Enquanto perspectiva política, propõe a superação do modelo de sociedade vigente, controladora e centralizadora do poder, em favor da autogestão e de uma sociedade livre, pautada na cooperação e colaboração mútua entre os indivíduos que podem se associar livremente.
Anarquia não é bagunça nem ordem, mas uma perspectiva que toma a liberdade como princípio, reconhecendo o indivíduo sem representantes ou delegações. Além disso, não há apenas um anarquismo, mas vários anarquismos. O termo "anarchos", em grego, significa a ausência de um governo, autoridade ou superiores.
Combatendo o Estado e as instituições, os anarquistas sugerem a criação de comunidades e associações livres e autônomas. Cada comunidade e indivíduo é livre para determinar seus modos de vida, sem a intervenção de outrem, onde as minorias têm o direito de discordar e de fazer diferente.
"Eu aceito de coração o lema — 'O melhor governo é aquele que menos governa'; e eu gostaria de ver isso agindo mais rápida e sistematicamente. Levada a cabo, chega-se finalmente a isto, o que também creio: — 'O melhor é o governo que não governa de modo algum'; e quando os homens estiverem preparados para isso, esse será o tipo de governo que eles terão."
(Henry Thoreau, em 'Desobediência Civil')
Essa liberdade implica em aceitar a responsabilidade com todas as suas consequências, sem designar ela a terceiros. Trata-se de uma ação direta, onde cada pessoa faz o que tem a ser feito não como um indivíduo isolado, mas sempre num contexto social, com todas as suas implicações.
O anarquismo nos convida a pensar e agir livremente, por conta e risco, para organizar a própria vida e a comunidade de seu modo, entendendo que só podemos ser livres se os outros forem também. É livre associação, contrário à propriedade privada, em favor do coletivismo.
De modo geral, os anarquistas buscaram entender os funcionamentos do poder, para encontrar mecanismos de resistência ao poder em todas as suas manifestações. Por isso, defendem uma sociedade que não dependa de um governo, sem o exercício da autoridade de uns sobre os outros.
Anarquista é aquele que deseja que cada pessoa possa fazer suas escolhas livremente, priorizando uma sociedade que não dependa de um governo, sem o exercício da autoridade, uma comunidade livre e permissiva quanto aos diferentes modos de ser. Neste sentido, o anarquismo não é uma resposta, mas uma inquietação, uma busca e uma curiosidade.
“O estado seria substituído por uma federação livre de associações autônomas que desfrutariam de liberdade de separação e garantiriam uma total liberdade pessoal.”
(Caio Costa, em 'O que é Anarquismo')
Em suma, os anarquistas criticam a dominação e a exploração capitalista, o Estado, a religião, a educação, a mídia, a dominação de classe, o imperialismo e as dominações de gênero e classe. As saídas encontradas para tais críticas são a autogestão, o livre acesso aos bens e à cultura, a socialização da propriedade e dos meios de produção e o autogoverno democrático.
Neste sentido, cada pessoa seria juiz de suas próprias necessidades. A libertação, antes de ser coletiva e material, seria individual e mental. Max Stirner propôs um anarquismo onde cada pessoa avalia as coisas a partir de si mesma, proclamando sua soberania, podendo constituir com outros indivíduos que pensam como si uma união de egoístas, sem normas ou regras, para questões de interesse comum.
Stirner negou todas as instituições, as leis naturais e os conceitos abstratos como "homem" e "humanidade", defendendo a soberania do indivíduo. Segundo ele, cada indivíduo era único, sugerindo que cada pessoa cultive sua singularidade, não devendo exercer seu poder sobre outro em hipótese alguma. Cada indivíduo é livre para se unir ou se separar de outros indivíduos.
Entre os anarquistas mais conhecidos estão Max Stirner (1806-1856), Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865), Henry David Thoreau (1817-1862), Mikhail Bakunin (1814-1876), Liev Tolstoi (1828-1910), Piotr Kropotkin (1842-1921), Errico Malatesta (1853-1932), Emma Goldman (1869-1940), José Oiticica (1882-1957), John Cage (1912-1992) e Noam Chomsky (1928-).
Por Bruno Carrasco, terapeuta, professor e pesquisador, graduado em Psicologia, licenciado em Filosofia e Pedagogia, pós-graduado em Ensino de Filosofia, Psicoterapia Fenomenológico Existencial e Aconselhamento Filosófico. Nos últimos anos se dedica a pesquisar sobre filosofia da diferença e psicologia crítica.
THOREAU, Henry. A Desobediência Civil. Porto Alegre: L&PM, 2018.