Por uma saúde emocional criativa


saúde emocional criativa não parte de um modelo pronto de saúde, pois entende esta enquanto um processo em criação e constante transformação. Deste modo, se permite a experimentar a vida reconhecendo como está se sentindo em cada momento, percebendo o que faz bem e o que não faz bem para si, utilizando sua percepção como um autodiagnóstico, para escolher atividades mais salutares para si.

Entende que o que é importante só pode ser avaliado a partir de si mesmo e não por outra pessoa, pois ninguém tem o direito de dizer o que é melhor para sua vida. Essa avaliação depende apenas da pessoa que a faz a partir de seus sentimentos e interesses, do que lhe é saudável ou não, podendo assim fazer melhores escolhas futuras, de maneira livre, fluida e autônoma.

Nesta perspectiva, a pessoa emocionalmente saudável é aquela que se liberta da rigidez dos valores externos, deixando de receber estes como regras a serem cumpridas como obrigações, passando a se relacionar de maneira mais flexível consigo e com os outros, se permitindo a seguir os valores e regras que lhe apetecem e que são salutares para si, e deixar de seguir aqueles que não lhe fazem bem.

Uma saúde criativa e libertária não utiliza noções prévias do que seja saudável ou doentio, o que é saudável para uma pessoa pode ser doentio para outra, inclusive o que é doentio para uma pessoa pode ser saudável para outra. Por isso, a avaliação deve sempre partir da experiência da pessoa que experimenta, do modo como se sente diante de suas vivências.

A pessoa que exercita sua avaliação pode reconhecer e valorizar suas vivências e sentimentos, ao invés de buscar modelos prontos sobre o que seja bom ou ruim, deixando de lado os guias de "felicidade" ou de "saúde", elaborando seu próprio modelo do que faz bem para si, e alterando consonante ao modo como se sente a cada momento e circunstância.

Não faz as coisas apenas porque "devem ser feitas", mas por que deseja fazer, do mesmo modo que não agrada os outros apenas por agradar, mas por um sentimento genuíno e real, quando houver. Vive de maneira mais coerente consigo mesma e com os outros, de modo que seus comportamentos dialogam com seus sentimentos.

Experienciar uma saúde emocional libertária possibilita tomar contato com o desenrolar das experiências ao invés da rigidez das regras e normas. Portanto, não visa apenas evitar o sofrimento, mas se abrir para novas experiências, tanto internas quanto externas. Se não se sente bem, procura fazer algo para transformar. Apreciando a si mesmo como se está sendo, estabelecendo relações menos formais e mais espontâneas.

Faz escolhas mais interessantes para sua vida, escolhendo modos de vida por serem interessantes para si, e não por regras "a cumprir". E quando algo não sai bem, reconhece sua frustração como uma condição da própria existência que pode ser superada, tomando contato com o que se sente, de modo a agir e comunicar de maneira correspondente, ao invés de se esconder em máscaras para ser aceito.

O sofrimento emocional, nesta perspectiva, corresponde a tudo aquilo que impede uma vida criativa, conduzindo a um modo de vida regrado e submisso, onde os valores são introjetados de fora para dentro como regras fixas e imutáveis, guiando a pessoa, ao invés de ser guiada por suas experiências e sentimentos.

Uma pessoa em sofrimento pode perder sua capacidade de criar e se transformar, não se reconhecendo como co-criadora de seus modos de vida, deixando de se responsabilizar por suas escolhas, pois não escolhe por si, mas a partir de regras externas. Assim, quando algo não acontece como esperado, culpabiliza os outros ou a si mesmas, guiando-se pelos olhares alheios e não pelo que sente e deseja para sua vida.

O sofrimento, neste sentido, resulta de uma condição onde a pessoa não se sente autônoma e livre para fazer diferentes escolhas em sua vida, com dificuldade em aceitar suas frustrações e superar momentos de dificuldade e crise, tornando-se dependente de outras pessoas para guiar e orientar sua vida, ao invés de experimentar e criar a partir de si.


Por Bruno Carrasco, terapeuta, professor e pesquisador, graduado em Psicologia, licenciado em Filosofia e Pedagogia, pós-graduado em Ensino de Filosofia, Psicoterapia Fenomenológico Existencial e Aconselhamento Filosófico. Nos últimos anos se dedica a pesquisar sobre filosofia da diferença e psicologia crítica.
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