A música contemporânea


A música contemporânea envolve uma diversidade de manifestações e rupturas com a tradição musical, que se inicia no final do século XIX, indo até os tempos atuais. Os principais movimentos deste período são o atonalismo, o futurismo, o dodecafonismo, o serialismo, a música concreta, a música eletrônica, a música aleatória, entre outros.

O final do século XIX foi um período de muitas transformações na sociedade européia, em questões sociais, como econômicas, filosóficas e culturais. A música que foi produzida neste período passa a contrariar e criticar aspectos que por muito tempo permaneceram presentes na composição musical, entre eles as formas musicais, os elementos melódicos, a estrutura rítmica, a instrumentação e a tonalidade.
"A tonalidade regera a música ocidental durante mais de três séculos e era considerada pelos músicos como um princípio imutável, pouco menos que eterno, sendo a harmonia tonal sua formação mais perfeita. Nos finais do século XIX, este velho edifício pareceu desmoronar-se."
(Montserrat Albet, em 'A Música Contemporânea')
As formas musicais, antes entendidas como uma unidade imutável, foram revisadas, passando da ideia de unidade para pluralidade, aparecendo novas e diversas formas de se compor e executar música, assim como foram se transformando os modos de se organizar a sociedade, com novos costumes, novas correntes de pensamento e novas formas de vida.

Entre os precussores da música contemporânea estão Erik Satie e Claude Debussy, responsáveis por uma revolução na esfera da harmonia, Richard Wagner, com sua excessiva complexidade harmônica, Gustav Mahler, que insere as vivências pessoais em suas obras, Alexander Scriabin, que relacionou a experiência sonora com a visual, acordes e cores, e Charles Yves, que compõs obras atonais e cultivou a politonalidade, o uso de diferentes ritmos e mudanças de compasso repentinas. 
"Em sua arte [Debussy], feita de interiorização e de matizes, jogam mais as afinidades entre os acordes que seus contrastes. Isto influencia a sensação de moderação e de suavidade harmônicas que se desprende de sua música. Em muitas de suas composições, a função tonal é substituída pelo timbre, em torno do qual se constrói frequentemente a obra."
(Montserrat Albet, em 'A Música Contemporânea')
Entre os séculos XVIII e XIX, na Europa, a lingugem musical era entendida como algo natural e inquestionável, porém esse sistema tradicional passou a ser questionado no final do século XIX. Um dos motivos foi o contato e a descoberta de músicas antigas e medievais de países fora da Europa, que não seguiam o sistema harmônico e as formas musicais tradicionais, colocando em dúvida assim esse modelo e abrindo caminhos para o relativismo musical.

Os compositores do final do século XIX e suas novas propostas musicais romperam com tradições anteriores, abrindo o campo para novos compositores e movimentos artísticos. Alguns dos mais destacados deste período são Arnold Schoenberg, Igor Stravinsky, Dimitri Shostakovich, Luigi Russolo, Olivier Messiaen, Edgar Varese, Pierre Boulez, Pierre Schaeffer, Karlheinz Stockhausen, Iannis Xenakis, John Cage.

Erik Satie (1866-1925), pianista e compositor francês, tinha como objetivo libertar a música dos artifícios pós-românticos e debussystas e desenvolve-la por si própria. Ele entendia que o som não deveria ser considerado como um símbolo, mas como uma autêntica realidade sonora, deixando de lado o subjetivismo e buscar unicamente a essência da música. As convenções artísticas herdadas não eram consideradas valores absolutos: podiam mudar ou, simplesmente, desaparecer.

O pintor Luigi Russolo (1885-1947) foi responsável por incorporar o ruído nos sons musicais tradicionais, fez parte do movimento futurista, e criou um instrumento para entonar ruídos, chamado de Intonarumori. Estabeleceu seis famílias de ruídos, entre elas os estrondos, assobios, sussurros, crepitações, sons percussivos (de madeiras, metais, peles ou pedras) e gritos. Ele inventou também um instrumento capaz de produzir intervalos pequenos e diversos ruídos, o rumorarmonio.

Arnold Schonberg (1874-1951) elabora o método dodecafônico na década de 1920, se apresenta como uma "saída" para o atonalismo, que era visto como uma condição "caótica" na música. Consistia em usar os doze tons da escala cromática sem nenhum tipo de relação hierárquica entre eles, apresentando estes numa série dodecafônica, que constituía um esquema básico e norteador do tema.  Para evitar que um dos graus soasse sobrepondo os outros, nenhum deles poderia ser repetido até que fosse apresentada a série dos doze tons em sua totalidade.

Nem todos os compositores deste período fizeram parte de movimentos, ou estabeleceram escolas com nomes específicos. A busca de rotular nos faz, por vezes, colocar uma etiqueta forçada num compositor, mesmo quando este não participou de nenhuma escola ou movimento estético formal. Há compositores que fogem totalmente e criam algo único, singular e versátil.
"Temos um dever para com a música: inventá-la."
(Igor Stravinsky)
O compositor russo Igor Stravinsky (1882-1971) é um desses, que explorou a diversidade de possibilidades de sua época, iniciando um período experimental entre 1913 a 1920, depois disso renunciou suas orientações e buscou a tradição para realizar algo novo, mais a frente se voltou para a arte objetiva. Produziu obras de grandeza estética únicas, entre elas se destaca Petruschka, de 1911.

Um dos nomes mais destacados é o norteamericano John Cage (1912-1992), responsável por introduzir o silêncio, o acaso e a indeterminação na música. Além disso, criou o piano preparado, um piano onde eram incluídos acessórios e objetos em suas cordas, alterando assim sua sonoridade. Muitas de suas composições foram elaboradas por meio do jogo de dados ao acaso, sem excluir elementos que sobrepõem a execução.



Referência:
ALBET, Montserrat. A música contemporânea. Rio de Janeiro: Salvat, 1979.
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