a mudança, como diz Paulo Freire "o mundo não é, ele está sendo".

O resultado da prática é sempre inesperado, pois propõe outra relação entre opressores e oprimidos, propõe outra sociedade. As pessoas exploram sua realidade de como interpretam o mundo e procuram compreender as diferenças de como cada um pensa, sente e age sobre o mundo. Após a escolha dos problemas, conflitos e contradições, as dificuldades observadas são problematizadas e os encontros caminham para a criação de propostas de ação.

Essa educação tem como ponto de partida o olhar do outro. É preciso ler o mundo com os olhos do outro, mergulhar na lógica do educando para crescer com ele. Perceber as diferentes formas de linguagens e discursos em sua leitura de mundo.

O passo seguinte é de selecionar falas significativas, que contém ideologia, visões prontas de mundo, mantendo as relações de opressão. Possibilitar reflexões sobre frases e visões de mundo cristalizadas. Problematizar as falas deterministas e fatalistas e utiliza-las como tema gerador. Questionar a fala da pessoa do micro para o macro e, novamente, volta para o micro, mas com uma compreensão ampliada do assunto.

Exemplo de fala "homem fica tudo no bar, é tudo pingaiada". Nesta fala, há contido uma ideologia, uma maneira de pensar sobre os homens, que na atividade educativa pode ser questionada nos sentidos: todos os homens ficam no bar? Será que todo homem que vai no bar bebe pinga? Só homem vai ao bar? Só homem bebe pinga? Seu pai e seus irmãos vivem no bar?

Do micro (pessoal), se amplia para o macro (social), por meio de diversas questões, como: há outros espaços de convívio social além do bar? O que leva os homens a irem ao bar? Todo homem que bebe pinga é "pingaiada"? O que significa ser "pingaiada"?

Deve se ter como foco a emancipação e autonomia de todos, possibilitando seres sonhadores. Cada um conta sua vida de seu modo, num espaço de troca e diálogo com liberdade de expressão, compreendendo que há diferentes interpretações. O aprendizado é um processo para a transformação, integrando saberes para a cidadania e não para o mercado.

Essas reflexões possibilitam que os educandos reflitam sobre os saberes que possuem, ou sobre o que acham que sabem, criando novos sentidos e significados, possibilitando uma visão mais ampliada de mundo, partindo de seu mundo.


Por Bruno Carrasco.
Postagem Anterior Próxima Postagem