Psicofármacos ou psicotrópicos são medicamentos que atuam diretamente no Sistema Nervoso Central (SNC), modificando algumas áreas específicas, estimulando ou deprimindo de maneira seletiva a atividade mental. São usados geralmente no tratamento de transtornos psíquicos.
A psicofarmacoterapia têm sido muito utilizada na atualidade para o tratamento de diversas psicopatologias, auxiliando na redução dos sintomas e possibilitando outras formas de tratamento. Apesar disso, o tratamento com psicofármacos possui limitações, pois não acessam elementos mais amplos que constituem o sofrimento mental e emocional. Por isso, o uso de medicamentos costuma ocorrer em conjunto com outras práticas terapêuticas, como a psicoterapia.
O tratamento de um transtorno mental é realizado por um médico com especialização em psiquiatria, sendo definido a partir de aspectos biológicos, psicológicos e sociais, com base no diagnóstico e na identificação dos sintomas. Não há medicação psicotrópica que seja igualmente eficaz para todos os pacientes com o mesmo diagnóstico, a eficácia dos medicamentos são parcialmente previsíveis, variando conforme as características individuais de cada paciente.
A escolha do medicamento a ser utilizado depende de cada caso, dependendo da avaliação individual do médico, considerando o perfil e a gravidade dos sintomas, além de características como a idade, a presença de comorbidades psiquiátricas e clínicas, a presença de problemas físicos, o uso de outras medicações com as quais a nova medicação possa interagir, as características clínicas, os efeitos colaterais, a tolerância do paciente para com as medicações, a história prévia do transtorno psiquiátrico e resposta a tratamentos anteriores, além da resposta a tratamentos em familiares.
Depois da escolha do medicamento, o clínico elabora um plano terapêutico que envolve o tratamento da fase aguda, a manutenção e medidas para prevenir de recaídas, estabelecendo as doses que serão receitadas em cada uma destas fases, o tempo necessário e os critérios para avaliar a efetividade ou não do fármaco, e a recomendação ou não de outras estratégias terapêuticas. Com estas decisões, o psiquiatra apresenta seu plano terapêutico ao paciente.
Todo tratamento medicamentoso possui efeitos colaterais, alguns são transitórios e costumam acontecer nas primeiras semanas do tratamento, como náusea, cefaleia e tontura; outros são duradouros e permanentes, como ganho de peso e disfunção sexual. Quando o efeito adverso se tornar duradouro e incômodo, o ideal é reduzir as doses se o paciente estiver estável ou substituir o medicamento por outro psicofármaco, que ofereça menos efeitos colaterais.
Em termos gerais, os psicofármacos podem ser divididos em quatro categorias: antidepressivos; antipsicóticos; estabilizadores do humor e ansiolíticos. Esta divisão tem um sentido muito mais didático por ser um tanto arbitrária e apresentar limitações, pois psicofármacos de uma classe podem ser utilizados para tratar sintomas psiquiátricos atribuídos à outra classe.
Os antidepressivos alteram a concentração de substâncias como a serotonina, noradenalina e dopamina, visando minimizar os sintomas e recuperar a capacidade funcional e social das pessoas. Esses medicamentos começaram a ser produzidos na década de 1950, fazendo com que a depressão passasse a ser entendida como uma condição passível de tratamento, de 1990 em diante o número de prescrições desses medicamentos aumentou de maneira muito intensa.
Os efeitos colaterais mais comuns dos antidepressivos são: boca seca, constipação intestinal, retenção urinária, visão turva, hipotensão ortostática, sedação, ganho de peso, sudorese, distúrbios de memória, ansiedade e inquietude, náuseas, dor epigástrica, vômitos e diarreia, diminuição do apetite, disfunção sexual, aumento da pressão arterial, cefaleia, síndrome de retirada, insônia, tonturas e tremores. Alguns antidepressivos tricíclicos, em doses acima dos níveis terapêuticos, podem causar taquicardias e arritmias, podendo ser fatais.
