Direita e esquerda são termos antagônicos, que costumam ser usados para apontar os contrastes de pensamento e ação política. Além disso, também possuem diferentes entendimentos sobre o ser humano, o mundo e a vida.
"São excludentes no sentido de que nenhuma doutrina ou nenhum movimento pode ser simultaneamente de direita e de esquerda."
(Nobbio, em 'Direita e esquerda')
Elas não se reduzem apenas a ideologias, não se constituem apenas de diferentes projetos para lidar com questões políticas, mas seus contrastes são também de interesses e valorações sobre como a sociedade deve seguir e se guiar.
Portanto, cada uma dessas tendências políticas possuem um entendimento específico sobre os valores para a vida na coletividade e formas de governo. Essa distinção de tendências surge a partir da Revolução Francesa, no final do século XVIII, onde também aparecem as ideologias do liberalismo, do conservadorismo, do socialismo científico, do anarco-libertarismo, do radicalismo de esquerda e do tradicionalismo.
Com o passar do tempo essas vertentes foram se modificando muito, de modo que no momento atual fica difícil descrever cada uma especificamente. Por isso, muitas vezes sua classificação é trocada pela distinção entre progressistas e conservadores.
"afirma-se que em um universo político cada vez mais complexo como o das grandes sociedades, e, em particular, das grandes sociedades democráticas, torna-se sempre mais inadequada a separação muito nítida entre duas únicas partes contrapostas."
(Nobbio, em 'Direita e esquerda')
O termo "direita" sempre teve uma conotação positiva, enquanto que a "esquerda" aparece deste início com uma conotação negativa. De certo modo, apresenta a distinção entre o "sagrado" e o "profano", onde a primeira se coloca em favor da ordem hierárquica e da postura tradicional em favor da continuidade, e outra em favor do novo, da ruptura e da descontinuidade.
De acordo com Scheeffer (2014), a direita costuma entender que o Estado deve se abster de questões econômicas, pois o mercado se regula por conta própria, entendendo a pobreza como falta de esforço, acreditando que sempre existirão ricos e pobres. Entendem a criminalidade como resultante das escolhas de um indivíduo, não tendo relação com as condições sociais. Os impostos são ruins, pois sobrecarregam as empresas e dificultam o crescimento econômico, portanto o Estado deve ser diminuído em favor das empresas privadas.
O mesmo autor aponta que a esquerda entende que é necessário uma intervenção econômica em certos momentos. Para a esquerda, a pobreza é resultante e a criminalidade são resultantes da desigualdade econômica e de oportunidades, que pode ser resolvido por meio de programas sociais. Defende a utilização de impostos para que o Estado possa oferecer serviços de qualidade para aqueles que precisam, em favor de uma legislação trabalhista que normatize os direitos dos trabalhadores, mantendo os serviços fundamentais sendo oferecidos pelo Estado.
Muitas vezes a direita é associada à religião e a esquerda ao ateísmo, onde a direita costuma ser associada à tradição e a esquerda ao rompimento desta tradição. Porém coexistem diversas modalidades de direita e de esqurda.
"(...) entre o branco e o preto pode existir o cinza; entre o dia e a noite há o crepúsculo. Mas o cinza não elimina a diferença entre o branco e o preto, nem o crepúsculo elimina a diferença entre a noite e o dia."
(Nobbio, em 'Direita e esquerda')
Deste modo, a pessoa de direita costuma ser associada aquela que busca manter a tradição, enquanto que a de esquerda pretende libertar a si mesmo e seus semelhantes das amarras impostas pela tradição, inclusive pelos privilégicos hierárquicos de raça, classe e casta. Trata-se de uma distinção entre tradição e emancipação.
Com relação a temas da atualidade, a direita tende a entender o aborto e o uso da maconha como algo ilegal, proibindo a união matrimonial entre pessoas do mesmo sexo, usando a natureza de maneira irrestrita para o crescimento econômico, tendo a religião como elemento mais importante.
Diferente dessas perspectivas, a esquerda tende a descriminalização do aborto, a legalização do uso da maconha e da união entre pessoas do mesmo sexo, defendendo grupos considerados desprivilegiados, dando importância à problemática ambiental, tendo a religião como elemento menos importante.
Porém, apesar das distinções, há temas que acabam sendo utilizados por ambos os lados, segundo Bobbio (1995), entre eles o militarismo, o laicismo, o anticomunismo, o individualismo, o progresso da tecnologia e o uso da violência.
Por Bruno Carrasco.
Referência:
BOBBIO, Norberto. Direita e esquertda: razões e significados de uma distinção política. São Paulo: Editora da USP, 1995.
SCHEEFFER, Fernando. Esquerda e direita: velhos e novos temas. 38o Encontro Anual da Anpocs. GT 27 Partidos e sistemas partidários. Caxambu: MG, 2014.