John Cage (1912-1992) foi compositor, teórico musical, escritor e artista estadunidense. Pioneiro na música aleatória, eletroacústica, no uso de instrumentos não convencionais, bem como no uso não convencional de instrumentos convencionais, considerado uma das figuras mais destacadas nas vanguardas artísticas do pós-guerra. Trabalhou com música indeterminada e aleatória, não-referencial, evidenciando não se saber o que está acontecendo ou o que pode acontecer.
Algumas de suas citações:
A questão é: meu pensamento está mudando? Está e não está.
(em 'De segunda a um ano')
Nosso trabalho, agora, se amamos a humanidade e o mundo em que vivemos, é a revolução.
(em 'De segunda a um ano')
Mas agora há silêncios e as palavras fazem, ajudam a fazer, os silêncios. Eu não tenho nada a dizer e estou dizendo, e isso é poesia, do jeito que eu preciso.
(em 'Silêncio')
O mais alto dos ideais é não ter ideal algum. Isso nos põe em consonância com a natureza quanto à sua maneira de funcionar.
A função do compositor é diferente do que era. Lecionar, também, não é mais transmissão de um corpo de informações úteis, mas é conversação, a sós, juntos, num local combinado ou não, com gente por dentro ou por fora do que está sendo dito. A gente fala, mudando de uma ideia pra outra como se fôssemos caçadores.
(em 'De segunda a um ano')
Arte é uma forma de expelir ideias - as que catamos dentro e fora de nossas cabeças. O que é maravilhoso é que quando as expelimos - essas ideias - elas geram outras, a começar pelas que nem estavam em nossas cabeças.
(em 'De segunda a um ano')
Nossa poesia agora é a consciência de que não possuímos nada. Partindo daí, tudo é um prazer (já que nada possuímos) e por isso, não precisamos temer sua perda. Não precisamos destruir o passado; ele já se foi. A qualquer momento ele pode reaparecer e parecer ou ser o presente.
(em 'De segunda a um ano')
Agora chegamos no tema da descontinuidade em relação ao compromisso. Digamos que eu tenha um compromisso. Digamos que alguém me interrompa enquanto estou trabalhando. Se eu permito (que foi o que eu fiz quando fui concebido), então eu entro na descontinuidade. Naturalmente, eu posso dizer: "Não, não me aborreça", perdendo, assim, a oportunidade de renascer.
(em 'De segunda a um ano')
E qual é o propósito de escrever música? Um, claro, é o de não lidar com propósitos, mas com sons. Ou a resposta pode ser dada sob a forma de um paradoxo: um despropósito proposital ou uma brincadeira sem propósito. Essa brincadeira, contudo, é uma afirmação da vida - não uma tentativa de dar ordem ao caos, nem tentar melhorar a criação, mas simplesmente um modo de despertar para a própria vida que vivemos, que é tão boa se tiramos de seu caminho o nosso intelecto e o nosso desejo, deixando-a agir de seu modo.
(em 'Silêncio')
Se essa palavra "música" é sagrada e reservada para instrumentos do século XVIII e XIX, nós podemos substituir para um termo mais significativo: organização do som.
(em 'Silêncio')
A Arte, em lugar de ser um objeto feito por uma pessoa, é um processo desencadeado por um grupo de pessoas. A Arte está socializada. Não é alguém dizendo alguma coisa, mas pessoas fazendo coisas, dando a todos (inclusive àqueles envolvidos) a oportunidade de ter experiências que de outra forma não teriam.
(em 'De segunda a um ano')
Na sociedade, nenhuma quantidade de panacéia em economia/política vai ajudar. Começar de novo, levando em conta a abundância, o desemprego, uma situação de campo, a multiplicidade, a imprevisibilidade, o imediato, a possibilidade de participação.
(em 'De segunda a um ano')
As pessoas ainda pedem definições, mas agora é tranquilo que nada pode ser definido. Muito menos a arte, seus propósitos, etc. Não estamos certos nem sobre cenouras.
(em 'De segunda a um ano')
Eu sou o primeiro a ficar surpreso. As coisas mais simples me dão ideias.
(em 'De segunda a um ano')
Tudo agora está num estado que nos confunde, porque, pra dizer só uma coisa, não estamos certos dos nomes das coisas que vemos bem na nossa frente.
(em 'De segunda a um ano')
Quando se atenta a observação e audição de muitas coisas de uma só vez, incluindo sons do meio ambiente - torna-se inclusiva, e não exclusiva - nenhuma questão de como fazer, no sentido de formar estruturas compreensíveis, pode surgir aqui a palavra "experimental" como apropriada, desde que seja entendida não como algo descritivo a um ato que seja posteriormente julgado em termos de sucesso ou fracasso, mas simplesmente como um ato cujo resultado é desconhecido.
(em 'Silêncio')
Uma ação experimental é resultado do que não está prevista. Ser imprevisto, essa ação não está preocupada com intenções. Como a terra, como o ar, ela não precisa de nada. Uma performance de uma composição que é indeterminada o seu desempenho é necessariamente única. Ele não pode ser repetida. Quando realizada por uma segunda vez, o resultado já é outro que não corresponde ao anterior. Nada, portanto é realizado sem a performance, uma vez que esta não pode ser entendida como um objeto no tempo. A gravação de uma obra tem maior valor que um cartão postal, proporcionando um conhecimento de algo que aconteceu, enquanto a ação era um não-conhecimento de algo que ainda não tinha acontecido.
(em 'Silêncio')
Qual é a natureza de uma ação experimental? É simplesmente uma ação cujo resultado não é previsto. Mais essencial do que compor por meio de operações de oportunidades, parece-me agora, que seja compor de tal forma que o que se faz é indeterminado em seu desempenho. Nesse caso pode-se trabalhar apenas diretamente, para nada que dê origem a algo que seja preconcebido. Isto exige, necessariamente, uma grande mudança em hábitos de notação. Eu levo uma folha de papel e coloco pontos nela. Em seguida cinco linhas paralelas em uma transparência, digamos cinco linhas paralelas. Eu estabeleço cinco categorias de som para as cinco linhas, mas não determino qual linha é qual categoria. A transparência pode ser colocada sobre a folha com pontos em qualquer posição e a leitura dos pontos podem ser tomadas em relação a todas as características que se desejar distinguir. Outra transparência pode ser usada para os compassos adicionais, ou para alterar a sequência dos sons no tempo. Nesta situação não há necessidade de operações de oportunidades (por exemplo, o arremesso de moedas) pois nada está previsto, apesar de que tudo pode ser medido minuciosamente mais tarde ou simplesmente considerado como uma sugestão vaga.
(em 'Silêncio')