Pós-estruturalismo é um modo de fazer filosofia, incluindo literatura, arte, política, história, crítica cultural e sociologia, com uma posição divergente dos cânones da filosofia, da ciência e dos valores morais estabelecidos. Este modo de filosofar pode ser destacado com maior intensidade a partir da década de 1960, sobretudo entre filósofos como Gilles Deleuze, Jean-François Lyotard, Jacques Derrida e Michel Foucault.
Apesar de não ser um movimento com unidade, a maioria desses autores entendem que o conhecimento e os saberes são elaborados sempre num campo de possibilidades e limites, e que nunca é total, mas parcial e mutante, por isso os entendimentos são passíveis de mudança, até porque as estruturas observadas estão constantemente se transformando. Portanto, não se procura alcançar uma verdade última sobre qualquer coisa, pois tudo está em mutação, tanto as coisas quanto os entendimentos.
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Se difere das formas tradicionais de conhecimento, que visavam encontrar uma verdade ou unidade. Além disso, seus limites de conhecimento não são reconhecíveis, o limite é inapreensível, não há como identificá-lo, podemos apenas perceber seus efeitos. Por isso, o mais interessante seria alargar esses limites e encontrar outras áreas inexploradas, fazendo rupturas em nosso senso de linguagem e saber, ao invés de pretender compor uma totalidade de entendimento.
"(...) o pós-estruturalismo como uma total ruptura de nosso senso seguro do significado e referência na linguagem, de nosso entendimento, de nossos sentidos e das artes."
(Williams, em 'Pós-estruturalismo')
Os saberes que buscam alcançar "verdades fixas" ou uma "moral adequada" tanto em filosofia, como em política, sociologia, psicologia ou artes, carregam uma violência oculta, pois desejam efetivar tais "descobertas" para a vida. Para os autores pós-estruturalistas, a vida não é algo fixo e estável, e há sempre a possibilidade de romper e subverter as estruturas, até porque elas sempre estão se modificando.
Negando qualquer pretensão por verdade última, totalidade de saber ou entendimentos absolutos, destaca a mudança e as diferenças significativas que nas relações e saberes. Propõe uma nova noção de verdade, para além da coerência, identidade e referência, pois não se busca oferecer respostas definitivas. Não se coloca como uma filosofia que apenas responde perguntas, mas como uma prática para com a vida e a realidade, de abertura ao novo e à diferença, por meio de práticas críticas e criativas.
"Ele alerta contra a violência, às vezes ostensiva, às vezes oculta, de valores estabelecidos como uma moral estabelecida, um cânone artístico ou uma estrutura legal fixada."
(Williams, em 'Pós-estruturalismo')
Enquanto uma maneira revolucionária de pensar a história, o pós-estruturalismo não apenas problematiza os postulados anteriores, mas visa desfazer seu entendimento exclusivo de verdade. Tanto o indivíduo quanto os saberes ocupam lugares específicos em contextos históricos distintos. Os pós-estruturalistas são contrários à tendência de encerrar verdades e certezas absolutas, presentes no essencialismo, determinismo e naturalismo, reorientando as condições do pensamento da razão para o corpo e as estruturas mais amplas, visando suas mudanças ao invés de buscar noções fixas.
Os pensadores pós-estruturalistas problematizaram os fundamentos do pensamento filosófico tradicional, não apenas como uma forma de negação, mas visando explorar outras possibilidades de investigação filosófica, para além dos cânones da tradição, explorando perspectivas alternativas de pensamento. Segundo eles, a linguagem e os sistemas de significação não são fixos e estáveis, mas sim fluidos e mutáveis. Trata-se de um pensamento crítico, que questiona e contrapõe as verdades estabelecidas e suas estruturas de poder.
Mais interessante que a liberdade é a abertura. Ao invés da razão edificante, optam pelos processos de pensamento, onde nada é transcendente ou independente de sua história e de todas suas conexões e relações. Os valores e as verdades são imanentes, e nada pode ser perfeitamente bem-ordenado, nada tem um centro e uma margem bem delineadas, muito menos uma ordem fixa. Todo tipo de mensuração e ordenamento é transcendente ao mundo, a verdade é apenas uma perspectiva e não uma descrição fiel do real.
"O pós-estruturalismo é constantemente revivido pela abertura ao novo (à pura diferença). É oposto à qualquer certeza absoluta."
(Williams, em 'Pós-estruturalismo')
Os pós-estruturalistas destacam as múltiplas perspectivas e as distintas interpretações sobre algo, resistindo a qualquer tentativa de um descrição última e universal. Por isso, não defendem o modelo de ciência hegemônico que orienta nosso pensamento, mas dão importância a perspectivas mais estéticas, destacando a singularidade, a experiência, os desejos, e os sentidos mais amplos da linguagem. A ciência não é a única forma de encontrar verdades, aliás não há outro meio que seja, nem a soma de todos os possíveis.
O método científico vigente e mais comumente utilizado não é neutro, puro nem objetivo, a ciência muitas vezes se associa e reforça valores de uma sociedade e um modelo econômico específico. A arte, enquanto saber estético, se abre a distintos sensos de valor, se relacionando com a complexidade da vida em sua expressão própria, gerando múltiplos entendimentos e respostas criativas, se aproximando do caráter subversivo do conhecimento que não apenas busca entender, mas também criar, para além de verdadeiro ou falso, bom ou ruim, certo ou errado.
"O pós-estruturalismo não é contra isto e a favor daquilo - de uma vez por todas. Ele é pela afirmação de um poder produtivo inexaurível dos limites. Ele é subversão - que resulta positiva - das oposições estabelecidas."
(Williams, em 'Pós-estruturalismo')
Enquanto prática, o pós-estruturalismo é político, habilita uma mudança de nossos entendimentos de mundo, de nossa relação com o corpo, com os espaços e o inconsciente. O "virtual" parece uma alternativa interessante à noção de "possibilidade", que é imaginada sempre no campo do que já conhecemos, o virtual não se limita a probabilidades fixas, mas se abre ao desconhecido e à diferença ainda não percebida, mas talvez intuída, sentida, espontânea. De certo modo, o pós-estruturalismo é herdeiro de maio de 1968, em suas características de fluidez, resistência, revolução e desdobramentos de limites.
Por fim, o pós-estruturalismo pode ser pensado como um conjunto de experimentos sobre os entendimentos, saberes, conceitos e vida, visando subverter tais condições, onde cada mudança altera os entendimentos e as atividades, pois tudo está conectado, e cada alteração implica numa alteração do modo como as conexões se estabelecem. Somos uma rede de variações em transformações, as noções fixas sobre algo não passam de convenções temporárias.