Antropometrias do Período Azul, Yves Klein, 1962 |
A arte contemporânea costuma ser considerada a arte criada a partir do século XX, em especial após a Segunda Guerra Mundial, caracterizada por rupturas com relação à arte moderna e clássica. O termo "contemporâneo" significa "junto com o tempo", que faz parte de nosso tempo, indicando algo ainda presente e atual.
De modo geral, os artistas contemporâneos tendem mais para a experimentação e o rompimento das tradições, valorizando a relação entre a arte e o contexto, utilizando materiais diversos, incomuns e inusitados, atribuindo novos sentidos a objetos cotidianos, reinventando modos e possibilidades.
Em tempos anteriores, a arte esteve muito aproximada à técnica e à estética, porém hoje fazer arte não é um mero processo de "embelezar" a vida, mas problematizar, lançar questões e propor novos caminhos. Neste sentido, a arte contemporânea está mais interessada em ampliar perspectivas de mundo e de vida, ao invés de sustentar uma noção única sobre a arte, a estética ou o belo.
Além disso, constatam que o que temos por "arte" ou por "belo" são noções construídas no tempo e num espaço específico, que mudaram e se transformaram no tempo. Portanto, reconhecem que não é possível sustentar a ideia de arte enquanto algo "eterno", "imutável" e "atemporal", passando a situar a arte em seu tempo e no espaço.
Situar a arte no tempo e no contexto significa justamente partir da própria experiência de vida e dos materiais disponíveis no mundo contemporâneo para se fazer arte, ao invés de sustentar um ideal de arte do passado. Essa constatação possibilita novas formas de criação e uso de novos materiais e instrumentos.
Em diversos momentos da história da humanidade a arte teve um papel de crítica e rompimento com a tradição, como foi a arte clássica para com a arte medieval, ou a arte moderna para com a clássica. Em nosso tempo, o valor da obra não está mais apenas em suas características estéticas, as obras transcendem esta questão, questionando inclusive nosso conceito de "arte" e de "estética".
A arte contemporânea reconhece e valoriza a experiência criativa, não tomando as teorias ou referências acima da criação, possibilitando assim uma maior liberdade de criação. Corresponde a um novo período das artes e um novo modo de fazer arte, onde as artes plásticas tomam o lugar das "belas artes". Trata-se de um gênero artístico, que se difere da arte moderna ou clássica.
"a arte clássica exige que o artista execute o modelo padrão de figuração, seja de forma idealizada ou realística. A arte moderna exige que o artista expresse sua interioridade, o que, muitas vezes, significa a necessidade de ultrapassar os padrões da figuração clássica ou até mesmo a própria figuração, como acontece no caso da arte abstrata. A arte contemporânea exige que o artista ultrapasse os limites do senso comum, não da figuração clássica, como no caso da arte moderna, mas da própria noção de arte, inclusive a exigência moderna de um vínculo entre a obra e a interioridade do artista."
(Nathalie Heinich, em 'Práticas da Arte Contemporânea')
É uma forma de arte que joga com os limites, rompendo com as artes clássicas e modernas, distanciando-se da "seriedade", valorizando o jogo e a ironia, onde o mais importante não é mais a beleza, mas as sensações e questões que ela provoca, muitas vezes de desconforto inclusive.
Uma das obras mais famosas obras que introduz esse novo paradigma de arte é 'A Fonte', do artista francês Marcel Duchamp (1887-1968), que consiste num mictório exposto numa galeria de artes como obra artística, apresentando uma nova forma de encarar a arte, não como a busca de alcançar um ideal, mas de relacionar com o cotidiano e colocar a própria arte em questão.
Na obra 'A Fonte', o foco de Duchamp não está no objeto (mictório), mas no ato de colocá-lo numa exposição artística. Assim, a criação se desvincula do objeto final, para investir nas questões que este objeto evoca no contexto específico de uma galeria de artes.
Alguns dos principais nomes da arte contemporânea são Yves Klein (1928-1962), Andy Warhol (1928-1987), Lygia Clark (1920-1988), Helio Oiticica (1937-1980), Joseph Beuys (1921-1986), Jean-Michel Basquiat (1960-1988), Lygia Pape (1927-2004), Marina Abramovic (1946-), Bansky (1973-).
Por Bruno Carrasco, terapeuta, professor e pesquisador, graduado em Psicologia, licenciado em Filosofia e Pedagogia, pós-graduado em Ensino de Filosofia, Psicoterapia Fenomenológico Existencial e Aconselhamento Filosófico. Nos últimos anos se dedica a pesquisar sobre filosofia da diferença e psicologia crítica.
Referência:
HEINICH, Nathalie. Práticas da Arte Contemporânea: uma abordagem pragmática a um novo paradigma artístico. Trad.: Markus Hediger. Revista Sociologia & Antropologia. Rio de Janeiro. V.04.02: 373-390. Outubro, 2014.