Com uma estética pós-moderna, o livro 'O Meio são as Massa-gens', escrito pelo filósofo, educador e comunicólogo canadense Marshall McLuhan, com ilustrações de Quentin Fiori, possibilita - entre outras coisas - uma reflexão sobre as relações entre a percepção e os meios de comunicação e informação que nos afetam.
Um olhar penetrante sobre o mundo atual e as mudanças nas relações e nos meios de informação e comunicação, avaliando o que se está acontecendo. A tecnologia está reformulando e reestruturando as relações e a interdependência social, desde os mais sutis aspectos da vida pessoal. Essas mudanças exigem um reexame sobre o pensamento e as instituições.
Publicado em 1969, este livro já comentava sobre a "Aldeia Global", referindo-se a possibilidade de se intercomunicar diretamente com qualquer pessoa - comparando hoje à comunicação via internet. Além disso, trata sobre o impacto sensorial diante das distintas possibilidades de interpretação de mensagens por conta dos diferentes meios tecnológicos, e como estes "massageiam" as mensagens que recebemos.
O meio, ou processo, de nosso tempo - de tecnologia elétrica - está remodelando e reestruturando padrões de interdependência social e todos os aspectos de nossa vida pessoal. Por êle somos forçados a reconsiderar e reavaliar, práticamente, todos os pensamentos, tôdas as ações e tôdas as instituições anteriormente aceitos como óbvios. Tudo está mudando - você, sua família, sua vizinha, sua educação, seu emprêgo, seu govêrno, sua relação com os "outros". E essa mudança é dramática.
É impossível compreender as transformações sociais e culturais sem o conhecimento de como funcionam os meios.
A nossa "Idade da Angústia" é, em grande parte, o resultado de se tentar cumprir as tarefas de hoje com as ferramentas de ontem - com os conceitos de ontem.
O nosso é o tempo de romper barreiras, de suprimir velhas categorias - de fazer sondagens em tôdas as direções. Quando dois elementos, aparentemente disparatados, são equilibrados, justapostos de modo nôvo e único, frequentemente acontecem surpreendentes descobertas.
"O Meio são as Massa-gens" é uma vista de olhos para ver o que está acontecendo.
Nosso nôvo ambiente compele à participação e ao engajamento. Hoje em dia estamos irrevogavelmente envolvidos com, e responsáveis por, cada um dos outros.
Todos os meios agem sobre nós de modo total. Eles são tão penetrantes que suas consequências pessoais, políticas, econômicas, estéticas, psicológicas, morais, éticas e sociais não deixam qualquer fração de nós mesmos inatingida, intocada ou inalterada. O meio é a massa-gem. Toda compreensão das mudanças sociais e culturais é impossível sem o conhecimento do modo de atuar dos meios e como meio ambiente.
a roupa é um prolongamento da pele
Os meios, ao alterar o meio ambiente, fazem germinar em nós percepções sensoriais de agudeza única. O prolongamento de qualquer de nossos sentidos altera nossa maneira de pensar e de agir - o modo de perceber o mundo.
O órgão dominante de orientação social e sensorial nas sociedades anteriores ao alfabeto era o ouvido - "ouvir era crer". O alfabeto fonético forçou o mundo mágico da audição a ceder lugar ao mundo neutro da visão. O homem recebeu um ôlho em troca do ouvido.
O passado foi embora naquela direção. Quando confrontados com uma situação inteiramente nova, tendemos a ligar-nos aos objetos, ao sabor do passado mais recente.
Olhamos o presente através de um espelho retrovisor. Caminhamos de costas em direção ao futuro.
Os meios ambientais são invisíveis. Suas regras básicas, sua estrutura penetrante e seus padrões gerais são inacessíveis à percepção fácil.
O poeta, o artista, o detetive - quem quer que aguce nossa capacidade de perceber tende a ser anti-social; raramente "bem ajustados", não podem seguir as correntes e tendências. Um estranho vínculo existe entre os tipos anti-sociais por sua capacidade de "ver" os meios ambientais como êles realmente são. Essa necessidade de contrapor, de confrontar os meios ambientais com uma certa fôrça anti-social, é manifesta na famosa história "As Novas Roupas do Rei". Os cortesãos "bem-ajustados", por terem interêsses a defender, viam o Rei belamente ataviado. O fedelho "anti-social", não condicionado pelo antigo meio ambiental, viu claramente que o Rei estava nu. O nôvo meio ambiental era claramente visível para êle.
Nossa cultura oficial se esforça para obrigar os novos meios a fazerem o trabalho dos antigos.
Atravessamos tempos difíceis, pois somos testemunhas de um choque de proporções cataclísmicas entre duas grandes tecnologias. Abordamos o nôvo com o condicionamento psicológico e as reações sensoriais antigas. Êsse choque sempre se produz em períodos de transição. Nos últimos tempos da arte medieval, por exemplo, constatamos o temor da nova tecnologia da imprensa expressar-se no tema da Dança da Morte. Nos dias de hoje o mesmo temor se manifesta no Teatro do Absurdo. Ambos representam um fracasso idêntico: a tentativa de realizar uma tarefa exigida pelo nôvo meio ambiental com instrumentos do antigo.
O ouvido não tem preferência particular por um "ponto de vista". Nós somos envolvidos pelo som. Êste forma uma rêde sem costuras em tôrno de nós. Costumamos dizer: "A música encherá o ar." Nunca dizemos: "A música encherá um segmento particular do ar."
Ouvimos sons vindos de tôda parte, sem jamais haver um foco. Os sons vêm de "cima", de "baixo", da "frente", de "trás", da "direita", da "esquerda". Não podemos fechar a porta aos sons automàticamente. Simplesmente não possuímos pálpebras auditivas. Enquanto o espaço visual é um continuum organizado de uma espécie uniformemente interligada, o mundo auditivo é um mundo de relações simultâneas.
O sistema de circuitos elétricos confere uma dimensão mítica a nossos atos individuais e grupais comuns. Nossa tecnologia nos força a viver miticamente, mas continuamos a pensar fragmentàriamente, e em planos únicos e separados.
A guerra total, verdadeira, tornou-se a guerra de informação.