Estoicismo é uma vertente de filosofia que se iniciou na Grécia, por volta do século III a.C., por Zenão de Cítio, onde propõe a tranquilidade da alma e a ausência de perturbações, por meio da aceitação das circunstâncias externas e da prática da virtude. Essa filosofia teve grande destaque no período romano, com filósofos como Sêneca (4a.C.-65d.C.), Epicteto (50d.C.-138) e Marco Aurélio (121d.C.-180).
Entre as principais características do estoicismo estão a virtude como bem supremo, a aceitação de tudo o que está fora de nosso controle, o autodomínio das emoções, viver a vida conforme a natureza e a ordem universal, uma postura de indiferença com relação às adversidades da vida, o exercício prático do autoexame e autotransformação de si.
Os estoicos acreditavam que a virtude era o único verdadeiro bem e que todas as outras coisas, como saúde, riqueza e fama, eram indiferentes. Eles defendiam uma atitude de aceitação com relação aos eventos externos que estão além do nosso controle. Segundo esta filosofia, devemos nos preocupar apenas com aquilo que podemos controlar, como nossas próprias escolhas e ações.
Outra importante característica do estoicismo consiste no cultivo do autocontrole sobre as emoções, não permitindo que elas nos dominem. Trata-se de reconhecer e lidar com emoções como a raiva, o medo e a tristeza de uma maneira racional e equilibrada. Os estoicos acreditavam que viver conforme a natureza humana significava viver com razão e agir, segundo os princípios éticos universais.
Por conta disso, os estoicos encorajavam a prática da indiferença emocional em relação às adversidades e dificuldades da vida, acreditando que era possível encontrar serenidade interior mesmo diante de circunstâncias desafiadoras. Eles valorizavam a prática do autoexame e da autotransformação como ferramentas para desenvolver a virtude e alcançar a sabedoria da vida.
Com o passar dos anos, o estoicismo se tornou uma filosofia muito influente, com aplicações tanto na vida pessoal quanto na política e na psicologia. Ainda hoje, os ensinamentos estoicos continuam a inspirar muitas pessoas a viver uma vida com propósito e serenidade. Inclusive, podemos pensar no estoicismo como uma filosofia terapêutica.
"Os estoicos preocupavam‑se intensamente, tal como outros filósofos da altura, com a pergunta: o que é necessário para viver a melhor vida possível? Se os humanos conseguissem responder a essa pergunta, acreditavam eles, poderíamos então florescer e viver vidas felizes e tranquilas — ainda que o mundo parecesse louco e descontrolado. Isto fez do estoicismo uma filosofia extremamente prática."
(Fideler, em 'Estoicismo e a arte da felicidade')
Tal terapêutica propõe não uma consulta com um terapeuta, mas uma prática de si, no sentido de uma autoterapia, por se dedicar a uma autopercepção e a uma transformação pessoal por meio do autocontrole e da aceitação do que não pode ser alterado. Esses princípios podem ser aplicados como uma forma de atuação sobre si, para lidar com os desafios da vida e alcançar um bem-estar emocional.
O estoicismo nos ensina a aceitar as circunstâncias externas que não podemos controlar. Isso pode ajudar a reduzir a ansiedade e o estresse relacionados à preocupação com coisas que estão além do nosso controle. Os estoicos enfatizam a importância de viver no presente e não se preocupar muito com o passado ou o futuro. Isso pode ajudar a reduzir a ruminação de eventos passados e a ansiedade sobre eventos futuros.
Sua prática propõe a não deixar que as emoções negativas, como raiva e tristeza, controlem nossas vidas, enfatizando uma busca pela tranquilidade interior e a serenidade, mesmo diante das adversidades. Tomar uma certa distância de nossos sentimentos mais intensos pode nos ajudar a lidar de maneira mais pudente diante de momentos e situações difíceis, sem que estejamos tão agitados emocionalmente.
"Lembra que não é insolente quem ofende ou agride, mas sim a opinião segundo a qual ele é insolente. Então, quando alguém te provocar, sabe que é o teu juízo que te provocou. Portanto, em primeiro lugar, tenta não ser arrebatado pela representação: uma vez que ganhares tempo e prazo, mais facilmente serás senhor de ti mesmo."
(Epicteto, em 'Manual de Epicteto')
Além destas lições, o estoicismo nos ensina a antecipar e nos preparar para os desafios da vida, em vez de ser pego de surpresa por eles. Todos esses princípios do estoicismo podem ser aplicados em nossa vida cotidianamente, como uma forma de autoterapia, de modo a promover o bem-estar emocional e a resiliência diante dos desafios da vida.
Referências:
EPICTETO. Manual de Epicteto: a arte de viver melhor. Trad.: Edson Bini. 1 ed. São Paulo: Edipro, 2021.
FIDELER, David. Estoicismo e a arte da felicidade: conselhos práticos de Sêneca para viver com mais sabedoria, coragem, moderação e justiça. Editora Nascente. 2022.