David Cooper e a antipsiquiatria

David Cooper (1931-1986) foi um psiquiatra sul-africano que criticou o uso da psiquiatria como forma de controle das pessoas e dos comportamentos considerados indesejáveis, entendendo que a psiquiatria tradicional é muitas vezes utilizada como um meio de controle social. Ele propôs uma abordagem radical em psiquiatria em favor de uma mudança no modelo do tratamento oferecido.

Entre seus principais livros estão 'Psiquiatria e Antipsiquiatria', fundamental para a antipsiquiatria, que critica o paradigma da psiquiatria tradicional; 'A linguagem da loucura', onde discute como a linguagem é usada para perpetuar a opressão e como pode ser usada para libertar; 'O sentido da doença mental', onde questiona o sentido da saúde mental e como é influenciada por condições sociais e políticas; e 'Existencialismo e Políticas', que argumenta como o existencialismo pode ser usado enquanto uma filosofia de ação para mudança social.

Ele trabalhou em diversos hospitais e dirigiu a unidade experimental Villa 21, destinada a esquizofrênicos. Segundo ele, a psicose era resultado de problemas sociais e familiares. Em 1967 cunhou o termo "antipsiquiatria" para descrever sua oposição aos métodos da psiquiatria ortodoxa da época. A fenomenologia existencial de Jean-Paul Sartre, teve uma grande influência sobre Cooper, levando ele a lutar contra a opressão nos manicômios, em favor de relações mais libertárias.

Cooper questionou os fundamentos e a noção de saúde e doença mental, entendendo que não se refere apenas a questões médicas, mas se relaciona com interesses morais e políticos. Segundo ele, as condições como a opressão, a pobreza e a falta de liberdade, são as principais causas de sofrimento emocional e problemas mentais, e que a mudança dessas condições é essencial para ser possível proporcionar saúde mental. Ele é considerado um dos pensadores mais importantes da psiquiatria crítica.

"Acima de tudo, preocupei-me com a questão da violência na Psiquiatria e concluí que, talvez, a mais chocante forma de violência em psiquiatria é nada menos do que a violência da psiquiatria, na medida em que esta disciplina escolhe refratar e condensar sobre os pacientes que ela identifica a violência sutil da sociedade e que, com demasiada frequência, representa para e contra esses pacientes."
(David Cooper, em 'Psiquiatria e Antipsiquiatria')

Ele propôs uma perspectiva revolucionária, entendendo a mudança social e política como uma condição necessária para alcançar a saúde mental. Segundo ele, as instituições servem a um propósito de controlar os indivíduos, sendo as principais fontes de sofrimento e alienação na sociedade, e é necessário superá-las para alcançar liberdade e realização pessoal, se colocando em favor de por novas formas de relacionamento, baseadas na igualdade, na liberdade e na autonomia de todos.

Sua abordagem antipsiquiátrica enfatiza a mudança social e política como meio de lidar com as chamadas doenças mentais, ao invés de recorrer a medicamentos ou tratamentos invasivos. Em seu livro Psiquiatria e Antipsiquiatria, escrito em 1967, ele critica a psiquiatria tradicional, argumentando que é utilizada como uma forma de opressão para controlar comportamentos considerados indesejáveis de certas pessoas, com o intuito de controlar os divergentes.

O livro discute sobre o papel da psiquiatria na sociedade, e como ela é usada para controlar indivíduos e grupos considerados desviantes. Ele também critica a forma como a psiquiatria é utilizada para justificar a exclusão social e a opressão de grupos marginalizados. Enfim, trata-se de uma crítica radical ao sistema psiquiátrico tradicional, defendendo uma mudança social e política para lidar com os sofrimentos emocionais.

Além disso, Cooper entende que a linguagem é usada para perpetuar e justificar a opressão, onde os termos usados para descrever as pessoas mantém estereótipos e estigmas. A mudança na linguagem é, portanto, fundamental para se transformar as relações entre a sociedade e as pessoas que vivenciam o sofrimento emocional. A linguagem pode ser usada para controlar pessoas, também pode ser usada para libertá-las, desmascarando as implicações políticas e sociais para alterar as relações de poder.

Ele também discute como o existencialismo pode ser usado como uma filosofia da ação, para mudar a sociedade, pois oferece uma compreensão profunda a respeito da condição humana, propondo uma perspectiva crítica sobre a existência humana, de modo a desafiar as estruturas sociais e políticas opressivas e construir novas formas de vida, mais livres e criativas.

"Em outras palavras, temos de seguir o que a pessoa faz com o que é feito a ela, o que ela faz do que ela é feita. Cada um desses termos - "o que ela faz", "o que é feito a ela", "do que ela é feita" - pode ser, individualmente, objeto de uma investigação analítica."
(David Cooper, em 'Psiquiatria e Antipsiquiatria')

O existencialismo pode ser usado para superar a alienação e a desesperança, favorecendo o encontro com a liberdade e a realização pessoal. Cooper propõe uma abordagem que busca transformar a sociedade através da mudança individual. Por isso ele ficou conhecido por se posicionar em favor da luta contra a opressão da psiquiatria tradicional.


Por Bruno Carrasco, terapeuta, professor e pesquisador, graduado em Psicologia, licenciado em Filosofia e Pedagogia, pós-graduado em Ensino de Filosofia, Psicoterapia Fenomenológico Existencial e Aconselhamento Filosófico. Nos últimos anos se dedica a pesquisar sobre filosofia da diferença e psicologia crítica.

Referências:
COOPER, David. Psiquiatria e antipsiquiatria. São Paulo: Editora Perspectiva, 1982.
OBIOLS, Juan. Psiquiatria e antipsiquiatria. Rio de Janeiro: Salvat, 1981.
SERRANO, Alan Indio. O que é psiquiatria alternativa. São Paulo: Brasiliense, 1992.

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