Psicopatologia é uma ciência autônoma que busca entender e explicar os fenômenos psíquicos a partir de instrumentos e teorias, visando a descrição das experiências subjetivas, especialmente do sofrimento mental e emocional, buscando interpretar suas relações e significados.
Etimologicamente, o termo "psicopatologia" é composto de três palavras gregas: "psyche", que corresponde a psique, psiquismo ou alma; "pathos", relacionado com a paixão, o excesso ou o sofrimento; e "logos", que significa discurso, conhecimento ou lógica. Portanto, a psicopatologia pode ser entendida como um estudo sobre o sofrimento psíquico.
Estuda os sinais comportamentais e subjetivos de uma pessoa, suas queixas e sofrimento, a partir do modo como é expresso. Para isso, se utiliza da semiologia de modo a entender o sentido e o valor de um símbolo, a partir das relações que mantém com os outros símbolos e com a estrutura simbólica total. A semiologia médica busca entender os sintomas, identificando alterações físicas e mentais.
"A psicopatologia pode ser definida como o conjunto de conhecimentos referentes ao adoecimento mental do ser humano. É uma ciência autônoma que busca ser sistemático, elucidativo e desmistificante. Como conhecimento que visa ser científico, não inclui critérios de valor, nem aceita dogmas ou verdades a priori. O psicopatólogo não julga moralmente o seu objeto, busca apenas observar, identificar e compreender os diversos elementos da doença mental. Além disso, rejeita qualquer tipo de dogma, seja ele religioso, filosófico, psicológico ou biológico; o conhecimento que busca está permanentemente sujeito a revisões, críticas e reformulações."
(Dalgalarrondo, em 'Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais')
Para seus estudos, utiliza diversas técnicas e procedimentos de observação e coleta de sinais e sintomas, por meio de uma observação minuciosa e atenta do comportamento e do discurso do paciente, utilizando a entrevista direta com o paciente, podendo se estender a seus familiares e demais pessoas com as quais convive. É fundamental o modo de proceder às perguntas, assim como de interpretar as respostas.
De acordo com Dalgalarrondo (2008), a semiologia médica é o estudo dos sintomas e sinais das doenças, visando identificar as alterações físicas e mentais, formular diagnósticos e propor terapêuticas. A semiologia psicopatológica corresponde ao estudo dos sinais e sintomas de transtornos mentais, estudando os sinais e sintomas produzidos pelos transtornos mentais.
Os sinais e os sintomas não acontecem de maneira aleatória, mas em certos agrupamentos relativamente constantes e estáveis de determinados sinais e sintomas. A descrição de um conjunto e recorrente de sinais e sintomas corresponde à síndrome. Na psicopatologia se trabalha mais com síndromes do que com doenças ou transtornos específicos.
Entende-se que o funcionamento psíquico acontece a numa complexa interação de elementos biológicos, psicológicos e sociais. Existem diversos critérios de normalidade e anormalidade na psicopatologia. A adoção de um deles depende das opções filosóficas, ideológicas e pragmáticas de cada profissional.
Existem as psicopatologias explicativas, que buscam explicações sobre o sofrimento psíquico a partir de teorias e estudos experimentais, como a psicodinâmica e a comportamental, e as psicopatologias descritivas, que visam descrever e categorizar as experiências psíquicas, a partir do modo como são informadas pelo paciente e observadas em seu comportamento, como a fenomenológica e a clínica.
Há diversas abordagens, teorias e métodos de investigação dos estados mentais. Entre os métodos de investigação temos a neurociência, a psicodinâmica, a fenomenológica e a analítico-existencial. Entre os enfoques ou abordagens, temos a experimental, a behaviorista, a cognitivista, a biológica a existencialista, a fenomenológica, a psicanalítica, a social, a humanista, entre outras.
A perspectiva predominante em psicopatologia é a biomédica, que entende o ser humano a partir de suas condições biológicas, concebendo o sofrimento mental como uma disfunção do cérebro. Diferente desta, a perspectiva existencial busca compreender a pessoa a partir de sua existência singular, que se distingue das outras por suas experiências subjetivas, onde o sofrimento emocional não é entendido como uma disfunção, mas como um modo de existir no mundo.
O estudo dos estados psíquicos é feito a partir da observação cuidadosa de suas manifestações, visando articular os fenômenos, interpretando e os classificando de acordo com uma teoria, a partir de uma certa lógica. Quando se estuda os sintomas há uma atenção para a forma dos sintomas, para sua estrutura que é relativamente semelhante para um grupo de pessoas, e o conteúdo dos sintomas, com características mais pessoais, dependendo da experiência de vida de cada um.
Enquanto ciência, a psicopatologia exige uma postura rigorosa e sistemática. Apesar disso, é preciso entender que a psicopatologia é apenas uma das abordagens possíveis sobre o sofrimento emocional, e não há como conhecer e explicar todos os estados psíquicos de uma pessoa a partir de conceitos e teorias em psicopatologia, há sempre algo que transcende seus saberes.
Por Bruno Carrasco, terapeuta, professor e pesquisador, graduado em Psicologia, licenciado em Filosofia e Pedagogia, pós-graduado em Ensino de Filosofia, Psicoterapia Fenomenológico Existencial e Aconselhamento Filosófico. Nos últimos anos se dedica a pesquisar sobre filosofia da diferença e psicologia crítica.
Referências:
DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Porto Alegre: Artmed, 2008.
DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Porto Alegre: Artmed, 2008.
DEMINCO, Marcus. Psicopatologia: definições, conceitos, teorias & práticas. Psicologia.pt, 2018.