Viktor Frankl foi um psiquiatra australiano que fundou a Logoterapia, uma proposta terapêutica que tem como foco a busca de sentido, entendendo esta como a principal questão na vida das pessoas, que possibilita inclusive superar momentos difíceis de dor e tristeza. Sua terapia tinha influências da fenomenologia, do existencialismo e do humanismo.
A "vontade de sentido" é um conceito da perspectiva de Frankl onde destaca a importância da busca de um sentido para a vida como mais importante do que a busca pela felicidade, pois consiste justamente na busca de uma razão para ser feliz. Parte-se de uma crença na possibilidade de se superar a vida e fazer algo novo e realmente valioso dela, possibilitando o enfrentamento e a superação do sofrimento.
Para Frankl, a ausência de sentido da vida pode ser causadora de uma desorientação e falta de perspectivas sobre a própria vida. Entende que vivemos nossas vidas sempre orientadas a um sentido, sendo este que nos motiva a seguir dia a dia e coloca nossa existência numa responsabilidade ética de dar sentido a ela mesma. Perder o sentido seria então cair num vazio existencial onde não haveria motivos para viver.
Portanto, o sentido e o propósito da vida adquirem uma grande importância nesta perspectiva, porém esse sentido não precisa ser um sentido único, mas pode haver distintos sentidos para cada pessoa, o que possibilita uma conexão com sua história e sua transcendência, com o passado e o futuro. Corremos o risco de cair numa vida vazia, desprovida de sentido e sofrer ainda mais, por não termos algo maior a nos alicerçar.
O encontro de um sentido da vida não elimina a possibilidade de sofrimento, as dores e a morte, circunstâncias que para Frankl são condições da vida humana, mas o sentido da vida possibilita atravessar de uma maneira mais potente diante dessas circunstâncias, pois nos estimula a querer viver apesar do sofrimento, e inclusive fazer algo novo e diferente da vida apesar da dor, trata-se de uma vontade muito potente, que afirma a vida apesar dos momentos difíceis e dos sofrimentos.
A Logoterapia propõe uma possibilidade de se questionar o motivo pelo qual vivemos nossa vida, que dedicamos nossos projetos e que acordamos todos os dias para fazer algo realmente valioso. Tal prática não visa a eliminação do sofrimento ou das dificuldades, mas possibilitar uma nova disposição diante dos sofrimentos e das dificuldades, sendo assim poderíamos dialogar sobre os motivos fora da pessoa pelos quais esta vive sua vida, seja outras pessoas, lugares, encontros, acontecimentos, desejos, interesses, projetos.
O sentido deve estar sempre orientado para fora, para o mundo, não se deve buscar o sentido para livrar-se de tensões, mas para ir de encontro a algo que valha a pena viver, que seja escolhido livremente. A busca do sentido possibilita uma vida mais criativa e ativa, mas para isso é preciso a tomada de consciência e de responsabilidade da pessoa sobre sua vida e o sentido que atribui a ela, trata-se de exercitar e evidenciar uma característica muito cara à Logoterapia, que é a resiliência, a capacidade de superar diante de situações adversas, encontrando valores que estejam além da experiência da dor, tornando o sofrimento dotado de sentido, como algo realmente importante e útil para a vida, para o surgimento de novas maneiras de lidar com a própria vida, consigo mesmo e com os outros. É a partir do sentido que a pessoa atribui a seu sofrimento que esta pode se recuperar e fazer algo diferente de sua vida.
Ao invés de focar nas dores e enfermidades, o aconselhador pode direcionar seu foco para as potencialidades da pessoa e dos lugares que habita e frequenta, uma das principais questões é - o que posso fazer de minha dor, ou apesar de minha dor? Acredita-se que pode-se avançar na vida se encontrar um sentido para ir adiante, é por meio do preenchimento do vazio existencial que uma pessoa poderá se realizar e preencher sua vida de sentido, isso não garante felicidade ou ausência de dor, mas possibilita a pessoa lidar com tais situações de maneira mais disposta e interessada, pois sua vida está direcionada não a felicidade momentânea ou a uma breve evitação das dores, mas a um sentido maior, que lhe atribui significado e direcionamento.
Outro ponto a ser destacado que pode ser trabalhado numa prática de aconselhamento filosófico seria a questão da morte. Para Frankl, é a constatação de que vamos morrer, que a vida tem um período a ser vivido e que um dia esta acabará que nos coloca na posição de fazer algo da vida. Se a vida fosse eterna poderíamos adiar todos os nossos projetos, mas se sabemos que um dia esta terá um fim, nos direcionamos para a realização de algo interessante durante o tempo em que estamos vivos, nos tornamos mais desejantes de fazer algo da vida ao invés de apenas viver, de atribuir sentido a nossa vida ao invés de apenas seguir vivendo.
Além dessas características, outra que não deve deixar de ser mencionada é a autotranscendência, que consiste em dirigir a vida sempre para algo fora dela, o que possibilita um encontro autêntico com o outro, colocando a pessoa aberta ao mundo, se ocupando de algo que não seja apenas a si mesmo, mas as coisas do mundo.
Por Bruno Carrasco, terapeuta, professor e pesquisador, graduado em Psicologia, licenciado em Filosofia e Pedagogia, pós-graduado em Ensino de Filosofia, Psicoterapia Fenomenológico Existencial e Aconselhamento Filosófico. Nos últimos anos se dedica a pesquisar sobre filosofia da diferença e psicologia crítica.
Referências:
MOREIRA, N.; HOLANDA, A. Logoterapia e o sentido do sofrimento: convergências nas dimensões espiritual e religiosa. Psico-USF, v. 15, n. 3, p. 345-356, set./dez. 2010.
PEREIRA, I. S. A Vontade de Sentido na Obra de Viktor Frankl. Psicologia USP, São Paulo, v. 18, n. 1, p. 125-136, 2007.
SILVEIRA, D. R.; MAHFOUD, M. Contribuições de Viktor Emil Frankl ao conceito de resiliência. Estudos de Psicologia, Campinas, 25,n. 4, p. 567-576, out./dez., 2008.