O livro 'O essencial sobre Albert Camus', escrito por António Mega Ferreira, apresenta um pouco sobre a vida e obra de Albert Camus (1913-1960), que em meados do século XX foi o paladino de uma terceira via entre o fascismo e o comunismo: nas suas obras proclamava a liberdade como valor supremo do homem.
Avesso aos maniqueísmos dominantes, enunciou o princípio fundamental da sua ética, que é a fidelidade a um dever moral: "Acredito na justiça, mas, se fosse preciso, defenderia a minha mãe contra a justiça". A sua intransigência consolidou a imagem de uma solitária austeridade, que no entanto contrastava com a sua constante reivindicação do direito à felicidade e à alegria.
Este livro foi publicado pela Imprensa Nacional de Portugal, em 2013, por ocasião do centenário de seu nascimento, faz parte da coleção 'Essencial sobre...'.
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O próprio Camus se espantava com a rapidez com que aquele rapazinho pobre descendente de paupérrimos colonos de origem alsaciana e espanhola se transformara num dos escritores mais admirados do seu tempo: "À minha volta, ninguém sabia ler. Imagine o que isso significa", disse mais tarde a um estudioso da sua obra.
Do meio em que nascera, emergira para o mundo do estudo e das letras.
Licenciado em filosofia com uma tese sobre o pensamento de Plotino e de Santo Agostinho, tornara-se notado pelas suas atividades teatrais (adaptação, encenação e representação).
O teatro seria, aliás, uma paixão constante da sua vida.
Camus defendera, em artigos para o jornal Alger Républicain, os direitos dos árabes, posicionando-se decididamente contra os abusos dos pieds-noirs, os descendentes dos antigos colonos.
depois do sucesso de crítica de L’étranger, que lhe granjeou a admiração e a amizade de Jean-Paul Sartre, colaborou ativamente no jornal clandestino Combat, de que se tornaria diretor logo após a Libertação, publicou O Mito de Sísifo (1942).
Quando a guerra terminou, Camus era já uma das figuras de proa do jornalismo e da literatura francesa.
Acreditava numa Argélia livre do sistema colonial, embora integrada num espaço federal de língua francesa, que fosse o resultado da colaboração entre a maioria árabe e a minoria descendente dos antigos colonos. Para muitos argelinos, Camus era um estrangeiro na sua própria terra, que se recusava a aceitar uma Argélia onde não houvesse lugar para ele.
foi com L’homme révolté (1951) que se definiu a sua difícil posição cívica e intelectual, contra todas as formas de violência, contra todos os totalitarismos: Sartre rompeu com ele de forma ostensiva e a polémica entre os dois é um dos mais acesos diálogos de ideias que aconteceram nos anos cinquenta em França.
Ao longo dos anos cinquenta, intensificou o seu trabalho teatral, com adaptações de Calderón, Faulkner, Buzzati, Dostoiewski e publicou La chute (1956) e L’exil et le royaume (1957).
o apelo da sua obra tocava sobretudo os jovens, que nela viam um espelho das suas dúvidas e perplexidades, do seu mal-estar e da sua revolta. Mas Camus pressentia que a sua escrita devia agora virar-se para outros horizontes: como todos os escritores, acreditava que o melhor ainda estava para vir.
Nesta altura, a revolta de Camus não tem raiz na injustiça de um destino humano em particular, ou, mesmo, nas injustiças sociais de que se fabrica o mundo. Como adiante veremos, é de outra ordem, filosófica, se se quiser, e ergue-se contra o absurdo intrínseco da vida.
Referência:
FERREIRA, António. O essencial sobre Albert Camus. Lisboa: INCM, 2013.