Como funciona o Fanatismo?

Fanatismo é a uma devoção excessiva e uma disposição irracional por uma causa, ideia, pessoa, grupo ou ideologia, muitas vezes acompanhado de uma intolerância extrema com relação às pessoas que pensam diferente. Esse fenômeno social e psíquico se manifesta na religião, na política, nos esportes, entre outros.

De modo geral, os fanáticos tendem a se dedicar de maneira inabalável à sua causa, sem colocar em questão as suas crenças, ignorando quaisquer evidências contrárias, rejeitando outras perspectivas distintas. Esse comportamento pode levar a atitudes extremistas de intolerância, até mesmo ações prejudiciais em nome da causa que estão apoiando.

As pessoas fanáticas são mais propensas a gerar conflitos violentos, por conta de sua falta de empatia, respeito e compreensão pelas opiniões divergentes das suas. O fanático se fecha numa ideia, tomando esta como a verdade única, muitas vezes tentando conduzir outras pessoas para sua causa, quando não consegue acaba por eliminar o outro, por se sentir ameaçado por tudo que abala suas crenças.

Entre as características do fanatismo estão a dedicação excessiva a uma causa, ideia, líder ou ideologia; a intolerância, falta de aceitação e respeito pelas opiniões, crenças e perspectivas diferentes das suas; hostilidade com relação a quem não compartilha de suas convicções; inflexibilidade, por considerar suas próprias crenças inquestionáveis e inabaláveis, recusando quaisquer evidências contrárias.

O fanatismo pode levar a um comportamento irracional, ações impulsivas e até mesmo violentas para defender suas causas, pode gerar também um isolamento social. Em muitos casos o fanatismo carrega uma noção de "nós" contra "eles", tendendo a enxergar o mundo de maneira polarizada, dividindo as pessoas dois grandes grupos: aqueles que compartilham suas crenças e aqueles que não compartilham.

"O fanático transforma a percepção e o conhecimento da realidade para adaptá-la a suas necessidades e desejos conscientes e inconscientes. Ele tem certeza absoluta de que possui a Verdade, que é única. Fatos que não coincidem com ela são negados ou transformados de forma a confirmarem a organização fanática."
(Roosevelt Cassorla, em 'Fanatismo e negacionismo')

Muitos dos indivíduos que se identificam fortemente com uma causa, ideologia, grupo ou líder podem buscar esse envolvimento por necessidades emocionais. Tal identificação oferece um senso de pertencimento e propósito, uma sensação de identidade e um direcionamento para suas vidas. Algumas pessoas sentem necessidade de certezas absolutas, e o fanatismo pode oferecer explicações simples e pouco refletidas para questões complexas e incertas, gerando uma sensação de controle e estabilidade.

Por vezes, o medo de ser excluído ou de se sentir diferente de um grupo pode levar uma pessoa a se aproximar do pelo fanatismo, buscando evitar sua rejeição. Fazer parte de um grupo fanático pode proporcionar interações sociais satisfatórias, que reforçam os comportamentos e as crenças do indivíduo, fazendo com que se sinta mais conectado ao grupo, na medida que reforça seu pertencimento.

Muitos líderes carismáticos se aproveitam dessas características psicológicas das pessoas, exercendo uma influência significativa sobre seus seguidores, utilizando técnicas de persuasão, de carisma e manipulação emocional para reforçar o comportamento fanático. Além disso, criam uma narrativa que identifica os inimigos comuns para fortalecer a coesão do grupo e consolidar as crenças compartilhadas.

As pessoas que se engajam em movimentos fanáticos costumam obter recompensas psicológicas e emocionais, como gratificação, senso de realização e aumento da autoestima, o que pode reforçar o comportamento fanático. O fanatismo também pode ser atraente para as pessoas que buscam explicações simples e nada críticas perante a complexidade e o absurdo do mundo e das relações.

O fanatismo pode ser muito prejudicial tanto para os fanáticos quanto para a sociedade em geral, pois gera intolerância, hostilidade e discriminação a pessoas com crenças diferentes, criando divisões e conflitos entre grupos; dificulta o diálogo construtivo e a resolução pacífica de conflitos, por conta da rigidez e da falta de abertura para diferentes pontos de vista. Em alguns casos, o fanatismo pode levar a violações dos direitos humanos, quando fanáticos impõem suas crenças de maneira coercitiva, discriminatória ou violenta sobre outros.

As pessoas envolvidas numa causa ou ideologia com características fanáticas tendem a alimentar preconceitos contra aqueles que não compartilham de suas crenças, incluindo discriminação racial, religiosa, de gênero ou orientação sexual. Há circunstâncias em que o fanatismo pode levar à rejeição da evidência científica, prejudicando a compreensão e aceitação de descobertas importantes para a sociedade.

Essa devoção excessiva a uma causa pode levar também à perda da individualidade, pois os indivíduos acabam configurando suas identidades com base nas crenças do grupo, resultando numa conformidade cega a seus valores e preceitos, renunciando seus valores pessoais. O fanatismo dificulta a coexistência pacífica com a diversidade, pois os extremos ideológicos desconsideram os princípios de respeito mútuo.

Enfim, o fanatismo é um fenômeno complexo que envolve questões sociais, psicológicas, emocionais e culturais. Pode se apresentar de maneira mais intensa em uma pessoa ou grupo, ou mesmo diante de um momento específico. Sua dinâmica pode variar dependendo do contexto, mas é importante lembrar que nem todas as pessoas envolvidas em causas fervorosas se incluem nas características mencionadas.

Compreender o fanatismo é crucial para lidar com suas consequências e promover um diálogo mais construtivo e aberto, que possibilite a tolerância e a compreensão. Promover o diálogo sem julgamentos, a reflexão, a empatia e o pensamento crítico podem ajudar a diminuir os efeitos negativos do fanatismo.


Por Bruno Carrasco, terapeuta e professor, graduado em psicologia, licenciado em filosofia e pedagogia, pós-graduado em ensino de filosofia, psicoterapia fenomenológico-existencial e aconselhamento filosófico.

Referências:
CASSORLA, Roosevelt. Fanatismo e negacionismo. ALTER – Revista de Estudos Psicanalíticos, v. 37(1), 113-128, 2021/2022.
DANZMANN, P. S.; SILVA, A. C. P. da; CARLESSO, J. P. P. As implicações do fanatismo em diferentes contextos na atualidade: contribuições da Psicanálise. Society and Development, 9(6), 2020.

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