O que é Epistemologia?

A epistemologia é um ramo da filosofia que estuda a natureza, a origem, os fundamentos e os limites do conhecimento. Este termo deriva das palavras gregas "episteme", que significa ciência, e "logia" que corresponde a conhecimento ou estudo. Assim, a epistemologia é, essencialmente, a ciência do conhecimento.

Há diversas questões que permeiam a epistemologia, entre elas: O que é conhecimento? Como adquirimos conhecimento? Quais os critérios que determinam algo como verdadeiro ou falso? Quais os limites do conhecimento? Podemos conhecer tudo? De onde se origina o conhecimento? Há uma essência do conhecimento? Quais as formas de conhecimento possíveis?

A teoria do conhecimento, ou a epistemologia, busca compreender como é possível o conhecimento sobre algo, entendendo que cada conhecimento parte sempre de uma série de pressupostos e condições. Deste modo, constata que há diferentes entendimentos possíveis sobre um mesmo fenômeno, buscando compreender como se constituiu e quais os parâmetros de cada entendimento.

"É o estudo geral dos métodos, história, critérios, funcionamento e organização do conhecimento sistemático, seja ele especulativo (teologia e filosofia) ou científico. (...) designaremos Teoria do Conhecimento a disciplina filosófica que estuda as condições de possibilidade de todo e qualquer conhecimento (não somente o científico), a saber: a possibilidade de conhecer, a origem do conhecimento, a essência do objeto do conhecimento, os tipos de conhecimento e os métodos de obtenção de conhecimento."
(Gustavo Castañon, em 'Introdução à Epistemologia')

Há três grandes campos de atuação da epistemologia: um deles consiste na crítica ao conhecimento científico, incluindo seus aspectos teóricos, éticos e morais; o segundo se refere à filosofia da ciência, que busca examinar os distintos métodos científicos; e, por fim, a história das ciências, que estabelece uma análise estrutural do surgimento e desenvolvimento de cada forma de conhecimento.

Na Grécia Antiga, Platão entendia que o mundo que vivemos era falso e apenas constituído de aparências, e que a verdade estaria num outro plano, que podemos acessar ela apenas a partir das ideias. Aristóteles, que foi seu aluno, entendia que o conhecimento deveria partir da matéria, para daí buscar sua essência. Deste momento em diante, muitas outras teorias foram surgindo.

Durante a Modernidade, René Descartes entendia que o conhecimento partia da razão, independente da experiência, sua vertente ficou conhecida como racionalismo. Contrapondo esta tendência, o empirismo de John Locke inverteu os polos, entendendo que não há conhecimento possível sem uma experiência anterior. Com isso seguimos um jogo de gato e rato, onde ora se priorizava o sujeito, outra o objeto.

O filósofo britânico David Hume questiona a validade do processo de inferir princípios gerais a partir de casos particulares. Segundo ele, não há uma justificativa racional para a crença de que o futuro será semelhante ao passado, se colocando cético quanto ao conhecimento científico. Além disso, ele questionou a ideia de uma identidade pessoal constante, entendendo que o "eu" era apenas um feixe de percepções em constante mudança.

O filósofo alemão Immanuel Kant tentou resolver essa questão, propondo uma mudança no jogo, ele entendeu que o conhecimento se constitui tanto da experiência quanto da razão, inclusive constatou que há limites no que podemos conhecer. Outro filósofo alemão, Karl Marx, propôs o materialismo histórico-dialético, concebendo que só podemos compreender a partir da história das relações materiais de trabalho e de produção de necessidades, e que a história se modifica por suas contradições.

Diferente deste, o francês Auguste Comte reduziu o entendimento apenas ao que é mensurável e objetivo, ao que pudesse ser medido e quantificado, propondo um culto à ciência positiva, fazendo desta sua religião. Diferente dele, Edmund Husserl criticou o cientificismo com sua proposta fenomenológica, entendendo ser impossível uma distinção entre sujeito e objeto, para ele os dois se constituem mutuamente, sem que um tenha prioridade sobre o outro.

Karl Popper entendia que a ciência avança não pela verificação, mas pela falsificação de hipóteses. Segundo ele, uma teoria é científica se puder ser refutada por observações empíricas. Thomas Kuhn entendia que a ciência avança por meio de revoluções paradigmáticas, onde um paradigma científico dominante é substituído por um novo após uma crise.

O filósofo Gaston Bachelard introduziu o conceito de ruptura epistemológica, que implica que o progresso científico ocorre mediante descontinuidades e transformações radicais no pensamento, em vez de um desenvolvimento linear e acumulativo. Ele argumentou que novas teorias científicas rompem frequentemente com os conceitos e métodos anteriores, em vez de simplesmente expandi-los.

Michel Foucault investigou as condições históricas que possibilitavam o surgimento de diferentes formas de conhecimento e como são estruturadas pelo discurso. Entendeu que o que consideramos como verdades científicas e sociais são, na verdade, resultados de práticas históricas específicas e contingentes, desafiando a ideia de verdades universais e atemporais.



Por Bruno Carrasco, terapeuta e professor, graduado em psicologia, licenciado em filosofia e pedagogia, pós-graduado em ensino de filosofia, psicoterapia fenomenológico-existencial e aconselhamento filosófico. Pensa as questões psicológicas a partir de um viés filosófico, histórico e social. Nos últimos anos se dedica a pesquisar sobre filosofia da diferença e psicologia crítica.

Referências:
CASTAÑON, Gustavo. Introdução à Epistemologia. São Paulo: EPU, 2007.
CHINAZZO, Suzana Salete. Epistemologia das ciências sociais. Curitiba: Intersaberes, 2013.
DUTRA, Luiz Henrique. Teoria do conhecimento. Florianópolis: USFC, 2008.

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