Os antipsicóticos são substâncias que reduzem delírios e alucinações, sintomas de psicose. São indicados para tratamento da esquizofrenia, transtornos delirantes, psicoses agudas, transtornos esquizoafetivos, episódios agudos de mania com sintomas psicóticos ou agitação, transtorno bipolar, depressão psicótica, psicoses induzidas por drogas, psicoses cerebrais orgânicas, controle da agitação e da agressividade em pacientes com retardo mental ou demência, transtorno de tourette e transtorno de personalidade borderline.
Os efeitos colaterais comuns à maioria dos antipsicóticos são distúrbios motores extra-piramidais (parksonismo, distonias e discinesias tardias) e distúrbios endócrinos (hiperprolactinemia, galactorréia, amenorreia, ginecomastia e diminuição da libido). Podem causar também boca seca, visão turva, constipação intestinal, hipotensão ortostática, tontura, taquicardia, sedação e sonolência, diminuição do limiar convulsivo, agranulocitose, ganho de peso, entre outros.
Os estabilizadores de humor são medicamentos utilizados para manter estável o humor de pacientes com situações clínicas como o transtorno bipolar. Alguns dos efeitos colaterais ou tóxicos dos estabilizadores de humor são ganho de peso; náusea e vômitos, diarréia, pirose, toxicidade hepática, sonolência e sedação, disfunções da tireóide, tremores finos, ataxia, tonturas, alterações hematológicas, alopecia, reações dermatológicas, síndrome de Stevens-Johnson, alterações cardíacas, alterações renais, poliúria e polidipsia.
Os ansiolíticos são usados para reduzir a ansiedade, em situações como transtorno de ansiedade generalizada, no transtorno de pânico, fobia social, insônia, dependência ao álcool, delirium tremens, agitação, epilepsia e acatisia. Os principais efeitos colaterais dos benzodiazepínicos, usados frequentemente como ansiolíticos, são: sedação, sonolência, fadiga, perda de memória, falta de coordenação motora, diminuição da atenção e da concentração, desinibição, descontrole e piora da apnéia do sono.
Estes efeitos adversos são potencializados quando utilizados juntamente com substâncias sedativas e depressoras do SNC, como o álcool, podendo gerar agitação, inquietude, irritabilidade, agressividade e psicose. Além disso, o uso crônico destas medicações, quando utilizados em doses elevadas e por longo tempo, costumam gerar tolerância e dependência, podendo provocar síndrome de abstinência, caso o medicamento seja suspenso de maneira abrupta.
O tratamento medicamentoso dos transtornos psiquiátricos pretende controlar sintomas agudos, restaurar o comprometimento e prevenir recorrência de novos episódios. O período inicial do tratamento costuma durar algumas semanas, por conta da demora dos efeitos terapêuticos da maioria dos psicofármacos e dos efeitos colaterais do período inicial. A duração do tratamento pode variar de meses a um prazo indefinido, pois muitos dos transtornos psiquiátricos podem ser crônicos e recorrentes.
Pacientes que interrompem o tratamento medicamentoso após a remissão de um episódio agudo de um transtorno psiquiátrico, apresentam risco aumentado de reincidência e reinternações, comparados aos pacientes que realizam o tratamento de manutenção de forma adequada. Portanto, a suspensão do tratamento psiquiátrico deve ser sempre planejada, monitorizada e gradual, conforme as recomendações do clínico que acompanha o tratamento.
A maioria dos pacientes se beneficiam com o tratamento de psicofármacos juntamente com a psicoterapia. Os resultados costumam ser mais rápidos e profundos do que aqueles com o uso da farmacoterapia de maneira isolada.
Por Bruno Carrasco, terapeuta, professor e pesquisador, graduado em Psicologia, licenciado em Filosofia e Pedagogia, pós-graduado em Ensino de Filosofia, Psicoterapia Fenomenológico Existencial e Aconselhamento Filosófico. Nos últimos anos se dedica a pesquisar sobre filosofia da diferença e psicologia crítica.