Penso, logo existo em Descartes

O método cartesiano foi elaborado pelo filósofo e matemático francês René Descartes (1596-1650), no século XVII, quando buscava estabelecer um fundamento sólido e seguro para o conhecimento, por meio do qual seria o pressuposto para toda sua produção filosófica posterior.

Seu método tinha como característica o uso da dúvida metódica, onde se duvidava de tudo o que se pode duvidar, especialmente daquilo que temos acesso a partir dos órgãos do sentido. Após eliminar todas as dúvidas possíveis, segundo o filósofo, alcançamos as verdades fundamentais e incontestáveis.

Descartes colocou em dúvida tudo o que conhecia e percebia - o mundo, seu corpo, os objetos, suas crenças e saberes, até perceber que mesmo duvidando de tudo, algo permanecia. Sem ter certeza de qualquer coisa em sua volta, o que lhe restava era o ato de duvidar, portanto, o pensamento ("cogito").

A partir da dúvida metódica, o filósofo percebeu que muitas de suas opiniões tinham sentidos enganosos ou ideias falsas. Apesar disso, ele constatou que algo não pode ser duvidado, o ato de duvidar. Mesmo que todas suas ideias fossem enganosas, ele não poderia duvidar que estava duvidando.

Deste modo ele elabora sua máxima "Cogito, ergo sum", traduzida por "Penso, logo existo", entendendo que o ato de pensar depende de um sujeito que pensa, de um "eu pensante", sendo esta sua primeira verdade inquestionável, que pensamos (duvidamos) e que há um sujeito pensante.

Segundo o filósofo, seu método permite o contato com as ideias claras e distintas, que não podem ser facilmente contestadas, podendo estas serem reconhecidas como verdades confiáveis e utilizadas como referências e bases para a elaboração do conhecimento.

O "cogito" é um elemento fundamental para Descartes, que representa o ponto de partida seguro de todo o conhecimento. É partindo da certeza da existência do pensamento e de um ser pensante, que se pode partir para elaborar uma base sólida para o entendimento da realidade.

Por isso, ele ficou conhecido como um filósofo racionalista, por defender e priorizar a razão como um meio seguro para adquirir conhecimentos, diferente de John Locke (1632-1704), que entendia que todo conhecimento parte da experiência. Além disso, o conhecimento para ele deve ser sistemático e dedutivo.

Descartes desenvolveu sua teoria do conhecimento racional, partindo da dúvida metódica até alcançar saberes indubitáveis. Sua sentença "penso, logo existo", descreve que o ato de pensar atribui uma existência (se penso, existo), sendo este ponto fundamental para o conhecimento a ser edificado.

Seu método propõe quatro princípios: a evidência - entender como verdadeiras apenas as ideias claras, descartando as opiniões e crenças; a análise - onde se divide os problemas em diversas questões mais elementares; a síntese - parte-se dos problemas mais simples aos mais complexos; e a enumeração - visar o necessário para resolução de um problema sem deixar nada de lado a respeito dele.

"A evidência, que consiste em julgar como verdadeiras unicamente as ideias claras e distintas, colocando à distância as opiniões coletadas por ouvir dizer; deve-se admitir como verdade apenas as ideias das quais não é permitido duvidar. A análise, pela qual os problemas são divididos em outras tantas questões elementares e separadas. A síntese pela qual se vai do mais simples e do mais fácil aos mais compostos por um rigoroso encadeamento. A enumeração, consiste em pesquisar os elementos necessários à solução de um problema sem nenhuma omissão."
(Jacqueline Russ, em 'Filosofia: os autores, as obras')

Portanto, o filósofo constatou a existência do pensamento a partir do ato de duvidar. Seu método da dúvida metódica, da priorização da razão e do sujeito pensante teve enorme impacto na filosofia e na ciência moderna, influenciando o modo como entendemos o mundo e a nós mesmos.


Referências:
ABRÃO, B (org.). História da Filosofia - pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 2014.
CASSIRER, E. Antropologia Filosófica: ensaio sobre o homem. São Paulo: Mestre Jou, 1977.
RUSS, Jacqueline. Filosofia: os autores, as obras. Petrópolis, RJ: Vozes, 2015.
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