Alguns trechos do livro:
Dentre as correntes mais influentes da filosofia do século XX, a fenomenologia aparece como uma das mais importantes. Inúmeros filósofos se valeram do método fenomenológico como fundamento para pensar e elaborar suas filosofias. Assim, a partir da leitura e interpretação do método fenomenológico formulado por Husserl, autores como Max Scheler, Heidegger, Sartre, Merleau-Ponty, Lévinas e outros desenvolveram suas filosofias à luz desse "método de investigação", como diz Heidegger em Ser e tempo.
Em sua etimologia, o termo significa estudo dos fenômenos, daquilo que aparece à consciência, daquilo que é dado. A fenomenologia pretende ser "ciência das essências" e não de dados de fato.
A fenomenologia como método radical, no sentido de abrir caminho para a realidade mais fundamental, as essências, converte-se na disciplina que justificará todas as ciências de maneira mais rigorosa.
A fenomenologia se constituiu, desde logo, num apelo àquilo que é imediato, mas a sua característica principal foi a de proceder com absoluta fidelidade ao modo de ser dos objetos. A fenomenologia tem por objeto as coisas que se manifestam ou se mostram, tais como se manifestam os fenômenos; neste sentido, as coisas constituem aquilo que é rigorosamente dado, aquilo que eu encontro e que é, para mim, originalmente presente. Para Husserl, o fenômeno é consciência enquanto fluxo temporal de vivências, apresentando intencionalidade enquanto estrutura, ou seja, consciência de algo. A fenomenologia procura examinar a experiência humana de forma rigorosa, como uma ciência descritiva. Desta maneira, a reflexão se faz necessária a fim de tornar possível observar as coisas tal como elas se manifestam e descrevê-las. É a investigação daquilo que é genuinamente possível de ser descoberto e que está potencialmente presente, mas que nem sempre é visto através de procedimentos próprios e adequados. É o encontro com as coisas mesmas.
Para tanto, Husserl propõe a suspensão de qualquer julgamento, (sobre a existência, sobre as propriedades reais e objetivas do que aparece), abandonando os pressupostos em relação ao fenômeno que se apresenta, ao que denomina de suspensão fenomenológica ou epoché. A fenomenologia (Phenomenom + logos) é então o discurso sobre aquilo que se mostra como é, caracterizando esta ciência como estando em contato direto com o sentido das coisas, dirigindo o conhecimento para o que há de essencial nelas. É a filosofia do inacabamento, do devir, do movimento constante, onde o vivido aparece e é sempre ponto de partida para se chegar a algo.
Husserl chama fenômeno àquilo que se refere à minha observação intelectual, isto é, à observação pura. Para poder chegar a esta observação é necessário deixar de lado todas as ideias preconcebidas, todos os preconceitos. O que o método fenomenológico exige é que se inicie a partir daquilo que se vê diretamente, quando não se deixa desviar do fenômeno. Trata-se de voltar às próprias coisas, interrogá-las na sua própria maneira de se nos oferecerem.
O princípio da intencionalidade, tomado de empréstimo da psicologia descritiva de Brentano, diz que toda consciência é consciência de algo, distinto dela mesma.
O conhecimento é produzido por um sujeito intencional como uma efetuação consciente sua, através de suas vivências. As vivências valem para o sujeito e ele as possui como fenômeno, e como tal não são reais, consistindo, em vez disso, de um conteúdo puramente ideal. O conhecimento é um momento não independente dessas vivências; A fenomenologia alcança o fenômeno do conhecimento enquanto conteúdo ideal. Ela o faz ao tematizar as puras essências inerentes à intencionalidade do sujeito.
A "aparição", no sentido do que aparece, enquanto tal, é o tema objetivo para o qual o ato intencional se dirige enquanto aparece à consciência, é o que se chama propriamente "fenômeno", no registro husserliano.
Nas Investigações Lógicas, o projeto da fenomenologia se firma no gesto de dar início a uma ciência apriorística das vivências imanentes à consciência.
O corpo, na filosofia de Merleau-Ponty, é visto como o "veículo" do ser-no-mundo, o liame que situa o sujeito temporal e espacialmente. Mundo e corpo compõem realidades inseparáveis, formando um sistema em que um não é exterior ao outro. Por isso que a consciência, não sendo mais a primeira nem a única realidade, deixará de ser um puro dado, pensamento de si para si, passando a constituir o mundo, e a habitá-lo.
Para Merleau-Ponty, a percepção do mundo pelo corpo-sujeito funda definitivamente a ideia de verdade; (...) é a percepção que funda e inaugura o conhecimento.
O sujeito é corporal, e ser corpo é estar atado a determinado mundo. Portanto, para Merleau-Ponty, trata-se de evidenciar o pertencimento da vida humana ao próprio mundo, pois o homem encontra-se lançado no mundo enquanto realidade natural e humana.