Mecanicismo corresponde a um modelo de entendimento sobre as pessoas e o mundo como máquinas, que podem ser explicados por meio das leis de movimento. Essa tendência de entendimento começa a despontar durante o século XVII, especialmente com René Descartes.
Segundo ele, os animais eram como máquinas que se moviam por si mesmos, de modo que seus movimentos podem ser explicados por meio das leis da dinâmica. Além disso, Descartes (1596-1650) entendeu também o corpo humano como um sistema hidráulico, tal como se utilizavam nas fontes mecânicas construídas em sua época.
O filósofo francês comparou os nervos do corpo humano aos tubos dessas fontes, a água que movia as fontes foi relacionada com o espírito, no corpo humano. Trata-se de uma tendência determinista, que entende a natureza submetida aos processos mecânicos, que explica os fenômenos por meio de sua relação causal.
Na Europa, durante o século XVII, haviam máquinas onde a água corria em tubulações subterrâneas operando bonecos mecânicos geravam uma variedade de movimentos por meio de seus mecanismos, inclusive algumas delas reproduziam sons semelhantes a palavras. A maioria dessas máquinas eram construídas para as diversões da aristocracia.
Neste período, o relógio mecânico era considerado "a mãe das máquinas", e os relojoeiros foram os primeiros a aplicar teorias da física e da mecânica a guindastes. Galileu e Newton entendiam que tudo o que existe era composto de átomos que se afetam mutualmente por conta do contato direto, portanto todo efeito físico era consequência de uma causa, podendo ser previsível.
Desta maneira, se os cientistas conhecessem as leis de funcionamento do universo seria possível determinar como o universo se comportaria no futuro. A ciência se desenvolveu rapidamente juntamente com a tecnologia, a observação, a experimentação e a medição. Foram criados e aperfeiçoados vários equipamentos de medição para alcançar o máximo de precisão.
Uma máquina muito importante no século XVII foi o relógio, tão importantes quanto os celulares em nosso tempo. Enquanto as fontes movidas por tubulações eram acessíveis apenas a um pequeno número de pessoas, que tinham um alto poder aquisitivo, os relógios eram acessíveis a uma maior parcela da população.
Por conta da regularidade, precisão e visibilidade, o relojoeiro era entendido com o fabricante desta precisão, tal como Deus para com o mundo, os relojoeiros construíam as peças com tamanha precisão que o relógio alcançava um perfeito funcionamento. Se o universo era semelhante a uma máquina, os seres humanos também passaram a ser considerados do mesmo modo.
As pessoas e os animais passaram a ser entendidos como máquinas, pelo viés do mecanicismo, com estruturas bem organizadas, previsíveis, observáveis e mensuráveis. Entre os séculos XVII e XIX há uma grande tendência a conceber os seres humanos e os animais como máquinas. O método científico possibilitava entender seus funcionamentos.
René Descartes entendia que não era possível alcançar a verdade pura por meio de seus sentidos. Sua filosofia é chamada de Cartesianismo, termo derivado de Cartesius, seu nome em latim. Entendido como o pai da filosofia Moderna, teve enorme interesse pela matemática e criou a geometria analítica, de onde se originam as coordenadas e curvas cartesianas.
Descartes negou a filosofia escolástica dogmática e iniciou sua filosofia por meio da dúvida. Trata-se do famoso "Penso, logo existo", onde ao duvidar de tudo se percebe que ainda há algo que não pode ser duvidado, a existência de um sujeito que dúvida, portanto ele afirma existência do questionador como sua primeira certeza.
Seu objetivo era utilizar o método matemático para todas as áreas do conhecimento humano, entendendo a mente como um manipulador que movimentava os cordões do corpo, portanto a mente exerce um controle sobre o corpo, propondo uma filosofia dualista, que separa mente e corpo, uma dualidade física-psicológica.
Seu objetivo era utilizar o método matemático para todas as áreas do conhecimento humano, entendendo a mente como um manipulador que movimentava os cordões do corpo, portanto a mente exerce um controle sobre o corpo, propondo uma filosofia dualista, que separa mente e corpo, uma dualidade física-psicológica.
O corpo era entendido como composto de matéria física, que ocupava uma extensão no espaço, que se movimentava conforme as leis da física e da mecânica, buscando explicar o funcionamento fisiológico em termos de física. Ele entendia que o corpo funcionava exatamente como uma máquina, e seu funcionamento poderia ser descrito em termos mecânicos.
Com tais perspectivas, Descartes, juntamente com Galileu, inauguram a revolução científica moderna, propondo um novo modelo de ciência e de entendimento sobre o ser humano, tendo influenciado muitas linhas de psicologia, sobretudo aquelas embasadas no positivismo e de tendência causalista.
Por Bruno Carrasco, terapeuta, professor e pesquisador, graduado em Psicologia, licenciado em Filosofia e Pedagogia, pós-graduado em Ensino de Filosofia, Psicoterapia Fenomenológico Existencial e Aconselhamento Filosófico. Nos últimos anos se dedica a pesquisar sobre filosofia da diferença e psicologia crítica.
Referências:
BOCK, Ana M. Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, M. de Lourdes. Psicologias - uma introdução ao estudo de psicologia. São Paulo: Saraiva, 2002.
FIGUEIREDO, Luiz Cláudio; SANTI, Pedro Luiz. Psicologia, uma (nova) introdução. São Paulo: Educ, 2004.
SCHULTZ, Duane; SCHULTZ, Sydney. História da Psicologia Moderna. São Paulo: Cultrix, 1992.