Críticas ao conceito de doença mental

O que entendemos por "doença mental" não é uma descoberta da medicina, da psiquiatria ou psicologia, mas uma criação discursiv sobre uma apreciação de uma série de condições comportamentais e emocionais, percebidas como "doentias". 

Por que num certo momento da história, o comportamento “desviante” passa a ser entendido como um problema, sendo diagnosticado e tratado, sendo o tratamento uma espécie de ajustamento da pessoa a um modelo de vida específico? 

A psiquiatria é uma ciência recente, e o conceito de doença mental não tem mais de 200 anos. Não é algo natural, mas uma disposição historicamente determinada, com intuitos específicos.

O surgimento da psiquiatria não parte de uma teoria ou de uma ciência, mas de uma necessidade disciplinar e institucional, de organizar diferentes pessoas visando um modelo de normalização específico. Todo o saber produzido sobre a loucura, é, na verdade, uma maneira de dominar e controlar a loucura.

A loucura percebida como doença mental legitimou uma série de práticas institucionais sobre o louco, o diferente, o excêntrico, sobre todos aqueles arredios à norma. Critérios diagnósticos, determinação de intervenções e noções de saúde mental se adequam a uma necessidade institucional.

Quando rotulam alguém como doente mental, estão na realidade declarando que essa pessoa apresenta comportamentos que contrariam a conveniência social, e que este precisa de um tratamento. O diagnóstico de doença mental não parte de uma verificação física da pessoa, mas da avaliação de seus comportamentos.

A diferença ou loucura quando percebida como doença mental legitima um conjunto de práticas por uma rede de profissionais e assistência, orientados a partir da noção de normalidade e cura, identificando uma incapacidade e irresponsabilidade do sujeito doente.

Não é à toa que a maioria dos diagnósticos psiquiátricos correspondem a comportamentos que diminuem a produtividade da pessoa no trabalho ou que se relacionam à indisposição para atividades em grupo. O tratamento serve geralmente a realocar o paciente na engenharia social, para ser um bom funcionário, útil e dócil.

O discurso psiquiátrico está carregado de um desejo de controle, repressão e dominação, onde até mesmo atividades comuns e dificuldades propriamente humanas são avaliadas como problemas mentais, e submetidos a tratamentos, que na realidade são práticas de ajustamento social.


Por Bruno Carrasco, terapeuta e professor, graduado em psicologia, licenciado em filosofia e pedagogia, pós-graduado em ensino de filosofia, psicoterapia fenomenológico-existencial e aconselhamento filosófico. Pensa as questões psicológicas a partir de um viés filosófico, histórico e social, pesquisando sobre filosofia da diferença e psicologia crítica.


Referências:

COOPER, David. Psiquiatria e Antipsiquiatria. Tradução: Regina Schnaiderman. São Paulo: Editora Perspectiva, 1982.

HEATHER, Nick. Perspectivas Radicais em Psicologia. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1977.

SERRANO, Alan Indio. O que é Psiquiatria Alternativa. São Paulo: Brasiliense, 1992.

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