Iluminismo, liberalismo e ciência

A Liberdade guiando o povo, Eugène Delacroix, 1830

A partir do século XIX, o homem passa a ser tomado como objeto de estudo da filosofia e das ciências, mesmo período onde aparecem as ciências humanas, como a Sociologia, a História, a Psicologia, a Antropologia e a Geografia, ambas permeadas por uma noção iluminista, liberalista e positivista a respeito das pessoas e da vida.

O Iluminismo é um movimento intelectual e filosófico que surge na Europa entre os séculos XVII e XVIII, que acreditava no papel da razão e do conhecimento para entender o mundo e possibilitar uma vida melhor. Tratava-se de um entendimento e, ao mesmo tempo, uma valoração sobre a vida. No mesmo período em que a classe burguesa estava em ascensão.

"Um novo objeto de estudos começa a se desenhar no horizonte: o próprio homem. Uma nova ‘ciência’ começa a se impor: a História. Os homens percebem, através do estudo do seu passado, que a massa de conhecimentos adquiridos pode ser utilizada e posta a serviço do seu próprio bem-estar. Surge, por conseguinte, como um corolário necessário de todas estas descobertas, um novo mito, um novo ideal, uma nova ideia reguladora, ou seja, a ideia de Progresso."
(Luiz Fortes, em ‘O Iluminismo e os reis filósofos’)

Neste momento houve uma grande expansão do capitalismo, contrariando a monarquia e o absolutismo no campo político e econômico. O Iluminismo exaltava a confiança na razão a partir dos avanços técnicos, passando a olhar para o ser o humano e para o mundo como algo a ser estudado e modificado segundo interesses específicos.

Entre os valores burgueses defendidos pelos liberalistas estavam a liberdade para trabalhar e adquirir bens, igualdade jurídica e o aparecimento da ideia de direito natural, a partir de uma noção que começa a despontar de natureza humana, onde a liberdade está atrelada ao dever; uma maior tolerância com relação às diferentes crenças religiosas e filosóficas, para que não atrapalhassem as relações comerciais.

O liberalismo exaltava o pensamento autônomo, o estabelecimento do contrato social entre homens livres, exaltando o indivíduo humano. Na política defendiam o direito à propriedade privada, os direitos naturais, a proteção dos bens e das liberdades individuais. Acreditavam ser possível conhecer a realidade e intervir nela, defendendo a possibilidade de se reorganizar o mundo e a vida.

O Iluminismo exaltava a importância da razão, entendendo que a ilusão e o erro são mais fáceis de imperar do que a verdade e o acerto. O termo "iluminar" tinha o sentido de libertar as pessoas de medos irracionais, superstições e crendices, além de questionar tradições, entendendo que a razão pode ser utilizada para questões práticas.

A imaginação passa a ser vista como erro ou sonho, de todo modo um empecilho para o desenvolvimento da ciência moderna. A matemática é entendida como um fundamento seguro por suas características de exatidão e precisão, regularidade e constância. Na física buscam-se as leis naturais sobre o funcionamento do mundo e seres. De modo geral, o conhecimento passa a ser usado como controle e previsão da vida.

É neste período que acontece a Revolução Francesa, um dos eventos históricos recentes de maior importância, ocorrido entre 1789 e 1799, que gerou um enorme impacto na Europa a partir de agitação política e social na França e do colapso da monarquia absolutista. A revolução fez desmoronar os antigos ideais da tradição e da hierarquia absolutista, instaurando a Primeira República francesa, influenciando as repúblicas no ocidente, bem como as democracias liberais, o secularismo e a ideologia burguesa.


Por Bruno Carrasco, terapeuta, professor e pesquisador, graduado em Psicologia, licenciado em Filosofia e Pedagogia, pós-graduado em Ensino de Filosofia, Psicoterapia Fenomenológico Existencial e Aconselhamento Filosófico. Nos últimos anos se dedica a pesquisar sobre filosofia da diferença e psicologia crítica.

Referências:
FORTES, Luiz Roberto. O Iluminismo e os Reis Filósofos. São Paulo: Brasiliense, 1993.
GHIRALDELLI Jr, Paulo. História Essencial da Filosofia. Vol. 3. São Paulo: Univ. dos Livros, 2010.
MARCONDES, Danilo. Iniciação à História da Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.
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