A educação não é uma relação entre o sujeito do conhecimento e um objeto, mas entre duas pessoas que aprendem coletivamente, na relação que estabelecem. Na prática educativa, o professor reaprende e ressignifica seus conhecimentos, onde os questionamentos dos estudantes o fazem rever seus saberes e buscar novos saberes.
"Não há docência sem discência."
(Paulo Freire)
Para Paulo Freire (1921-1997), não há como ensinar sem aprender, pois ensinar e aprender são processos que ocorrem a todo momento na relação humana. Sempre aprendemos algo quando ensinamos e ensinamos algo quando aprendemos, pois a relação educativa acontece por meio de uma troca de experiências, saberes e afetos.
"Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção."
(Paulo Freire)
A educação é um processo, professores e alunos são sujeitos dele. Neste ponto, Paulo Freire critica a educação bancária, que deposita os conhecimentos dos professores nos alunos, sem questionamento ou envolvimento.
"Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender."
(Paulo Freire)
Ensinar exige rigorosidade metódica
Os estudantes devem vivenciar a experiência do encontro com o conhecimento, o educador tem o papel de estimular os alunos a pensarem por si próprios, duvidando inclusive dos conteúdos ensinados, sendo estimulados a questionar juntos com o professor, pois não há conhecimento estático e definitivo.
"E uma das condições necessárias a pensar certo é não estarmos demasiado certos de nossas certezas."
(Paulo Freire)
Para isso, é preciso que o professor ofereça as condições para se aprender criticamente, ou seja, nunca transmitindo o conteúdo como se fosse uma verdade única e absoluta sobre o tema, mas como uma construção de um saber, que se transforma no tempo e na relação.
"Essas condições implicam ou exigem a presença de educadores e de educandos criadores, instigadores, inquietos, rigorosamente curiosos, humildes e persistentes."
(Paulo Freire)
Ensinar exige pesquisa
O trabalho de pesquisa é uma atividade permanente do professor. Por mais que alguém estude, ninguém nunca vai saber tudo, justamente porque o conhecimento está sempre por fazer, em processo. Os livros e materiais didáticos, portanto, devem ser sempre renovados e atualizados com novas fontes e descobertas de pesquisa.
"Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino."
(Paulo Freire)
Ensinar exige respeito aos saberes dos educandos
As matérias que os alunos estudam na sala de aula não podem ser desconectadas da vida, o professor precisa conhecer a realidade dos estudantes para que as disciplinas possam dialogar com as necessidades e os desejos deles. As vivências e os saberes dos estudantes devem ser refletidas na escola, relacionando-se com os saberes das disciplinas, de modo a problematizar os temas.
"Por que não aproveitar a experiência que têm os alunos de viver em áreas da cidade descuidadas pelo poder público para discutir, por exemplo, a poluição dos riachos e dos córregos e os baixos níveis de bem-estar das populações, os lixões e os riscos que oferecem à saúde das gentes."
(Paulo Freire)
Ensinar exige criticidade
É por meio da criticidade que a curiosidade ingênua se torna uma curiosidade epistemológica, assim passamos a olhar o mundo como não algo a ser simplesmente aceito como é, mas problematizado em suas questões, para ser transformado.
"Não haveria criatividade sem a curiosidade que nos move e que nos põe pacientemente impacientes diante do mundo que não fizemos, acrescentando a ele algo que fazemos."
(Paulo Freire)
Ensinar exige estética e ética
Enquanto seres históricos e sociais, nos tornamos éticos quando livremente aprendemos, comparamos, escolhemos, decidimos, aceitamos ou recusamos. A condição humana é um processo, pois os conhecimentos estão sendo construídos. A realidade é complexa, e todas as ideias estão colocadas com a possibilidade de contradições e questionamentos.
"Pensar certo, demanda profundidade e não superficialidade na compreensão e na interpretação dos fatos. Supõe a disponibilidade à revisão dos achados, reconhece não apenas a possibilidade de mudar de opção, de apreciação, mas o direito de fazê-lo."
(Paulo Freire)
Ensinar exige a corporeificação das palavras pelo exemplo
O educador consciente sabe que quando suas palavras não são sustentadas por seus exemplos, os estudantes percebem e passam a desconfiar do que diz, passando a ser desacreditado, pois seu discurso ao invés de fundamentar a ação, passa a maquear a prática. Não há como ensinar quando seu exemplo não é uma comprovação viva de sua prática.
"Quem pensa certo está cansado de saber que as palavras a que falta a corporeidade do exemplo pouco ou quase nada valem. Pensar certo é fazer certo."
(Paulo Freire)
Ensinar exige risco e rejeição de discriminação
É preciso que o professor aprenda a lidar com o risco, com maior naturalidade, e rejeite toda forma de discriminação. O preconceito inviabiliza o conhecimento, é preciso humildade para pensar. A educação implica num processo de comunicação, onde o conhecimento não é transferido, mas desafiar o estudante a produzir sua compreensão sobre o que é comunicado.
"Faz parte do pensar certo a rejeição mais decidida a qualquer forma de discriminação. A prática preconceituosa de raça, de classe, de gênero ofende a substantividade do ser humano e nega radicalmente a democracia."
(Paulo Freire)
Ensinar exige reflexão crítica sobre a prática
O ensino e a aprendizagem exigem um movimento crítico entre o fazer e o pensar sobre o fazer, não há como tornar um saber como estático e pronto, mas sempre em movimento e construção permanente. Por isso é preciso uma autocrítica e uma reflexão sobre a prática. Com a reflexão crítica sobre a sua prática, o professor toma consciência de sua situação e condição enquanto professor e de seu papel com relação aos estudantes.
"É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática."
(Paulo Freire)
Ensinar exige assunção da identidade cultural
Assumir-se como sujeito não implica na exclusão do outro, mas do reconhecimento sobre si mesmo e sobre o outro. O respeito às individualidades e vivências específicas de cada estudante é fundamental na prática educativa. O ambiente pedagógico é onde todos possam exercitar sua autonomia. Proibir a reflexão sobre certos temas que o estudante traz na sala de aula é um desrespeito à experiência histórica e cultural do estudante, e impede a reflexão sobre si mesmo.
"Uma das tarefas mais importantes da prática educativo-crítica é propiciar as condições em que os educandos em suas relações uns com os outros e todos com o professor ou a professora ensaiam a experiência profunda de assumir-se. Assumir-se como ser social e histórico, como ser pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos, capaz de ter raiva porque é capaz de amar."
(Paulo Freire)
Por Bruno Carrasco.
Referência:
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996.